Para procurar vida em Encélado, não podemos levar vida da Terra

Felipe Miranda
Concepção artística da Enceladus Orbilander. (Créditos da imagem: Johns Hopkins Applied Physics Laboratory).

Os protocolos de descontaminação são bastante exigentes quando nos referimos a naves espaciais que pousarão em outros planetas. Embora o caminho seja bastante nocivo para a vida, com o vácuo e a radiação do espaço, necessita-se ainda de muito cuidado para não contaminar outros locais. E para procurar vida em Encélado, um cuidado ainda maior. 

Encélado é uma gelada lua de Saturno. A lua faz parte de uma seleção de mundos promissores para a existência de vida no sistema solar. Em um primeiro momento, parece um deserto de gelo. No entanto, abaixo de todo esse gelo há um enorme oceano, cheio de complexidades. A atividade geológica e a presença de gêiseres são outros pontos favoráveis para a existência de vida, já que a vida precisa retirar a energia de algo.

Recentemente, então, uma equipe da Universidade Johns Hopkins, liderada pela cientista planetária Shannon MacKenzie, começou a trabalhar em um conceito de missão para Encélado. A ideia da missão é atender as necessidades de esterilização e capacidade de buscar vida com alguns poucos bilhões de dólares. Com isso, eles fizeram um estudo independente para entregar à NASA. 

O projeto chama-se, até o momento, Enceladus Orbilander. Com o próprio nome sugere, ele é um orbitador e um lander ao mesmo tempo. Após permanecer um tempo em órbita de Encélado, a sonda será capaz de pousar em algum ponto da lua para as buscas pela vida de forma mais detalhada. 

Encélado. (Créditos da imagem: NASA/JPL/Space Science Institute, Processed by Kevin M. Gill)

Pensando nos pontos

Conforme o Space.com, MacKenzie diz que os pontos principais que eles precisaram pensar foi a forma de manter uma altitude segura em órbita, segurança suficiente para não haver a necessidade de um pouso forçado em algum local delicado e o mais importante; o que fazer com a nave quando ela já tiver terminado a sua missão?

Os pontos que procuramos na lua são também os pontos fracos de lá. Encélado possui água, fontes de aquecimento e reações orgânicas. Esses são os requisitos principais para que a vida floresça. Mas, também, se você levar vida, ela pode prosperar. Até mesmo a vida macroscópica, com insetos, é potencialmente capaz de prosperar. Por isso que é necessário evitar poucos bruscos. Ela precisa ficar na superfície, e nunca entrar em contato com o oceano.

“Para um orbitador, você quer ter certeza de não impactar acidentalmente a superfície em alta velocidade e de alguma forma contaminar o oceano. Quando você é um módulo de pouso, não quer estragar o pouso e fazer a mesma coisa”, explica MacKenzie ao Space.com.

Além dos cuidados no local e processo de pouso, há outro grande problema se levarmos vida da Terra. Se formos para Encélado, queremos detectar vida. Mas como podemos garantir que a vida que detectarmos por lá não foi levada da Terra? Esse é outro importantíssimo ponto a ser pensado antes de enviar a nave para Encélado. Ninguém quer bilhões de dólares perdidos.

Em breve, próximo de 2030, uma missão para Encélado será enfim lançada. Até lá, portanto, esperaremos ansiosamente. “Esta missão está pronta, estamos prontos para fazer isso”, explica MacKenzie. “Não precisamos esperar por nenhum tipo de bala mágica”.

Com informações de Space.com.

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