Linear B: como os misteriosos símbolos gregos micênicos foram decifrados

Felipe Miranda
Tábua de argila inscrita com escrita Linear B, do palácio micênico de Pilos. Imagem: Sharon Mollerus / Wikimedia Commons.
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Linear B é um conjunto de símbolos que foi utilizado pelos povo micênicos entre os séculos XV a.C. e XII a.C. A Civilização micênica é um termo utilizado para descrever o período da última fase da idade do bronze na Grécia Antiga. O linear B é o silabário que escrevia a forma mais antiga do grego que se conhece, antecedendo em séculos a língua grega.

A Linear B foi encontrada talhada em objetos de argila em alguns palácios gregos, e, então, foi estudada por pesquisadores.

Entretanto, há dois pesquisadores em específico que tiveram uma enorme importância nisso tudo. Sem o trabalho de Alice Kober e Michael Ventris, possivelmente a Linear B continuaria um mistério nos dias de hoje.

O Linear B possui relação com o Linear A, um silabário mais antigo que permanece, até os dias de hoje, indecifrável. O silabário era utilizado na escrita da língua dos minoicos, um grupo de poder centrado em Creta na Idade do Bronze. O Linear B, conforme já citado, era ligada aos micênicos, presentes em todas as áreas do Peloponeso e Creta.

A importância de Kober e Ventris vem justamente nesse contexto. Como ambos estão ligados, são facilmente confundíveis como uma só linha. Acreditava-se que o linear B também fosse utilizado pelos minoicos. Foi a dupla de pesquisadores que estabeleceu a relação do silabário com os micênicos.

Linear B

O Linear B é um grupo de sinais bastante complexo. O silabário possui 87 sinais silábicos (sinais que representam o som) e mais de cem sinais ideográficos – ou seja, símbolos que representam objetos, unidades de medidas, mercadorias, ou algo mais específico do que simplesmente representar o som, se ligando diretamente a um objeto.

Além disso, outro ponto curioso é o de que o Linear B não era utilizado na literatura ou em outros ambientes mais coloquiais. O silabário era mais utilizado formalmente, em contextos administrativos.

Os arqueólogos conseguiram perceber que havia pouquíssimos autores. Na cidade de Pilos, no Peloponeso ocidental, havia cerca de 45 autores, segundo os estudos. Em Cnossos, em Creta, apenas 66, conforme revelaram os estudos realizados.

Linear B
Cnossos. Imagem: Ania Mendrek / Flickr.

Acredita-se que em cada palácio micênico, havia escribas que escreviam exclusivamente os textos. Ou seja, uma classe de elite que era letrada.

Infelizmente, houve um período de colapso na Idade do Bronze. Nesse período, vários impérios poderosos que se situavam ao redor do Mediterrâneo e entornos caíram. Com isso, a escrita Linear B foi esquecida.

O período que se seguiu é chamado de Idade das Trevas grega, onde houve um grande retrocesso intelectual. A Grécia é considerada hoje um lugar bastante culto, cheio de escritas e de uma extensa literatura. Entretanto, durante esse período, não há evidências de escrita no mundo grego.

Isso não quer dizer, entretanto, que o grego acabou. Séculos depois, o alfabeto grego surgiu. Novos símbolos escreviam a mesma língua. Não que o grego não tenha sofrido nenhuma alteração. Mas em essência a língua é a mesma.

Kober e Ventris

Alice Kober foi uma classicista húngaro-americana que viveu em Nova York. Durante a década de 1930, em sua pós-graduação, Kober começou a estudar a Linear B por conta própria. Na época, o silabário era considerado indecifrável.

Mais de quarenta cadernos e duzentos mil cartões feitos à mão registravam meticulosamente os estudos de Kober.

Especialista em diversas línguas antigas, ela percebeu que as palavras no Linear B mudavam de forma dependendo com sua função gramatical. Essa foi a descoberta mais importante dela para o entendimento do conjunto de símbolos.

Seus estudos foram interrompidos quando ela voltou à posição de professora. Aos 43 anos, em 1950 ela morreu provavelmente de câncer.

O segundo nome que citamos, Michael Ventris, entra na história apenas após a morte de Kober. Ele foi inspirado por ela e passou a decifrar a Linear B.

Ele era arquiteto por formação e, como linguista, amador. Extremamente inteligente e fluente em várias línguas, ele dominava códigos facilmente.

Ele percebeu que alguns símbolos aparecem nos textos de Creta, e em nenhum outro lugar, e o mesmo fato no Peloponeso. Assim, esse símbolos, como Ventris percebeu, deveriam representar nomes de lugares, o que estava correto.

Assim, ele conseguiu encaixar novas peças no Linear B, revelando alguns importantes fatos históricos e decifrando um grupo de símbolos que até então eram considerados indecifráveis.

Ventris morreu em 1956, com apenas 34 anos de idade em um acidente de carro.

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