Luas de planetas sem estrelas podem abrigar vida

Francisco Alves
Planeta solitário PSO J318.5-22. Imagem: MPIA/V. Ch. Quetz
Destaques
  • Luas orbitando planetas desgarrados podem manter água líquida e condições habitáveis.
  • Aquecimento gravitacional e atmosfera espessa são fundamentais para manter a superfície quente.
  • Simulações de computador mostram que a habitabilidade pode durar até 1,6 bilhão de anos.

A astrofísica Giulia Roccetti apresentou no Simpósio PLANET-ESLAB 2023 resultados de simulações de computador que sugerem a possibilidade de vida em luas orbitando planetas desgarrados, ou seja, que não estão vinculados a uma estrela. Segundo os estudos, a interação gravitacional entre a lua e seu planeta pode manter as condições habitáveis por até 1,6 bilhão de anos.

Os cientistas já identificaram aproximadamente 100 planetas sem estrelas, alguns formados a partir de nuvens de gás e poeira, e outros ejetados de seus sistemas solares. Esses planetas também podem ter luas que, se possuírem órbita e atmosfera adequadas, podem apresentar condições favoráveis à vida.

O aquecimento gravitacional ocorre quando a atração gravitacional do planeta deforma a lua continuamente, gerando calor. Com uma atmosfera espessa e retentora de calor, dominada por dióxido de carbono, a superfície da lua pode manter-se quente o suficiente para que a água permaneça líquida, proveniente de reações químicas com o dióxido de carbono e o hidrogênio na atmosfera.

Entretanto, o aquecimento gravitacional não dura para sempre, pois as mesmas forças gravitacionais que aquecem a lua também moldam sua órbita em um círculo. Com o tempo, a deformação diminui e a quantidade de calor gerada pelo atrito também.

Nas simulações realizadas por Roccetti e sua equipe, foram consideradas três alternativas de atmosfera. Luas com atmosfera de pressão semelhante à da Terra apresentaram um período de habitabilidade potencial de até 50 milhões de anos, enquanto aquelas com pressão atmosférica 10 vezes maior poderiam atingir 300 milhões de anos. A habitabilidade poderia durar até 1,6 bilhão de anos com pressões atmosféricas 10 vezes maiores ainda.

O astrofísico Alex Teachey, da Academia Sinica Institute of Astronomy & Astrophysics, em Taiwan, pondera que, mesmo com calor e água, planetas flutuantes podem não ser os lugares mais favoráveis para o surgimento da vida. Estrelas seriam melhores fontes de energia devido à sua produção e longevidade.

Porém, Roccetti argumenta que luas de planetas desgarrados apresentam algumas vantagens, como a presença de água e a ausência de explosões solares que podem destruir a atmosfera de um planeta. Segundo ela, é importante investigar todos os ambientes possíveis em busca de vida além da Terra.

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