O que é o esqueleto de Atacama e por que é tão controverso?

Pertencido a uma criança morta na década de 1970, a exploração do esqueleto acaba com toda sua dignidade.

Felipe Miranda
Imagem: Emery Smith

Em 2003, foi encontrado no deserto do Atacama, no Chile, um esqueleto de apenas 13 centímetros de comprimento. O esqueleto, com uma aparência bastante incomum, é de uma criança recém-nascida, mas seus ossos aparentavam ser de uma criança em torno dos 6 anos de idade. As análises iniciais colocavam sua idade entre 6 e 8 anos.

Em 2018, testes de DNA colocaram a idade do esqueleto: uma criança do sexo feminino recém nascida. Com mutações associadas à escoliose e ao nanismo, o corpo possui inúmeras características físicas incomuns e deformadas, como a cabeça em formato de cone. Além do formato cônico do crânio, o esqueleto possui apenas 10 pares de costelas, e não 12, como os humanos costumam ter.

A menina foi chamada de Ata. As análises datam o esqueleto do final da década de 1970. No total são uma série de mutações que dão ao corpo da criança as características extremamente visíveis. Acredita-se que os estudos que estão sendo feitos sobre a menina podem ajudar aos cientistas na compreensão dos distúrbios ósseos genéticos.

Rapidamente, o esqueleto ficou famoso por todo o mundo e levou muita gente a acreditar realmente que se tratava de um esqueleto de um ser alienígena.

O deserto do Atacama é extremamente seco. Portanto, lá ocorrem múmias naturais em um ótimo estado de conservação. Ele é o deserto mais seco fora dos polos, facilitando muito esse trabalho de mumificação natural pela ação do tempo.

As polêmicas em torno do esqueleto

O tratamento em relação ao esqueleto gerou muitas polêmicas pelo mundo. Trata-se de um esqueleto humano, então muitos cientistas por todo o mundo tratam por um tratamento mais humano, já que o tratamento midiático muitas vezes coloca o esqueleto como um alienígena, ou uma aberração, com um enorme sensacionalismo.

“Existem vários relatos sobre a descoberta original do esqueleto, incluindo alguns que afirmam que o esqueleto foi originalmente encontrado em 2003 em uma prateleira em um prédio perto de uma igreja em La Noria. Foi então supostamente vendido pelo menos duas vezes no Chile, e agora é de propriedade privada de um indivíduo na Espanha”, diz um artigo publicado em 2018 no periódico Genome Research.

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Imagem: Garry Nolan.

“O esqueleto tem sido amplamente discutido em termos estranhos, exploradores e desumanizadores há anos na mídia chilena e internacional, inclusive na rede de televisão Chilevisión, e foi usado na fotografia para promover o turismo”, diz a dupla de pesquisadores Garry Nolan e Atul Buttle.

As preocupações éticas em relação à cobertura e pesquisa do esqueleto entraram em um grade debate na academia.

“Tem havido uma controvérsia considerável ao longo dos anos quanto à proveniência e até mesmo às espécies do esqueleto, mais notavelmente incluindo as teorias daqueles que alegaram que o esqueleto tem uma origem extraterrestre”, diz o artigo.

“Apesar dessa publicidade anterior, até onde sabemos, nenhuma preocupação ética do tipo recentemente expressa em um artigo do New York Times (Zimmer 2018) foi levantada em mais de uma década desse esqueleto sendo conhecido no Chile, nem desde que os primeiros estudos científicos do esqueleto foram discutidos na mídia em 2013”.

A dignidade do esqueleto foi concedida apenas após a confirmação de que o esqueleto era realmente humano.

“Ao mostrar, sem sombra de dúvida, que este é o esqueleto de uma fêmea humana chilena, o estudo atual e o trabalho anterior em Stanford em 2013 finalmente forneceram uma base científica definitiva para pôr fim aos relatos não científicos da verdadeira natureza humana do esqueleto e conceder-lhe a dignidade que merece”.

À BBC, Nolan diz: “O que começou como uma história sobre alienígenas, é realmente uma história de tragédia humana. Uma mulher teve um bebê com malformações, ele foi conservado e depois negociado ou vendido. Ele deve ser devolvido ao país de origem e enterrado de acordo com os costumes dos habitantes locais”.

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