Por que botamos a língua para fora quando estamos concentrados?

Mateus Marchetto
Imagem: Beth Rankin / Pixabay

Muitas pessoas têm o hábito de colocar a língua para fora da boca ou fazer caretas quando se concentram. Em crianças, especialmente, é mais fácil de notar esse tipo de movimento facial. Nesse sentido, pode haver um motivo evolutivo e cognitivo para mostrarmos a língua quando nos concentramos.

Uma das regiões do cérebro humano responsáveis pela linguagem, no giro frontal inferior, tem também funções relacionadas ao movimento e destreza, sobretudo das mãos. Assim, uma das teorias que sugerem o motivo de mostrarmos a língua é a sobreposição destas duas funções no cérebro, principalmente quando usamos as mãos.

De acordo com uma pesquisa de 2019, publicada no periódico Frontiers in Psychology, essa sobreposição acontece por um extravasamento motor (do inglês, motor overflow). Assim, a atividade dos neurônios motores relacionados às mãos causam um efeito colateral de espelhamento do movimento na língua e na boca.

A relação entre linguagem e mostrarmos a língua

Esta sobreposição entre movimento da boca e das mãos pode não acontecer por acaso no cérebro dos seres humanos. Uma das características da nossa espécie liga profundamente o movimento das nossas mãos e nossas bocas: a linguagem.

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Imagem: martha_chapa95 / Pixabay

Não apenas as mãos compõem a linguagem corporal, que é essencial para nossa comunicação, mas também é provável que as primeiras formas de comunicação entre os Homo sapiens dependiam do movimento das mãos.

Deste modo, ao longo de milhares de anos, as duas funções podem ter evoluído de forma correlacionada para compor a nossa linguagem. O fato de mostrarmos a língua durante atividades motoras ou de concentração foi apenas um efeito colateral inofensivo.

“É provavelmente por isso que você vê tantos gestos acontecendo quando falamos e por quê a visão é nossa principal ferramenta sensorial.”, afirma a especialista Gillian Forrester da Universidade de Londres, ao Live Science.

Forrester também participou de diversas pesquisas cognitivas que ressaltaram esse espelhamento de movimentos das mãos e da boca. A primeira vez que a cientista observou esse tipo de comportamento foi em um estudo sobre a origem do comportamento canhoto em crianças, de 2008. Nessa pesquisa, Forrester notou protrusões da língua consistentes no grupo de crianças.

Nas crianças, aliás, esse tipo de comportamento é mais evidente. Isso inclusive pode acontecer por motivos sociais ao invés de cognitivos. Isso porque colocar a língua para fora em momentos de concentração ou fazer caretas são hábitos socialmente reprimidos ao longo do crescimento.

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