Pela segunda vez, um paciente parece ter se curado do HIV

Lorena Franqueto
Imagem: Pixabay

Em 1982, o Brasil registrou o primeiro caso de AIDS no país, uma doença causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (a sigla HIV vem do inglês). Sendo que, sua transmissão acontece por meio de seringas compartilhadas, mãe para filho durante a gestação ou amamentação e por relações sexuais sem proteção. Felizmente, recente estudo, da Annals of Internal Medicine, relatou uma possível cura da infecção pelo HIV numa paciente argentina.

Antes de apresentar os resultados do artigo, cabe ressaltar alguns detalhes:

  • Ter HIV não é o mesmo que ter AIDS! Isso porque algumas pessoas possuem o vírus, mas não desenvolvem sintomas ou a doença;
  • O HIV é um vírus do tipo retrovírus, ou seja, possui RNA como material genético, porém dentro das células transforma-o em DNA;
  • Esse vírus acomete células do sistema de defesa, principalmente, os linfócitos CD4+;
  • O Sistema Único de Saúde (SUS) fornece, tanto formas de diagnóstico, quanto o tratamento, para isso basta procurar um Centro de Testagem e Aconselhamento!

As análises por trás da possível cura da infecção pelo HIV:

Primeiramente, a possível causa de cura da infecção pelo HIV numa argentina aconteceu graças a uma detalhada investigação das características do vírus e do sistema imune da mulher. Os cientistas mensuraram a presença do vírus por meio de análise do genoma intacto e competente para replicação, além de análise do RNA.

Segundo os autores, a pessoa possui uma carga viral indetectável para o HIV tipo 1 (HIV-1) há 8 anos, mesmo sem a terapia antirretroviral. Por fim, o acompanhamento da paciente aconteceu com a participação de centros de saúde de Buenos Aires, Argentina, e de Boston, Massachusetts.

Em princípio, os pesquisadores avaliaram inúmeras células da paciente, porém não encontraram RNA do HIV-1 no plasma da paciente e ne genoma viral competente para replicação, apenas acharam traços defeituoso do vírus (chamados de provírus). Assim, essas observações sugerem que a paciente alcançou uma cura para infecção.

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Imagem por tomash40 disponível em Pixabay.

Os tipos de cura e os outros casos pelo mundo

Ao redor do mundo, apenas outro caso como esse aconteceu, com um mulher de 67 anos. Ambas ficaram conhecidas como controladoras de elite, porque atingiram a cura funcional mesmo sem uso de medicamentos. Sendo que, no meio acadêmico existem dois tipos de cura para a infecção contra o HIV.

Segundo Ricardo Diaz, infectologista na Unifesp: “a cura funcional é aquela em que você controla o vírus e não tem mais nenhuma evidência de que ele possa fazer algum mal à saúde“. Ainda nesses casos, os testes laboratoriais não identificam o vírus e, aparentemente, o mesmo não está se multiplicando no organismo.

Infelizmente, um controlador de elite ainda pode replicar o vírus em algumas situações, por isso o tratamento é recomendado e aconselhado mesmo nesses casos! Por isso, inclusive, a paciente argentina iniciou a terapia antirretroviral assim que engravidou em 2019.

Já a cura esterilizante, ainda conforme Diaz, “é quando ele [o paciente] se livra totalmente do vírus. Não é só o vestígio, mas a ausência completa do vírus e qualquer sinal do corpo de que possa ter o vírus

Tendo isso em vista, para o infectologista, o ocorrido com a argentina foi uma cura funcional, pois as pesquisadoras ainda identificaram provírus no organismo da paciente.

Mesmo assim, os achados foram muito positivos porque, ao entender os mecanismos utilizados por essas “controladores de elite”, é possível estender esses passos para novos tratamentos.

Por fim, o HIV é tão difícil de tratar porque pode passar anos “dormindo” dentro das células e assim o organismo não consegue eliminá-lo completamente. Com isso, o objetivo do tratamento contínuo é justamente matar os vírus que saem da latência.

O artigo completo está disponível em Annals of Internal Medicine.

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