Estudo revela se a genética influencia a habilidade matemática de alguém

Felipe Miranda
Imagem: PxHere

Algumas pessoas sempre relatam dificuldades com matemática, ou com as exatas, para ser mais amplo. Isso é bastante ruim, pois a separação de áreas como barreiras atrapalha o avanço do conhecimento. Mas talvez a familiaridade com matemática tenha alguma relação com a genética.

Um estudo publicado recentemente no periódico Plos Biology relata as possíveis origens neurobiológicas nas diferenças de habilidades matemáticas. Isso explicaria, de certa forma, as habilidades praticamente intrínsecas de algumas pessoas com o raciocínio lógico e as matérias de exatas como um todo.

Michael Skeide, pesquisador no Departamento de Neuropsicologia do Max Planck Institute for Human Cognitive and Brain Sciences (Instituto Max Planck para a Cognição Humana e Ciências do Cérebro), na Alemanha, lidera a equipe.

No entanto, antes de tudo, devemos ressaltar alguns pontos para evitar uma má interpretação. O primeiro, é que não ter uma habilidade acima da média com a matemática não é algo necessariamente ruim. Embora a tendência de se valorizar mais as disciplinas exatas como a “ciência que entrega resultados”, todas as áreas do conhecimento exercem importantes papéis. Além disso, ninguém é “incapaz” de aprender matemática.

Outro ponto a se ressaltar, é que esse estudo não trata de nada que faça alguma relação com eugenia, ou qualquer rebaixamento, ou julgamento. As predisposições genéticas não necessariamente se manifestam, já que dependem muito das influências ambientais. Isto é, as influências ou incentivos por parte dos pais, ou algo semelhante, são poderosas no direcionamento de área da criança, mais do que a própria genética.

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Imagem: Pixabay

Padrões genéticos

Os cientistas encontraram uma relação entre variações em um gene chamado de ROBO1 e diferenças anatômicas de uma área do cérebro bastante relacionada com com a representação de quantidades. Isso moldaria algumas predisposições de proximidade ou não com a matemática principalmente durante a infância. 

Mas não são relações que atrapalham. O ROBO1 relaciona-se com o volume de massa cinzenta no córtex parietal direito. Segundo os próprios autores, a influência principal está na facilidade com a matemática no início do período escolar da criança. No entanto, a infância exerce grande influência no desenvolvimento adulto, e afastar alguns da matemática, como constatamos diariamente nas escolas.

“Os padrões de volume da substância cinzenta nessas regiões revelaram associações significativas com os resultados dos testes de matemática entre 7 e 9 anos de idade na segunda série”, observam os pesquisadores no estudo.

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O gráfico demonstra o peso de cada Gene analisado. Imagem: KEIDE M. el al.

Familiaridade com matemática

Os pesquisadores analisaram 18 polimorfismos de nucleotídeo único, ou SNPs (um nome bonito para se referir a algumas variações genéticas que afetam apenas algumas bases nitrogenadas, importante bloco de construção do DNA) presentes em 10 genes diferentes.

O papel do  ROBO1 está no desenvolvimento pré-natal (ou seja, ainda do feto, antes do nascimento) de algumas camadas de tecido neural. A massa cinzenta no córtex parietal direito, por sua vez, está envolvida com a representação de quantidades e, consequentemente, de números. Ao medir a massa cinzenta nessa região do cérebro de crianças entre 3 e 6 anos de idade sem instrução formal em matemática, os cientistas constataram a relação.

“Nosso estudo indica que até um quinto da variação na habilidade matemática pode ser previsto a partir de diferenças individuais iniciais no volume do córtex parietal direito, que está relacionado ao gene de crescimento cortical ROBO1”, concluem os pesquisadores. “Esses resultados sugerem que a variabilidade genética pode moldar a habilidade matemática ao esculpir o desenvolvimento inicial do sistema de processamento de quantidade básico do cérebro”.

Mas ainda há uma grande incógnita dos outros responsáveis na habilidade matemática. Os pesquisadores atribuem apenas um quinto da variação na familiaridade com matemática ao ROBO1. É claro que um único gene não determina quem a pessoa é, ou quem deixa de ser.

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