Estrela pode ter explodido após engolir um buraco negro

Jônatas Ribeiro
Imagem: M. Garlick/University of Warwick

Nem todos sabem disso, mas os corpos celestes não são eternos no universo. A vida de uma estrela como o Sol, além de ser finita, pode ser bastante turbulenta em alguns momentos. Por exemplo, falemos de um dos fenômenos mais fascinantes da astronomia, as supernovas. Elas são brilhantes explosões estelares, que podem chegar a ser visíveis até de dia no céu, dependendo da distância e do tipo de explosão. Também são grandes laboratórios de criação de elementos químicos, já que jorram grandes quantidades de matéria em altíssimas velocidades. Esses impressionantes e belos eventos, contudo, podem marcar o final da vida de uma estrela.

Existem dois tipos de supernova, as de tipo I, divididas em Ia, Ib e Ic, e de tipo II. Normalmente, estrelas de baixa massa, como o Sol, se vão de forma menos dramática. Elas vão extinguindo seu combustível, crescem como gigante vermelha, e acabam expelindo a maior parte de si. Deixam, então, uma espécie de caroço, chamado de anã branca, e uma bela nuvem de gás à sua volta, chamada de nebulosa planetária. Essa é a chave para entender as supernovas de tipo Ia. Duas estrelas se orbitam num sistema binário (duplo), uma é uma gigante vermelha, já em idade avançada, e a outra uma anã branca. Pela gravidade, a anã branca atrai matéria de sua companheira. Adquirindo mais massa do que poderia suportar, acaba colapsando e explodindo. É de um processo como as supernovas de tipo II, porém, que vêm os famosos buracos negros.

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Nebulosa do Carangueijo. Imagem: Wikimedia Commons

O colapso de uma estrela

Nas supernovas de tipo II, a história é um pouco diferente. Isso porque elas vêm de estrelas muito mais massivas que o Sol. Lembrando que estrelas produzem energia a partir de seu combustível nuclear, essas estrelas crescem e fazem a fusão nuclear até um ponto crítico. Basicamente, até chegar a produzir ferro. Não podendo produzir elementos mais pesados, a estrela não consegue produzir energia para sustentar a própria gravidade. Então, acaba colapsando e ocorre liberação matéria de forma violenta, que é a supernova. O processo deixa um corpo muito massivo chamado estrela de nêutrons.

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Buraco negro Messier 87. Imagem: Event Horizon Telescope

Contudo, até mesmo antes da supernova, dependendo da massa, esse colapso pode gerar o que chamamos de buraco negro. Esses objetos são conhecidos por serem extremamente massivos, até mais do que uma estrela de nêutrons. Ou seja, sua atração gravitacional é enorme. De fato, é tão grande que nem a luz pode escapar deles, o que explica seu nome. Mas há mais questões nessa história. A teoria prevê que o processo que gera uma estrela de nêutrons ou um buraco negro pode acontecer antes do combustível acabar. A explicação para isso é ainda mais curiosa. Tem a ver com a absorção de uma estrela por outra.

Canibalismo estelar

Um artigo publicado na revista Science detalha a observação e análise de um curioso evento. Utilizando um grande radiotelescópio nos EUA, o VLA (Very Large Array), os primeiros indícios foram percebidos em 2017. Os cientistas detectaram uma erupção intensas de raios-x, com brilho semelhante a uma supernova, vindo de uma anã branca. Intrigados, fizeram mais observações. Compararam, também, seus dados com outras observações no mesmo ponto do céu.

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Imagem: Wikimedia Commons

As peças do quebra-cabeça, então, começavam a fazer sentido. A explicação para o evento poderia ser um evento de canibalismo estelar. Haveria um sistemas de estrelas binárias em que uma colapsou, deixando uma estrela de nêutrons ou buraco negro. Esse pequeno e massivo resto de estrela, então, teria atraído a sua companheira, sendo absorvido por ela. O que acontece depois, porém, é ainda mais impressionante. A estrela mais compacta se moveu com o tempo em direção ao núcleo da estrela maior, engolindo-o. O processo, então, acaba colapsando a estrela maior e causando sua explosão.

Astrofísicos já teorizavam sobre esse tipo de evento. É a primeira vez, contudo, que ele pode ter sido observado. Além de servir como informação para estudiosos da evolução estelar, o trabalho pode ser importante até mesmo para ajudar a encontrar ondas gravitacionais. Conhecendo melhor sobre o que aconteceu com essa estrela, podemos saber melhor como procurar por esse tipo de evento no futuro.

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