Impressionante fenômeno na atmosfera é fotografado da Estação Espacial Internacional

Jônatas Ribeiro
Imagem: ESA/NASA–T. Pesquet

Certos fenômenos físicos e químicos podem ser bastante impressionantes. Seja na atmosfera ou no solo. Ou ainda, naturais ou produzidos em laboratório. O fato é que, às vezes, avistamos coisas que, a princípio, são difíceis de explicar. Ou pelo menos, até que se realize uma investigação mais profunda sobre o que está ocorrendo. Desde a antiguidade, é comum, inclusive, dar explicações criativas para tais eventos. Os antigos chineses, por exemplo, diziam que eclipses eram resultado de cães ou dragões celestiais devorando o Sol ou a Lua. Já, hoje, há muitos que atribuem o inexplicável a alienígenas e afins.

No caso dos fenômenos atmosféricos, um bom exemplo são as famosas auroras boreais. Para os antigos povos nórdicos, as belas luzes celestes representavam a trajetória do exército de Odin. Ele, o rei de Asgard, onde habitavam os deuses, selecionava guerreiros caídos em batalha para a última das batalhas, o Ragnarok. Depois disso, as Valquírias, imponentes guerreiras montadas em seus cavalos, levavam os combatentes para o palácio de Valhalla. As auroras, por sua vez, seriam o brilho de suas armaduras. Já outras lendas contavam que as luzes seriam a ponte Bifrost, que levava guerreiros mortos a Valhalla.

Encontramos outros mitos na culturas tradicionais da Finlândia, Islândia e Groenlândia. Ainda, entre as tradições dos povos nativos da América do Norte. O mesmo vale para os aborígenes da Austrália e Nova Zelândia. No caso desses, a respeito das auroras austrais, no hemisfério sul.

Brilhante atmosfera

Hoje sabemos que o que causa as auroras são distúrbios na magnetosfera. Isto é, na região do espaço em que partículas carregadas são afetadas pelo campo magnético da Terra. E são os ventos solares, por sua vez, que causam esses distúrbios. Esses, aliás, são plasma emitido pelo Sol em todas as direções. O que ocorre é que a maioria das partículas no plasma não consegue penetrar em nossa região magnética. Assim, elas espiralam pelas linhas do campo até os polos. Lá, nas maiores latitudes, é que conseguem penetrar. A partir disso, as partículas, em sua maioria, elétrons, colidem com as moléculas de gás na atmosfera. Essas, então, são levadas a níveis de energia mais baixos, emitindo luz no processo. No caso do oxigênio, de cor verde ou vermelha. Já no caso do nitrogênio, de cor rosa ou azul.

aurora boreal
Imagem: @andregbonotto/Instagram

Apesar de mais famosa, contudo, a aurora, seja boreal ou austral, não é o único evento atmosférico relevante. Nem também é a única a conter muita beleza. Há exemplos, inclusive, muito comuns no dia-a-dia. Como, por exemplo, os raios. Hoje, sabemos que são intensas descargas elétricas na atmosfera. Elas são causadas pela diferença de potencial entre regiões eletricamente carregadas, como no interior de uma nuvem, onde as cargas se espalham. Mas também entre nuvens. E, claro, mais conhecidamente, entre uma nuvem e o solo. O resultado, como sabemos, são os assustadores relâmpagos. E, logo após, os trovões. E, assim como as auroras, os raios foram explicados de muitas formas diferentes pelas várias mitologias da história humana.

Enfim, provavelmente, todos nós, ou quase todos, já vimos um relâmpago e ouvimos um trovão. O que nem todos sabem, contudo, é que existem diferentes tipos de descargas elétricas atmosféricas. Lá no alto da atmosfera, por exemplo, ocorrem os eventos luminosos transientes (ELTs).

Acima de tudo

Relacionados aos raios, mas em alturas maiores na atmosfera, os ELTs também ocorrem durante tempestades. Seu funcionamento, contudo, é diferente. Além disso, podem ser classificados em vários tipos. Há, por exemplo, os “blue jets” (jatos azuis), um pouco mais baixos na estratosfera que os outros. Nesse tipo de evento, o relâmpago se propaga no topo das nuvens (região de carga negativa) antes do fundo (carga positiva). Assim, o relâmpago acaba se chocando para cima. Uma luz azul é, então, emitida pela interação com o nitrogênio molecular.

blue jet na atmosfera
Imagem: DTU SPACE, DANIEL SCHMELLING/MOUNT VISUAL

Há também os SPRITES. A sigla, no inglês, significa “perturbações estratosféricas/mesosféricas decorrentes de eletrificação intensa em tempestades”. Esses são descargas de cor vermelha que ocorrem acima de uma zona de tempestade. Ainda, parecidos com eles, mas de cor mais fraca, os ELVES, na ionosfera. Para continuar os nomes divertidos, também há os TROLLs, os Pixies e GHOSTs.

Por muito tempo, não sabíamos o que eram essas luzes. Aliás, além das histórias de pilotos de aviões, nem sabíamos se existiam de verdade. É isso que torna ainda mais incrível a observação de um brilhante ELT pela Estação Espacial Internacional (EEI). No caso, o ELT em questão pode ser um “blue starter”. Isto é, um blue jet mais curto, que não chega a ser jato. Na verdade, não é a primeira vez que astronautas, como o autor da foto, Thomas Pesquet, capturam essa tipo de imagem. Mas só demonstra o quanto a evolução tecnológica pode nos explicar coisas até então misteriosas.

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