Humanos fabricavam flechas venenosas há mais de 70.000 anos, conclui estudo

Ruth Rodrigues
Fonte: Kit de caça de 150 anos do povo Kalahari San (Lombard, J. Archaeol. Sci. Rep, 2020 / Museu KwaZulu-Natal)

Não é segredo para ninguém que a caça é uma atividade praticada desde os tempos mais antigos. A prática onde os humanos fabricavam flechas venenosas é algo que foi despertado e criado, para que pudessem sobreviver e ter alimento diariamente.

Apesar de vivermos em outros tempos, ainda existem muitas comunidades indígenas que fazem uso de tais métodos para obter seu alimento. Isto é algo intrínseco e que perdura de muitas gerações.

A África do Sul e as flechas contendo veneno

No extremo sul do continente africano, existe uma comunidade conhecida como Kalahari San. Quem olha de relance para as flechas que eles utilizam, vai enxergar somente a delicadeza presente nas pontas feitas com ossos ou madeira. Porém, elas foram banhadas com um líquido venenoso retirado das larvas de um pequeno besouro conhecido cientificamente por Diamphidia nigroonata.

Apesar do tamanho, essa larva produz um veneno tão forte, que é considerado o mais poderoso de todo o reino animal, uma vez que sua principal constituição, é com a substância conhecida como diafotoxina. Uma flecha contendo um pouco desse veneno, seria capaz de matar até mesmo uma girafa! Alguns historiadores acreditavam que essa prática de utilização do veneno advinha de cerca de 24.000 anos atrás.

Pinturas feita pelos Kalahari's em sua caverna
Pinturas feita pelos Kalahari’s em sua caverna. Fonte: Siyabona Africa

Quando os homens das cavernas, que viviam na África do Sul, faziam o uso de ricina, uma substância bastante tóxica, em pedaços de madeira para poderem caçar a sua refeição no meio da floresta. Entretanto, por meio dessa nova pesquisa publicada, os arqueólogos levantam hipóteses onde os humanos fabricavam flechas venenosas há mais de 72.000 anos.

Essa nova descoberta foi realizada pela arqueóloga Marlize Lombard, da Universidade de Joanesburgo, na África do Sul. Em seu estudo, ela examinou flechas feitas com pontas de osso com veneno e sem veneno, totalizando em 128, o seu número de amostras envenenadas. No momento em que eram lançadas, as flechas com veneno não precisavam perfurar profundamente a presa, bastava encontrar com suas veias, para terem acesso aos vasos sanguíneos. Já as sem veneno, essas precisavam ser lançadas de fora certeira, para matar ou incapacitar.

Humanos fabricam flechas venenosas há mais de 72.000 anos

Ao todo, Lombard examinou 306 flechas fabricadas com pontas de ossos datados da Idade da Pedra tardia. Dentre elas, 6 flechas foram datadas de 72.000-80.000 anos atrás, pertencentes a Caverna de Blombos na África do Sul. E 3 ainda tinham a presença do veneno. Elas são as mais antigas flechas envenenadas do mundo.

O tamanho da ponta ou da flecha em si pode sofrer variações conforme a tribo que faz a sua utilização. Assim, quando os humanos fabricavam flechas envenenadas, eles buscavam confeccionar as que lhes trariam uma maior chance de conseguir atingir a sua presa de forma certeira. Atualmente, alguns venenos ainda são usados, sejam eles de plantas, sapos ou lagartos venenosos.

Segundo Lombard, “ao lidar com o passado humano, os números por si só raramente podem revelar as nuances necessárias para uma compreensão profunda dos tecno-comportamentos – para isso, uma medida de avaliação e interpretação qualitativa é necessária”. Durante uma busca feita na Foz do Rio Klasies, na África do Sul, os pesquisadores encontraram ossos que que estão datados de 60.000 anos atrás. E que podem conter resquícios de veneno, mas isso ainda é uma hipótese levantada, a confirmação só será divulgada posteriormente.

Assim, se todo o estudo e as hipóteses levantadas pela autora estiverem corretas, a técnica onde os humanos fabricam flechas venenosas é algo que perdura até os dias de hoje. Além de ter sido uma fonte de inspiração para filmes de ficção e armas mais elaboradas que surgiram ao longo dos anos.

O estudo foi publicado no Journal of Archaeological Science: Reports. Com informações da Scient Alert.

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