O que é desdolarização e por que o termo está cada vez mais popular

Daniela Marinho
Imagem: Canva

A desdolarização, a grosso modo, é o processo de uma economia se afastar do uso do dólar americano como moeda de referência, reserva, ou meio de troca. Isso pode ocorrer tanto no nível nacional quanto internacional.

No nível nacional, a desdolarização pode se referir ao esforço de um país para diminuir a dependência do dólar em sua economia doméstica. Isso pode ocorrer em países onde a inflação alta ou a instabilidade econômica levou a uma “dolarização” informal, onde os cidadãos preferem usar o dólar em vez da moeda local. A desdolarização pode ser incentivada por meio de políticas que restauram a confiança na moeda local, como o controle da inflação, a estabilização da economia e o fortalecimento das instituições financeiras domésticas.

Já no nível internacional, a desdolarização pode se referir ao esforço de países para diminuir a predominância do dólar no comércio e finanças globais. Isso pode ser motivado por uma série de razões, como o desejo de reduzir a influência econômica e política dos Estados Unidos, a diversificação das reservas cambiais, ou a busca por alternativas mais estáveis ou favoráveis à moeda. Esse processo, portanto, pode envolver o uso de outras moedas, como o euro, o yuan ou uma possível moeda dos BRICS, ou a criação de novos instrumentos financeiros, como os Direitos Especiais de Saque do FMI.

Como o dólar se tornou a moeda de reserva mundial?

O dólar americano, com suas raízes remontando à fundação dos EUA, foi estabelecido como a principal unidade monetária do país pela Lei da Moeda de 1792. Seu valor foi inicialmente ancorado ao ouro e à prata, passando por várias transformações até a adoção do padrão-ouro em 1900, um sistema que vinculava as moedas a uma quantidade fixa de ouro, promovendo a estabilidade dos preços e facilitando o comércio internacional.

O sistema padrão-ouro foi adotado nos EUA pela Lei da Moeda de 1873 e permaneceu em vigor até a Grande Depressão nos anos 1930. O marco histórico para o dólar americano foi o Acordo de Bretton Woods de 1944, quando representantes de 44 nações concordaram em vincular suas moedas ao dólar, que por sua vez era lastreado em ouro. Isso consolidou a posição do dólar americano como a moeda predominante no comércio internacional.

O dólar e as Guerras Mundiais

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A elevação do dólar americano à condição de moeda de reserva mundial também foi impulsionada por outros aspectos. A criação do Banco da Reserva Federal pela Lei da Reserva Federal de 1913 contribuiu para manter a estabilidade de preços do dólar americano.

Durante a Primeira Guerra Mundial, os EUA tornaram-se o principal credor para muitos países que buscavam adquirir títulos americanos denominados em dólares. Após a Segunda Guerra Mundial, os EUA detinham a maior parte das reservas de ouro globais, o que reforçou a posição do dólar como padrão monetário internacional, consolidada pelo Acordo de Bretton Woods.

Mesmo com o colapso do sistema de Bretton Woods no início dos anos 1970, o dólar americano manteve seu status de moeda de reserva mundial. Fatores como a estabilidade do seu valor, a dimensão da economia americana, a influência geopolítica dos EUA e a liquidez do mercado de dívida dos EUA contribuíram para sua predominância.

Atualmente, o dólar americano ainda é a moeda preferida para o comércio e as reservas internacionais, sendo a moeda principal para a compra e venda de commodities importantes, como o petróleo. No entanto, diante da crescente tendência de desdolarização e do advento de moedas digitais, a posição futura do dólar como moeda de reserva global permanece incerta.

O que realmente significa desdolarização e por que o processo está sendo cada vez mais discutido?

Desdolarização se refere ao processo de redução da dependência do dólar americano por um país ou por vários países em suas transações comerciais, financeiras e econômicas. A desdolarização é um tópico que ganhou notoriedade nos últimos anos devido a várias razões.

Alguns países, particularmente aqueles sujeitos a sanções dos EUA, têm motivos geopolíticos para buscar alternativas ao dólar. Além disso, algumas nações estão buscando diversificar suas reservas e diminuir a dependência de uma única moeda. A crescente força de economias emergentes, como a China (utilizando o yuan), também está contribuindo para debates sobre a necessidade de um sistema monetário global mais multipolar.

A (possível) nova moeda dos BRICS

A proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de criar uma moeda alternativa ao dólar no cenário financeiro global, surgiu como uma ideia audaciosa e provocadora e poderá virar realidade. Esse novo sistema monetário, inicialmente restrito aos países BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – representa uma tentativa dessas nações emergentes de ganhar maior autonomia financeira e reduzir a dependência do dólar, corroborando com a desdolarização.

Essa ideia vem ganhando terreno à medida que o Brasil e a China já começaram a realizar transações em suas moedas locais. Ainda que os BRICS tenham enfrentado desafios nos últimos anos – com uma economia brasileira estagnada, a China enfrentando restrições devido à Covid-19, e a Rússia lidando com os efeitos da guerra na Ucrânia e sanções do Ocidente – a sua importância econômica continua a crescer.

Desse modo, com o crescimento econômico dos BRICS e a proposta de uma moeda alternativa, a tendência de desdolarização pode ganhar impulso. Isso reforça o fato de que o sistema monetário global está em constante evolução, e a posição do dólar como moeda de reserva global pode ser desafiada num futuro que já é presente.

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