Há muitas espécies de aves desconhecidas nos trópicos, segundo estudo

SoCientífica
Imagem: eBird

O estudo de um pequeno pássaro excêntrico, o Manakin-de-coroa-branca, sugere que pode haver muito mais espécies de aves nos trópicos do que aquelas identificadas até agora.

“Descobrimos que o Manakin-de-coroa-branca provavelmente teve origem nas florestas montanhosas da Cordilheira dos Andes no norte do Peru”, explica o autor principal Jacob Berv. “Hoje, esta ave também é encontrada em toda a Bacia Amazônica, nas florestas de terras baixas do Brasil, Peru e muitos outros países, incluindo partes da América Central”. Berv conduziu esta pesquisa, publicada na revista Molecular Phylogenetics and Evolution, enquanto estudante de doutorado no Laboratório de Ornitologia da Universidade de Cornell.

“Este estudo mostra que há muita história evolutiva embutida no que é comumente referido como uma espécie ‘generalizada’ na Amazônia”, diz a co-autora Camila Ribas, do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas do Brasil. “O Manakin-de-coroa-branca é um exemplo de um fenômeno que provavelmente é mais a regra do que a exceção na Amazônia — a diversidade é amplamente subestimada pela taxonomia atual”.

Manakin de coroa branca
Um Manakin-de-coroa-branca. Imagem: WikiAves

Há cerca de 2,5 milhões de anos, as populações desta espécie de manakin se expandiram para fora dos Andes, embora muitas populações permaneçam lá hoje. Aquelas que se deslocaram acabaram ficando isoladas em bolhas de habitat definidos por montanhas, planícies, rios e clima. Com o passar do tempo, as populações de Manakins-de-coroa-branca evoluíram independentemente, acumulando diferenças em seus cantos e padrões de plumagem.

Os autores do estudo sugerem que muitas dessas populações de bolhas são agora suficientemente diferentes umas das outras para que sejam reconhecidas como espécies separadas. Isto é especialmente verdadeiro se as variações nos cantos tornam improvável que populações isoladas sejam capazes de se reconhecerem umas às outras e procriarem — a definição biológica de uma espécie.

“Para entender os processos evolutivos na Amazônia, precisamos de muitos mais estudos como este, com densa amostragem geográfica”, disse Camila Ribas. “Para isso, precisamos apoiar coleções biológicas que sejam capazes de acumular amostras através do tempo”.

Os autores dos estudos dizem que subestimar o número de espécies na América do Sul tem consequências importantes para a conservação, especialmente para as espécies endêmicas ameaçadas pela perda contínua do habitat.

“Basicamente acabamos de arranhar a superfície”, observou Berv.

“Se o que se aplica a esta espécie é indicativo do que está ocorrendo em outras espécies pouco estudadas, então subestimamos enormemente a quantidade de biodiversidade nos trópicos da América do Sul”.

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