Corpos de alpinistas mortos no Everest estão servindo como guias

Dominic Albuquerque
O Monte Everest é a maior montanha do mundo. Imagem: Pexels

Mais de 200 pessoas morreram no Monte Everest. Muitos dos alpinistas mortos no Everest agora servem como um guia durante a subida, assim como um lembrete dos riscos envolvidos.

O Monte Everest é a montanha mais alta do mundo. Desde 1953, quando Edmund Hillary e Tenzing Norgay escalaram o cume pela primeira vez, mais de 4.000 pessoas seguiram seus passos, enfrentando o clima desafiador e o terreno perigoso em busca de alguns momentos de glória.

Contudo, alguns deles nunca deixaram a montanha.

A porção superior, acima de 7.900 m, é conhecida como “zona mortífera”. Lá, os níveis de oxigênio são apenas um terço do que no nível do mar, e a pressão barométrica faz com que o peso se pareça dez vezes maior. A combinação desses dois fatores faz com que os alpinistas se sintam lentos, desorientados e cansados, e pode causar dano grave nos órgãos.

Por esse motivo, os alpinistas não costumam passar mais de 48 horas nessa região. Para os que acabam morrendo, seja nessa área ou em outra parte da montanha, o protocolo padrão é deixar os mortos onde eles ficaram.

Os alpinistas mortos do Everest que se tornaram marcos da montanha

Green Boots (“Botas Verdes”)

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Green Boots na caverna, antes da remoção. Imagem: Maxwell Jo/ Wikimedia Commons

Um dos corpos mais famosos dentre os alpinistas mortos no Everest, conhecido como Green Boots, fica no caminho da passagem para a zona mortífera. Sua identidade ainda é contestada, mas acredita-se que seja Tsewang Paljor, um alpinista indiano que morreu em 1996.

Antes da sua remoção recente, o corpo descansava próximo a uma caverna por onde todos os alpinistas devem passar antes de seguirem para o cume. O corpo se tornou um marco usado para mensurar a proximidade do ponto máximo da montanha.

Ele tem esse nome devido às botas, e é famoso porque cerca de 80% das pessoas que passam pela área descansava por onde ele estava.

Em 2006, outro alpinista se uniu a ele, sentado com os braços abraçando os joelhos, no canto da caverna, ficando ali para sempre.

David Sharp estava tentando chegar ao cume sozinho, algo que nem mesmo os mais profissionais recomendam. Ele parou para descansar na caverna do Green Boots, e ao longo de várias horas, congelou até a morte.

Contudo, diferentemente do Green Boots, que provavelmente não foi percebido devido à baixa quantidade de pessoas escalando em sua época, pelo menos 40 pessoas passaram por Sharp naquele dia.

Nenhuma delas parou para ajudá-lo.

Sua morte desencadeou um debate sobre a cultura de alpinismo no Everest. Ainda que muitos tenham passado por ele enquanto ele morria, com testemunhas afirmando que ele estava vivo e visivelmente sob risco, nenhuma delas ofereceu ajuda.

Edmund Hillary, o primeiro homem a escalar o Everest, criticou os alpinistas que passaram por Sharp, atribuindo isso à obsessão por chegar ao topo a qualquer custo – inclusive ajudar alguém em sofrimento bem no meio do caminho.

George Mallory

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Os restos de George Mallory, quando encontrados em 1999. Imagem: Dave Hahn/ Getty Images

O corpo de George Mallory foi encontrado 75 anos depois de sua morte, em 1924. Ele tentou ser o primeiro a escalar o Everest, mas desapareceu antes que qualquer um soubesse se ele alcançara o objetivo.

Seu corpo foi achado em 1999, com o torso, metade das pernas e o braço esquerdo quase perfeitamente preservados. Um ferimento de corda em torno da sua cintura levou à hipótese de que ele estava preso a outro alpinista quando caiu por um penhasco.

Ainda não se sabe se Mallory chegou até o topo.

Hannelore Schmatz

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O corpo congelado de Schmatz. Imagem: The Post Mortem Post

Em 1979, Schmatz se tornou a primeira alemã e primeira mulher a morrer na montanha. Ela conseguiu subir o Everest, antes de sucumbir à exaustão enquanto descia. Apesar dos avisos dos Sherpas, os nativos dos Himalaias, ela acampou na zona mortífera.

Schmatz conseguiu sobreviver à tempestade de neve durante a noite, e conseguiu descer quase toda a montanha antes que a falta de oxigênio e as queimaduras por frio resultassem nela ceder à exaustão, a apenas 100m do seu acampamento original.

Seu corpo permanece na montanha, mas agora o vento provavelmente o cobriu com neve ou o empurrou para uma área desconhecida, e ele não foi encontrado desde então.

Quando alguém morre no Everest, principalmente na zona mortífera, é quase impossível recuperar o corpo. As condições do tempo, o terreno e a falta do oxigênio tornam essa tarefa muito difícil. E ainda que sejam achados, eles podem estar presos no chão, congelados no mesmo lugar.

Inúmeras pessoas já morreram tentando resgatar os corpos dos alpinistas mortos do Everest. Mas, apesar de todos os riscos, e os corpos que vão encontrar, milhares de pessoas vão até o Everest todo ano numa tentativa de escalar a maior montanha do mundo.

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