Os pássaros podem teorizar sobre a mente uns dos outros, mostra estudo

Erik Behenck
Um corvo. Foto: Freepik.

Qual é a diferença da mente humana para a de outros animais? Alguns podem imaginar que é a capacidade de pensar, planejar e construir. Aliás, a diferença dos humanos para outras espécies é um dos enigmas mais antigos da filosofia. Uma das respostas é que somente os humanos conseguem entender mentes, mas essa justificativa ficou vaga após um estudo com pássaros.

Não é de hoje que os corvos são apontados como símbolo de inteligência e sabedoria. Eles possuem algumas capacidades encontradas nos humanos, como pensar abstratamente sobre outras mentes, atribuindo suas próprias percepções a diferentes indivíduos.

Corvos conseguem entender a mente uns dos outros

Um estudo recente mostrou que corvos guardavam esconderijos de comida contra a descoberta em resposta aos sons de outros corvos se um olho mágico próximo estivesse aberto, mesmo que eles não vissem outro pássaro. Eles não mostraram a mesma preocupação quando o olho mágico foi fechado, apesar de poder ouvir os outros pássaros.

Os pesquisadores não se preocuparam com as pistas durante o experimento, utilizando somente orifícios e sons para indicar a possível presença de outro corvo no recinto. Conforme o professor assistente de filosofia da Universidade de Houston, nos Estados Unidos, Cameron Buckner, os corvos são interessantes para estudos, já que passam por diversas fases durante a vida, algo semelhante aos humanos.

pássaros podem teorizar sobre a mente uns dos outros
(Imagem: Vijay Bhaskar / Pexels)

“Não existem muitas outras espécies que demonstram tanta flexibilidade social. Os corvos cooperam bem. Eles podem competir bem. Eles mantêm relacionamentos monogâmicos a longo prazo. Tudo isso os torna um bom lugar para procurar cognição social, porque pressões sociais semelhantes podem ter impulsionado a evolução de capacidades cognitivas igualmente avançadas em espécies muito diferentes”, explicou.

Boa parte das pesquisas envolvendo a mente de animais foi feita com chimpanzés e outras espécies com características semelhantes aos humanos. Embora os estudos tenham sido positivos, os céticos acreditam que os resultados são determinados por pistas superficiais, sem um entendimento real dos animais.

Estes pássaros se comportam de maneira diferente quando sabem que estão sendo observados por um concorrente. Então, a tendência é que ocultem os alimentos mais rapidamente e não retornem a este ambiente dentro de algum tempo, já que algum “ladrão” poderia aparecer. Mas, quando não acham que estão sendo vigiados, então demoram mais tempo nessa tarefa.

Como foi feito o estudo com pássaros?

No estudo, haviam duas salas conectadas por janelas, que podiam ser abertas ou fechadas, assim como havia a presença de um olho mágico. Os corvos foram treinados para olhar através deste espaço pequeno. Na parte final do teste, duas janelas estavam fechadas, mas o olho mágico aberto, enquanto um alto-falante emitia sons de corvo.

Nenhum outro pássaro estava no ambiente, mas os pássaros avaliados continuavam agindo como se estivessem sendo observados. Assim, os pesquisadores indicaram que os corvos pensavam que os espécimes do outro lado também poderiam olhar através do mesmo espaço.

Segundo Buckner, isso mostra que os corvos podem ser utilizados em outras pesquisas envolvendo a cognição social. Para ele, os resultados podem mudar o pensamento da singularidade humana, já que essa não é uma habilidade só nossa e dos chimpanzés. Por fim, novas espécies devem passar pelo teste do olho mágico.

“Descobrir que a Teoria da Mente está presente nos pássaros exigiria que desistíssemos de uma história popular sobre o que torna os seres humanos especiais”, disse ele. “Mas completar esse quadro evolutivo e de desenvolvimento nos aproximará muito mais de descobrir o que é realmente único na mente humana”, concluiu.

O estudo foi publicado na revista Nature. Com informações de University of Houston.

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