Pesquisadores perceberam um viés misterioso na pareidolia

Lorena Franqueto
Inúmeras representações da Pareidolia, composta por Jessica Taubert.

Quem nunca percebeu um rosto numa nuvem ou em algum outro objeto inanimado? A pareidolia é um fenômeno mental comum e caracterizada pela percepção errada de algum estímulo. Além disso, a percepção de rostos em coisas é tão natural nos humanos quanto nos chimpanzés. No entanto, uma nova pesquisa revelou que as caraterísticas faciais são apenas uma parte desse fenômeno. Isto é, segundo os autores, é possível imaginarmos, além do rosto, a idade, emoção e talvez até o gênero. Assim, eles perceberam um viés na pareidolia!

Uma das pesquisadoras de psicologia, Jessica Taubert, explicou “O objetivo do nosso estudo foi entender se exemplos de pareidolia de rosto carregam os tipos de sinais sociais que os rostos normalmente transmitem, como expressão e sexo biológico”.

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Imagem: Getty Images

Como aconteceu a pesquisa que identificou o viés na pareidolia?

Primeiramente, os estudiosos recrutaram mais de 3 mil pessoas para um experimento online e elas olharam mais de 200 fotos de rostos ilusórios. As imagens eram parte de acervos pessoais dos pesquisadores ou coletadas da internet. Na sequência, cada rosto imaginário recebia algumas classificações. Sendo elas: facilitada em identificar o rosto no objeto inanimado, numa escala de 1 a 10, supor a faixa etária e o gênero como “feminino”, “masculino” ou “neutro”.

Por fim, aconteceu a computação e a análise dos dados gerados por cada participante. Assim, os autores montaram histogramas que mostram a frequência de cada informação: a facilidade de identificação do rosto (A), a emoção percebida (B), a idade (C) e o gênero (D). A figura a seguir mostra cada um dos gráficos:

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Imagem: Wardle et al., “Illusory faces are more likely to be perceived as male than female”, PNAS, 2022

Grande parte dos integrantes disseram visualizar as imagens com facilidade, sendo a maioria interpretadas como rostos de crianças ou de jovens adultos. Na classificação “emoção”, ocorreu uma grande variação das frequências e uma ausência nos padrões. Ou seja, nenhuma emoção sobressaiu nas respostas, ao todo, foram 34% das imagens percebidas como felizes, 19% surpresas, 19% neutras e 14% irritadas.

Sendo assim, o que mais chamou à atenção dos estudiosos foi a interpretação do gênero nas imagens. Segundo eles, quase 90% dos rostos imaginários receberam a avaliação “masculino” e apenas 9% a classificação “feminina”. Por isso, os autores interpretaram esse dado como um viés na pareidolia.

Por que há maior percepção de os rostos imaginários masculinos?

Normalmente o cérebro humano cria atalhos para entender os estímulos visuais e interpretar os objetos de forma correta. No entanto, ocorrem falhas nessas percepções e é onde se encaixa a pareidolia, o que ocorre é uma espécie de enganação.

Para Taubert, “Agora temos evidências de que esses estímulos ilusórios estão sendo processados ​​pelo cérebro por áreas envolvidas na percepção social e na cognição, para que possamos usar a pareidolia facial para identificar essas áreas específicas”. Mas ainda não é possível há um maior viés masculino do que feminino.

Dessa forma, os pesquisadores conduziram outros experimentos em busca de uma resposta. Algumas das possibilidades levantadas foram: relação entre os gêneros do nome do objeto e a percepção do rosto, a influência das cores na análise e os formatos dos rostos, porém, não comprovaram nenhuma hipótese.

Portanto, não existe nenhuma certeza do que está causando o viés de percepção, mas os autores analisarão a relação das normas sociais com a interpretação de rostos imaginários num futuro próximo.

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