Misterioso rio subterrâneo pode fluir abaixo da Groenlândia

Amanda dos Santos
Petermann é uma das maiores geleiras da Groenlândia, alojada em um fiorde que, do alto de suas paredes de montanha até o ponto mais baixo do fundo do mar, é mais profundo que o Grand Canyon. (imagem: Pixabay)

Um rio subterrâneo gigante, alimentado pelo derretimento do gelo, pode correr em um breu infinito abaixo da superfície da Groenlândia, de acordo com uma nova pesquisa. Apelidado de ‘Dark River’, este hipotético curso de água – se realmente existir – pode se estender por 1.000 quilômetros. Assim, fluindo do interior profundo da Groenlândia até o fiorde Petermann, mais ao noroeste.

Segundo o modelador do manto de gelo Christopher Chambers, da Universidade de Hokkaido no Japão, os resultados são consistentes com um longo rio subglacial. Mas permanece uma incerteza considerável.

Essa incerteza decorre em grande parte de lacunas significativas nos dados de radar de pesquisas aéreas acima da camada de gelo da Groenlândia. Ao longo dos anos, ele detectou vislumbres fragmentados do que parece ser um sistema gigante de vale subglacial, se estendendo abaixo de grandes partes da Groenlândia.

Suposta água nos contornos profundos da Groenlândia

Estudos numerosos das últimas décadas sugeriram que essas trincheiras, vales ou “mega-cânions” poderiam estar ocultos no ambiente subglacial. E também a ideia da água fluir na parte inferior dos recursos.

imagem de satélite da Groenlândia
Imagem de satélite da Groenlândia (imagem de satélite Suomi NPP / VIIRS; NASA Worldview).

No entanto, devido a lacunas nos dados por causa da escassez de voos aerotransportados mapeando os contornos profundos, não se sabe se todos os vales estão conectados em um rio longo e sinuoso. Ou se são apenas segmentos de fenômenos desconectados, muito menos o quanto de água há por esses vales.

Chambers relatou justamente isso, não se tem certeza da quantidade de água, se houver, que está disponível para fluir ao longo do vale e se realmente sai no Fiorde Petermann ou é recongelada. Ainda pode ser que ela escape do vale ao longo do caminho.

No novo estudo, projetado como um ‘experimento mental’, Chambers e sua equipe exploraram a possibilidade hipotética do vale não estar dividido em pedaços separados, mar correr continuamente em um longo rio.

Conclusões do estudo

Os pesquisadores dizem que tal hipótese é possível, mas também pode ser uma ilusão criada por elevações fantasmas resultantes de modelagem enganosa em regiões com dados esparsos, ao invés de características territoriais.

Ou seja, os aumentos ocorrem onde os dados estão intercalados para preencher lacunas do radar, escrevem os autores em seu novo artigo. Isso sugere que as elevações do vale podem não ser reais.

Portanto, na nova modelagem, os pesquisadores presumiram que o Dark River é de fato um recurso contínuo. Com base nesse cenário, as simulações sugeriram que a hidrovia flui do centro da Groenlândia para o mar, com água percorrendo a via ininterruptamente.

A equipe escreveu que, ao longo da extensão, o caminho do vale progride gradualmente descendo uma encosta da superfície do gelo. Logo, causando uma redução na pressão da camada de gelo, permitindo o fluxo de água ao longo do caminho.

Embora as descobertas permaneçam hipotéticas por enquanto, os pesquisadores acreditam que futuros levantamentos aéreos podem, um dia, serem capazes de confirmar as simulações. Se isso acontecer, não apenas confirmaria que o ‘Dark River’ é real, mas também significaria que alcançamos um novo nível de modelar o comportamento do gelo da Groenlândia.

O estudo científico foi publicado no periódico The Cryosphere.

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