Por que as formigas carregam folhas?

Spoiler: elas também são agricultoras.

Felipe Miranda
(Imagem: Pixabay).

Você já deve ter visto uma grande fileira de incontáveis formigas carregando folhas em suas costas. Qualquer gramadinho no seu bairro contém uma grande quantidade de formigas morando, então é pouco provável que você nunca tenha observado o fato, ao menos uma vez. Mas, então, por que as formigas carregam folhas?

Quando crianças questionam seus pais sobre isso, uma resposta muito comum é a de que as formigas estão levando as folhas para comer. Provavelmente a maioria das pessoas realmente pensa que elas comem a folha, já que é uma suposição um tanto plausível, pois comer folhas é um comportamento bastante comum entre insetos. No entanto, isso não é verdade.

Há duas funções das folhas na alimentação das formigas. Primeiro, elas utilizam as folhas para beber sua seiva. A seiva liberada pelas folhas após o corte, para elas, é uma fonte de energia. No entanto, as folhas em si não são consumidas. Mas então, por que as formigas carregam folhas?

por que as formigas carregam folhas
Por que as formigas carregam folhas? Imagem: Vanessa Salustriany

Afinal, por que as formigas carregam folhas?

Não, as folhas não servem como estrutura para construir uma cama ou um ninho, e nem utilizam as folhas para fabricar papel. No entanto, a utilização das folhas de árvores pelas formigas é bastante impressionante. Elas são utilizadas para o cultivo de um fungo dentro de seus ninhos, e é do fungo que elas se alimentam.

Sim, as formigas, de certa forma, dominam a agricultura, e isso desde antes do ser humano fazê-lo. Perdemos para elas? Os ser humano domina a agricultura há cerca de 12 mil anos. Já as formigas, por apenas 60 milhões de anos.

São verdadeiras fazendas. Elas levam as folhas para o ninho, limpam e cortam elas e as empilham para o fungo crescer. Além disso, as formigas espalham os esporos dos fungos para o multiplicar. Elas também carregam bactérias em seus corpos e as depositam sobre os fungos para protegê-los.

As formigas são animais extremamente civilizados, com verdadeiras cidades subterrâneas. Elas possuem hierarquias, são separadas por castas; há a rainha, os operários e os soldados, que cuidam da proteção (defesa e ataque) do formigueiro. As operárias cuidam da limpeza, organização, toma conta da cria e buscam alimentos. Já os soldados cuidam da entrada do formigueiro.

Atta colombica queen
Cultivo das formigas. A formiga gigante é a rainha. (Imagem: Christian R. Linder).

Estoque e mais estoque

Um ponto muito interessante sobre o cultivo das formigas foi descoberto por pesquisadores brasileiros e descrito em um estudo publicado no periódico Ethology em 2019, um grupo de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), em Piracicaba.

Os pesquisadores descobriram que as formigas são capazes de detectar a chegada de chuvas e ventos. Elas percebem quando há uma queda acentuada na pressão atmosférica; essa queda é associada, muitas vezes, à chegada de fortes ventos e de chuvas. Ao perceber a chegada o mal tempo, elas correm para estocar o material necessário para o cultivo do fungo.

“Descobrimos que a formiga cortadeira pode sentir mudanças na pressão atmosférica para antecipar o clima adverso e mudar sua estratégia de forrageamento” disse em um comunicado da Agência Fapesp o professor José Maurício Simões Bento à época do estudo.

“Muitas castas de formigas, como rainhas e jardineiros, bem como estágios imaturos, ficam dentro do ninho”, explica Bento. “As únicas castas que saem são as forrageiras, para cortar e transportar folhas, e os soldados, para defender a entrada da colônia”.

“Essas formigas cortadeiras cultivam o fungo para ter bastante alimento disponível, especialmente como reserva para períodos de escassez”, diz Bento.

“As formigas individuais percebem o advento da baixa pressão, e essa mudança desencadeia um aumento na eficiência do forrageamento. Elas individualmente começam a cortar e carregar mais folhas, e isso resulta em maior produtividade para o ninho como um todo”, explica o pesquisador à Agência Fapesp.

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