Num possível ato de altruísmo, elefante-marinho salva filhote de afogamento

Leandro da Silva Monteiro
Elefante-marinho ao lado de uma foca. Imagem: Pixabay

Algo que acende a curiosidade em muitas pessoas é o quanto os animais podem ter semelhança conosco. Animais de estimação que se parecem com seus donos é uma tendência relativamente comum nas redes sociais. Talvez seja porque tanto animais e seres humanos possuem instintos em comum, mas de qualquer forma certos casos não deixam de impressionar. Foi que aconteceu com pesquisadores da Califórnia, em 2022, que podem ter registrado o primeiro ato de altruísmo masculino com um elefante-marinho pego em câmera.

Primeiro é necessário destacar que demonstrações de altruísmo não são nenhuma novidade no mundo animal. Incluindo entre espécies diferentes. Dois anos atrás um grupo de australianos testemunhou um bando de orcas salvarem uma baleia jubarte presa em material de pesca. Tais atos de de altruísmo também já foram observados em papagaios, chimpanzés e até nas próprias jubartes, como revela a notícia original.

O que impressionou os pesquisadores foi que o evento registrado aconteceu com um elefante-marinho-do-norte, Mirounga angustirostris, pois essa é uma espécie extremamente agressiva. Os elefantes-marinhos-do-norte são criaturas gigantes, perdendo apenas para o elefante-marinho-do-sul que consegue chegar a mais de seis metros de comprimento. Os elefantes-marinhos machos têm narizes grandes e distintos dos quais eles inflam para produzir barulhos enquanto ameaçam uns aos outros.

Uma terrível curiosidade a respeito dessa espécie é que ela é conhecida por esmagar outros animais durante a época de acasalamento, o que inclui seus próprios filhotes.Os machos geralmente nem chegam a interagir com a sua prole e também evitam gastar energia durante toda essa temporada de reprodução. A soma de todos esses fatores é o que torna o fato tão interessante para os pesquisadores que jamais poderiam imaginar que testemunharam um ato de altruísmo vindo de um elefante-marinho macho.

O resgato do pequeno elefante-marinho

O registro ocorreu numa área protegida em Point Reyes, na Califórnia, em janeiro de 2022 e foi publicado num artigo no mesmo ano. Os pesquisadores estavam na praia observando alguns elefantes-marinhos quando notaram um deles correr subitamente em direção ao oceano. O comportamento estranho foi motivado por um pequeno filhote que se separou da mãe por conta da maré e estava em vias de se afogar. Segundo os próprios pesquisadores, o filhote deveria ter poucas semanas devidas pois “não conseguia nadar, lutando para manter a cabeça acima da água, chamando [pela sua mãe]”.

Registros de elefante-marinho salvando filhote da maré
Registros de elefante-marinho salvando filhote da maré. Imagem: Marine Mammal Science, 2024

Apesar de gritar de volta para o seu filhote, a mãe não demonstrou nenhum indicativo que iria atrás dele enquanto era arrastado pela corrente. Foi nesse momento que o macho, identificado como o alfa daquele grupo de elefantes-marinhos, se aproximou da mãe e então avançou com toda velocidade ao mar para alcançar o filhote. A equipe aponta que quando o macho entrou na água já quase não se conseguia mais ver a cabeça do pequenino elefante-marinho que foi salvo quase que no último segundo pelo alfa. Ele empurrou o filhote até a costa, ao mesmo tempo que utilizava seu grande corpo para protegê-lo da maré. 

Embora possa parecer que tudo tenha ocorrido num instante, os pesquisadores reportaram que a cena deve ter durado algo em torno de 20 minutos. Eles estavam positivos que testemunharam uma clara demonstração de altruísmo, o que configura um fato inédito para aquela espécie de elefante-marinho. Tais registros são raros até mesmo em outros tipos de mamíferos marinhos.

Ainda não se sabe o que exatamente motivou o macho a salvar o filhote, portanto seria complicado afirmar que esse é um comportamento comum e não somente um caso isolado. O que os pesquisadores sugeriram é que o macho e a fêmea, mãe do filhote, podem ter algum parentesco. Mas como não foi possível fazer uma análise genética desses espécimes, não há como confirmar essa suposição.

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