Peixes sofrem “10 minutos de dor intensa” antes de morrer na pesca comercial

Um estudo recente revelou uma realidade perturbadora sobre o sofrimento dos peixes antes de morrerem após serem capturados. A pesquisa, publicada na Scientific Reports, demonstra que trutas arco-íris podem experimentar níveis intensos de dor por até 10 minutos durante o processo de asfixia por ar, método amplamente utilizado na indústria pesqueira.

Esta descoberta lança luz sobre uma questão ética frequentemente negligenciada: o bem-estar dos peixes durante o abate. Em um mundo onde 2,2 trilhões de peixes selvagens e 171 bilhões de peixes de criação são mortos anualmente para consumo humano, a magnitude do sofrimento animal torna-se ainda mais alarmante.

Para colocar esses números em perspectiva, aproximadamente 70 mil peixes são mortos por segundo globalmente. Isso equivale a eliminar todos os torcedores de um estádio de futebol lotado a cada segundo – considerando apenas os peixes selvagens.

Quantificando o sofrimento animal

O estudo utilizou o inovador Welfare Footprint Framework (WFF), desenvolvido pelo Center for Welfare Metrics, para medir objetivamente o tempo que os animais passam sofrendo. Esta metodologia permite atribuir valores temporais a experiências subjetivas, mesmo em animais que não conseguem comunicar sua dor de forma compreensível para humanos.

“Semelhante à análise do ciclo de vida, o WFF começa definindo o escopo da análise, seguido por um inventário das circunstâncias relevantes e seus resultados biológicos ao longo de um período de interesse”, explicam os autores no artigo. O método avalia o impacto no bem-estar estimando a intensidade e duração de cada experiência afetiva resultante.

O Dr. Wladimir Alonso, criador do método, destacou em comunicado que o “WFF fornece uma abordagem rigorosa e transparente, baseada em evidências, para medir o bem-estar animal e permite decisões informadas sobre onde alocar recursos para obter o maior impacto”.

Dor mensurável e alternativas

Os resultados são alarmantes: trutas arco-íris suportam, em média, 10 minutos de dor intensa durante a asfixia, com variações entre dois e 22 minutos dependendo de fatores como tamanho do peixe e temperatura da água. Isso equivale a aproximadamente 24 minutos de dor por quilograma de peixe.

O estudo também avaliou alternativas mais humanas, como o atordoamento elétrico, que poderia evitar entre 60 e 1.200 minutos de dor moderada a extrema para cada dólar americano investido. O atordoamento percussivo também apresenta alto potencial para melhorar o bem-estar, embora sua implementação consistente em ambientes comerciais ainda seja desafiadora.

Surpreendentemente, a pesquisa revela que atividades pré-abate frequentemente ignoradas, como o aglomeramento e transporte dos peixes, provavelmente causam sofrimento cumulativo ainda maior que o próprio processo de abate.