Neuritina: a possível solução para alergias intratáveis

Mateus Marchetto
Proteína do sistema nervoso pode fornecer insights para o tratamento de alergias. (Imagem de cenczi por Pixabay)

Se você já tirou o pó de um móvel, ou comeu certa comida, e acabou espirrando e se coçando, provavelmente você faz parte dos 20% da população mundial que têm algum tipo de alergia. Em geral, as alergias são condições crônicas que dificilmente têm cura e acabam acompanhando uma pessoa pelo resto da vida. Assim, a única intervenção química para aliviar os sintomas são os antialérgicos.

No entanto, pesquisadores descobriram uma proteína que pode abrir o caminho para um tratamento mais eficaz de alergias – a neuritina. E o melhor: o próprio corpo pode produzir essa molécula. De forma geral ela está presente no sistema nervoso e está relacionada à memória e ao aprendizado. Estudos de 2018, contudo, já haviam mostrado que a neuritina poderia ter um papel interessante em combater alergias. Nesse viés, um artigo publicado no último dia 11 mostrou que a neuritina pode mesmo reduzir reações alérgicas, sem necessidade de fármacos.

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(Imagem de Hans Braxmeier por Pixabay)

Para a pesquisa, os cientistas usaram ratos de laboratório e dados de pacientes com casos crônicos de alergias. Uma parte dos ratinhos foram geneticamente modificados para ter uma deficiência em células T foliculares regulatórias (Tfr). Estas últimas produzem a proteína neuritina no corpo. Os ratos com menos neuritina, portanto, apresentaram reações alérgicas muito mais severas e letais.

Como funcionam as alergias e como funciona a neuritina

Sempre que uma molécula estranha entra no seu corpo – uma proteína, vírus, bactéria, DNA e etc – os linfócitos do seu corpo produzem uma resposta de proteção. Os linfócitos são células que circulam pelo corpo e, quando encontram um antígeno (molécula estranha), eles produzem anticorpos. Os anticorpos, por sua vez, são proteínas que vão atacar a molécula estranha e destruí-la. Acontece que o sistema imune pode se confundir, e acabar atacando suas próprias moléculas, causando uma reação autodestrutiva – uma alergia.

Ademais, numa reação alérgica, os anticorpos do tipo IgE (Imunoglobulina E) se ligam as células do tecido e fazem com que elas liberem compostos para combater o que quer que seja que tenha invadido o corpo. Assim, durante uma reação alérgica, ocorre uma produção desnecessária de IgE, que também desencadeia um aumento da histamina circulando no sangue. As histamina, por conseguinte, causa os sintomas frequentes de coceiras, nariz escorrendo, vômito e dificuldade para respirar. Antialérgicos, aliás, também são chamados de antiestamínicos por esse motivo.

Acontece que a neuritina apresentou uma relação com a redução da produção de IgE e histamina, diminuindo portanto a severidade da reação. Essa característica pode abrir o caminho para novas terapias imunes mais eficazes e seguras.

O estudo está disponível no periódico The Cell.

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