Retratado como um peixe super amigável em Procurando Nemo, da Pixar, o peixe-palhaço que vive em anêmonas-do-mar está, na verdade, entre os animais mais agressivos do planeta. Embora sejam fofos e coloridos – o que gera uma falsa ideia de amigabilidade – é sensato manter certa distância, visto que eles podem ser agressivos com humanos e até mesmo com peixes da sua própria espécie.
Desse modo, o peixe-palhaço comum (ocellaris) pode estar usando matemática básica para determinar se um peixe é inimigo ou não. Como pesquisas anteriores demonstraram, eles observam atentamente as características do peixe desconhecido.
Assim, caso não identifiquem as listras brancas verticais, típicas do peixe-palhaço comum, geralmente permitem que o novo peixe entre sem problemas. No entanto, se perceberem padrões semelhantes aos seus próprios, interpretarão isso como uma ameaça à sua residência e tomarão medidas para proteger seu território.
A questão levantada pelos cientistas agora é de que forma o peixe-palhaço reconhece indivíduos de sua espécie, tendo em vista a imensa diversidade e cor presente em seu habitat.
Experimento com peixe-palhaço
Publicado no Journal of Experimental Biology, o artigo apresenta uma nova pesquisa que sugeriu um comportamento curioso do peixe-palhaço, na medida em que ele não se limita a verificar se há listras em outros peixes, mas também as ‘conta’.
Para investigar mais a fundo, a equipe de pesquisadores criou um cardume de peixes-palhaço comuns – que têm três listras brancas verticais – de forma isolada, garantindo que eles nunca tinham visto nenhum peixe distinto de sua espécie.
Quando os peixes atingiram a idade de seis meses, os pesquisadores prepararam vários tanques equipados com câmeras para registrar as interações que ocorreriam dentro deles.
Inicialmente, eles colocaram 50 peixes-palhaço comuns em tanques separados e depois introduziram novos peixes-palhaço “recém-chegados”.
Além disso, incluíram peixes de outras três espécies: o peixe-palhaço gambá laranja, que é de cor laranja clara e possui uma única faixa branca que vai da cabeça até a nadadeira dorsal; o peixe anêmona de Clarke, que tem coloração preta e amarela com duas faixas verticais brancas; e o peixe-palhaço sela, que é preto e laranja e normalmente apresenta três manchas brancas verticais.
Maior agressividade com os iguais
Os pesquisadores notaram que o comportamento agressivo, como perseguição ou mordida, era mais frequente entre os peixes-palhaço comuns quando interagiam com outros de sua própria espécie, enquanto demonstravam menos agressividade em relação ao peixe-palhaço gambá laranja, devido à sua faixa horizontal única.
Já os peixes-palhaço Clarke e sela foram alvos de uma agressão mais branda. Esses resultados indicam que os peixes-palhaço comuns são capazes de reconhecer e reagir com mais agressividade em relação aos membros iguais.
Intensidade da agressão
Na sequência, os pesquisadores conduziram experimentos nos quais apresentaram pequenos grupos de três peixes-palhaço a diversas iscas feitas de resina, cada uma pintada com zero, uma, duas ou três listras. Eles descobriram que o número de listras na isca desempenhava um papel significativo na intensidade da agressão por parte dos peixes-palhaço.
Os resultados revelaram que os peixes-palhaço atacavam as iscas com três listras com uma frequência dez vezes maior do que aquelas sem listras, duas vezes mais frequentemente do que as com uma única listra e 1,3 vezes mais frequentemente do que as com duas listras.
Kina Hayashi, ecologista do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, no Japão, e principal autora do estudo, afirma que “Talvez existam outros fatores além das linhas verticais brancas que são importantes na discriminação das mesmas espécies […] Mas esta experiência pelo menos sugeriu que o número de linhas verticais brancas é importante para discriminar a mesma espécie e decidir se atacar ou não.”