Qual o lugar mais frio do universo?

Dominic Albuquerque
A Nebulosa do Bumerangue é o lugar mais frio do universo, quando se trata de localizações naturais. Imagem: NASA, ESA e The Hubble Heritage Team

O lugar mais frio do universo se localiza a 5.000 anos-luz da Terra, na constelação de Centaurus, e se chama Nebulosa do Bumerangue, devido ao seu formato. A temperatura lá é tão fria que as partículas alcançam o mínimo quântico de velocidade, onde não há um calor interno a ser absorvido por elas.

A temperatura alcança um grau Kelvin, ou -272.15 graus Celsius. Isso é quase o zero absoluto, de -237 graus Celsius, onde todo o movimento atômico se interrompe devido ao processo de resfriamento extrair toda a energia das partículas.

Na Nebulosa do Bumerangue, o lugar mais frio do universo, a temperatura é mais fria do que a temperatura de fundo do próprio espaço, que se acredita ser em torno de -270.7 graus Celsius.

Desde sua descoberta, observações feitas por astrônomos revelaram que a nebulosa é uma nebulosa protoplanetária, fase onde há uma estrela parecida com o Sol, no ápice do seu tempo de vida, quando o centro aproxima-se do seu fim e expande a nebulosa, causando um rápido derramamento de gás.

Esse derramamento está expandindo a cerca de 498.897km/h, e resfriando-se no processo. Isso é similar ao princípio que os refrigeradores usam para expandir o gás e produzir temperaturas frias.

Os pesquisadores conseguiram mensurar a temperatura do gás na nebulosa ao observar como ele absorvia as micro-ondas de radiação, que possuem uma temperatura muito uniforme de -270.56 graus Celsius.

O lugar mais frio do universo e suas características

O lugar mais frio do universo é observado há décadas, tanto em sua forma quanto composição e estrutura. As observações analisaram o formato e expansão da nebulosa, observando que as moléculas de monóxido de carbono na nuvem da nebulosa se encontravam na forma de ampulheta nas regiões internas.

Mais ao exterior, então, as moléculas se encontravam num formato arredondado. Enquanto isso, os grãos de poeira em torno da estrela, que são visíveis em comprimentos de onda milimétricos, cobriam parte da luz da estrela em comprimentos de onda visíveis, fazendo-a se parecer com uma ampulheta.

“Quando os astrônomos observaram esse objeto em 2003 com o Hubble, eles viram uma forma bem clássica de ‘ampulheta’”, disse Raghvendra Sahai, um pesquisador do Jet Propulsion Laboratory da NASA. “Muitas nebulosas planetárias possuem essa mesma aparência de lobo duplo, que é o resultado de fluxos de gás sendo ejetados da estrela em alta velocidade. Os jatos então escavam buracos na nuvem de gás circundante que foi ejetada pela estrela anteriormente, no seu período de gigante vermelha”.

Os pesquisadores usando o telescópio Atacama Large Millimiter/submillimeter Array (ALMA), no Chile, também descobriram uma faixa densa de grãos de poeira com tamanho milimétrico cercando a estrela, o que explica o motivo da nuvem externa possuir uma forma de ampulheta quando vista em luz visível.

Os grãos de poeira criam uma cobertura que sombreia uma porção da estrela central e permite que sua luz escape apenas em direções estreitas e opostas para a nuvem, originando a forma de ampulheta.

As transformações na nebulosa

Os astrônomos dizem que a Nebulosa do Bumerangue está numa trajetória para se tornar uma nebulosa planetária, onde a estrela central se torna então uma anã branca, fazendo com que a nebulosa brilhe.

Até então, a Bumerangue é a única nebulosa protoplanetária que conhecemos a ter alcançado uma temperatura abaixo da que existiu no período após a explosão do Big Bang.

A fase de nebulosa protoplanetária é um período curto no ciclo da evolução estelar, e não tem nada a ver com planetas. Durante alguns milhares de anos, os restos quentes da estrela envelhecida no centro da nebulosa se aquecem, excitando o gás, e fazem com que uma nebulosa planetária subsequente comece a brilhar.

O curto período de vida da nebulosa protoplanetária significa que há uma pequena porção delas existindo ao mesmo tempo. Além disso, elas são muito ofuscadas, requerendo telescópios poderosos para serem vistas.

Essa combinação de características fez com que elas só fossem descobertas recentemente. A Nebulosa do Ovo, a primeira a ser descoberta, só foi vista há menos de 40 anos atrás.

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