Marcações em espiral transformam lentes de contato em multifocais

Leandro da Silva Monteiro
Representação de uma mulher colocando suas lentes de contato. Imagem: Pixabay

Tecnologias em serviço da saúde ocular não deixam de avançar ano após ano, inclusive no desenvolvimento de lentes de contato mais modernas. Uma das mais recentes pode revolucionar o uso de lentes de contato. Na França, um inventor descobriu que, ao fazer inscrições no formato de espirais em uma lente, ele criava vórtices ópticos, ou redemoinhos de luz, que produzem um efeito curioso: esses vórtices conseguem fazer com que a lente torne mais clara a imagem de objetos tanto distantes quanto perto. Ou seja, essas marcas são capazes de transformar lentes tradicionais em multifocais.

A tecnologia emergente é uma criação do inventor francês, Laurent Galinier, que já publicou seus achados na revista Optica Publishing Group este ano. Dentre a equipe que auxiliou Galinier na sua descoberta está o pesquisador Bertrand Simon, do Instituto d’Optique, que conheceu seu amigo inventor numa colaboração passada e de imediato quis testar essas tão incríveis lentes que seu colega estava trabalhando.

Sobre a lente desenvolvida por Galinier, a princípio ela não aparenta ser muito diferente da sua lente de contato redonda convencional. Porém ela possui uma espiral cuidadosamente talhada na sua superfície. Sendo assim a lente é capaz de modificar o caminho que raios de luz percorrem ao atravessá-la, portanto ela não tem um único ponto focal como as demais. Ela possui vários pontos, cada um numa distância diferente da lente.

Apesar da incrível descoberta, a equipe ainda não está certa de como ela produz esses resultados, logo mais estudos serão necessários. O que eles conseguem afirmar por enquanto é que a lente parece conseguir, de alguma forma, “torcer” os raios de luz, o que cria pequenos vórtices ópticos, os redemoinhos de luz, que ao interagirem entre si produzem o efeito observado.

Para confirmar os resultados, Simon e sua equipe fizeram uma luz de raio laser passar pelas lentes espirais de Galinier e simulam todo o processo no computador enquanto comparavam os resultados com os obtidos com uma lente multifocal padrão. Com isso eles determinaram que a lente espiral teve resultados muito mais nítidos e com mais detalhes do que a convencional. Não somente isso, mas a lente de Galinier também se mostrou funcionar muito bem em ambientes de baixa iluminação.

Essa última observação abre um novo leque de possibilidades para o uso das lentes espirais. Simon acredita que elas são ideais, por exemplo, para motoristas que fazem muitas viagens noturnas e precisam de lentes multifocais. O próprio afirma tê-las testado em si mesmo, que usa óculos para enxergar de longe e tem que tirá-los toda vez que vai utilizar seu celular. Simon diz que com as lentes espirais ele foi capaz de ver a tela com clareza, porém levantou uma crítica em relação ao material utilizado que causa um certo desconforto no primeiro contato com os olhos.

As lentes de Galinier já atraíram atenção de pessoas fora da França. James Wolffsohn, professor na Universidade Aston do Reino Unido, que pessoas que passam por cirurgias para melhorar a visão à distância ainda apresentam dificuldades para focar em objetos mais próximos. Se as lentes espirais de Galinier oferecerem de fato todos esses resultados reportados, elas têm potencial realmente inovador. Porém, obviamente, isso só será comprovado conforme as lentes sejam submetidas a mais estudos. 

“O design de lentes é de suma importância no mundo em constante evolução da tecnologia, onde compacticidade e alta performance óptica são uma necessidade, indo desde smartphones e dispositivos vestíveis até veículos e realidade virtual. As técnicas de design de forma livre nos permitem transcender limitações tradicionais, mas criar novas ópticas continua sendo um desafio substancial a menos que consideremos fenômenos físicos não convencionais.”

Simon e sua equipe dizem no artigo publicado sobre as lentes espirais de Galinier.
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