Polvos sentem sabores ao tocar objetos com seus tentáculos

Cristina Dyna
Polvo no fundo do mar. (Pia/Pexels)

Os polvos são animais de corpo mole e flexíveis que se locomovem através de oito tentáculos. Estes seres utilizam suas ventosas presentes em seus tentáculos para sentirem objetos que tocam no fundo do mar. Entretanto, além do tato, os polvos sentem sabores com suas ventosas.

Entenda como os polvos sentem sabores

Cientistas há tempos sabem da capacidade dos polvos perceberem os objetos ao seu redor com os tentáculos. No entanto não estava claro ou comprovado que eles tinham também o poder de percepção de sabores.

Os polvos sentem sabores
Polvo atacando caranguejo (Peter Kilian/ Science Alert)

Então, pesquisadores da Universidade de Harvard se aprofundaram para encontrar respostas sobre as percepções dos polvos ao meio externo. Como resultado os estudiosos encontraram nas ventosas células especializadas nunca vistas em outros animais. Essas células consistem em finas ramificações presentes nas ventosas.

Dessa forma as células são consideradas células quimiossensoriais, as quais conseguem ter a dupla função de tato e paladar. Entretanto, essas células só conseguem disparar sua função de paladar quando estão perto o suficiente dos objetos, assim como a língua humana. Por outro lado as células quimiossensoriais conseguem perceber vários sabores, desde deliciosas presas, como peixes e caranguejos, até produtos químicos emitidos por presas tóxicas.

Como foi realizado o estudo

Em primeiro lugar os cientistas identificaram quais células presentes nas ventosas poderiam proporcionar aos polvos a sensação de sabores. Posteriormente as células foram isoladas e testadas a alguns estímulos, como extrato de peixe. A resposta foi que as células que responderam aos estímulos tinham receptores nunca encontrados em outros animais.

Para compreender como as células quimiossensoriais funcionavam os pesquisadores inseriram as células em ovos de rãs e em células humanas em laboratório. Em seguida o material foi submetido a moléculas diversas que os polvos podem encontrar no fundo do mar. Como resultado apenas os terpenóides, um tipo de molécula encontrada em muitos animais marinhos, causou respostas nas células. Os cientistas acreditam que os terpenóides auxiliam na defesa dos animais

Segundo a Science News “detectores terpenóides especializados podem indicar a um polvo que agarre rapidamente algo em que tocar para que não saia nadando ou se retire e continue procurando”. 

Os resultados foram impressionantes para os cientistas, pois o “estudo mostra que o polvo e, potencialmente, outros animais aquáticos, também podem detectar moléculas pouco solúveis de uma maneira dependente do contato”, disse o biólogo Nicholas Bellono a Science Alert.

Os polvos tem mini-cérebros fora de suas cabeças

Em conclusão, é intrigante saber que os polvos evoluíram de forma diferente dos outros cefalópodes (família de moluscos a que os polvos pertence). De acordo com a bióloga Rebecca Tarvin (Universidade da Califórnia) a lula provavelmente não tem o mesmo mecanismo de paladar que foi encontrado nos polvos.

Dessa forma podemos considerar que os polvos possuem em seus tentáculos mini-cérebros, independentes do restante de seu corpo, com receptores muito especializados. Isto pode explicar por quê “dois terços dos neurônios desses animais estão localizados em seus braços” (Ifl Sciece).

O biólogo molecular Nicholas Bellono e seus colaboradores da Universidade de Harvard realizaram e relataram essa pesquisa para a revista Cell em 29 de outubro de 2020 .

Compartilhar