A antropóloga, primatóloga e etóloga, Jane Goodall, concedeu uma entrevista ao site News Week, onde falou sobre a pandemia do Coronavírus e o desrespeito com a natureza.
Aos 86 anos de idade, a britânica é reconhecida como uma das mais respeitadas especialistas em ecologia e primatas do mundo. Jane também falou sobre pontos polêmicos do documentário “Jane Goodall: The Hope”.
A entrevista
A britânica fala que uma das soluções para proteger as florestas e seus habitantes é capacitar a comunidade local ao seu redor. “Se você pensar bem, as florestas foram destruídas em parte por empresas estrangeiras que entraram e desmataram ou as destruíram por causa das indústrias extrativas de mineração”, fala.
“Mas as populações humanas estão crescendo e se movendo cada vez mais na floresta – e precisando de espaço para suas aldeias para o cultivo de suas colheitas. E isso significa que, à medida que os números aumentam, eles se tornam cada vez mais pobres.”, explica Jane.
Ela continua, explicando que se uma pessoa pobre irá cortar até a última árvore. E não porque não entenda o que isso pode causar ao meio-ambiente, mas para alimentar-se. “O segredo é encontrar maneiras alternativas para essas pessoas viverem sem destruir o meio ambiente”, esclarece.
Jane usa como exemplo o programa da JGI (Tanganyika Catchment Reforestation and Education). De acordo com ela, há pessoas que têm acesso a microcréditos, em especial, as mulheres. Essas, têm investido em pequenos viveiros de mudas, com objetivo de reflorestar as áreas de onde extraem alimentos e outros materiais para a sobrevivência.
“As pessoas agora entendem que salvar o meio ambiente não é apenas para a vida selvagem, é para seu próprio futuro, porque eles precisam da floresta para obter ar limpo e água limpa”, pondera a antropóloga britânica. Para ela, os habitantes locais estão entendendo que ao destruir a biodiversidade de uma floresta, destrói-se também a vida humana. “Então eles se tornam nossos parceiros”, comemora Jane.
“Jane Goodall: The Hope”
Já sobre o documentário “Jane Goodall: The Hope”, a antropóloga esclarece uma questão polêmica. Muitas pessoas que assistiram, levantaram a questão de que Jane trabalharia com empresas de petróleo (que ela mesma chama de “bandidos”). Isso, com o intuito de conseguir construir um santuário de chimpanzés, na República do Congo.
“Bem, certamente não é com todas as empresas de petróleo que eu sonho em trabalhar”, fala. “Foi a Conoco, antes de se juntar à DuPont e Phillips, mas logo no início era a empresa de petróleo mais amiga do ambiente que eu conhecia”, explica Jane.
“E me perguntei: devo tirar dinheiro deles? Estávamos desesperados para encontrar um lugar para esses pequenos órfãos de chimpanzés”, continua a britânica. “E pensei: bem, estou usando os produtos das companhias de petróleo quando viajo; Eu dirijo, vou de avião, fico em hotéis”, explica.
“Portanto, se a empresa está realmente tentando fazer o certo, é muito hipócrita, da minha parte, dizer que não aceitarei o dinheiro deles para lhes dar uma reputação um pouco melhor e, ao mesmo tempo, ajudá-los a melhorar ainda mais essa reputação”, esclarece Jane.
Jane ainda aponta que algumas empresas petroleiras têm investido bastante na geração de energia alternativa. Isso porque chegaram à conclusão de que essa é a solução futura para a escassez de recursos naturais. “Claro, alguns deles, porque eles querem ter uma aparência melhor. Portanto, temos que ter muito cuidado com quem escolhemos”, salienta.
Novo Coronavírus
Sobre a pandemia do novo Coronavírus, Jane revela que fora relatada a ação de caçadores furtivos, que mataram muitos rinocerontes. Isso porque, devido ao novo Coronavírus, a pandemia impacta negativamente no turismo na África. “Não há dúvida de que o turismo conduzido da maneira certa é extremamente benéfico. Traz câmbio que agrada ao governo central”, pondera a antropóloga.
Jane defende que o turismo gera empregos para comunidades locais. Ainda, impede a ação de caçadores furtivos, além de proporcionar conscientização e educação ambiental.
Ao mesmo tempo, Jane finaliza: “Porém a pandemia se deve a pouco respeito pelo mundo natural”.
Sobre Jane Goodall
Jane Goodall acumula mais de 60 anos de dedicação a estudar a vida dos primatas: em especial, a dos chimpanzés. Já viajou quase o mundo todo e participa de diversos programas e ações que visam à proteção da vida natural.
Sobre “Jane Goodall: The Hope”
O documentário “Jane Goodall: The Hope”, lançado no início desse ano (2020), retrata o aniversário de 60 anos da chegada da equipe de Jane ao chamado “Reino dos Chimpazés”, em Gombe. Mostra o trabalho, a vida e os desafios de Jane Goodall nesse local.
A direção é de Elizabeth Leiter e Kim Woodard.
