Estamos vendo o fim da exploração espacial da Rússia?

Felipe Miranda
Imagem: Reprodução

Há algumas décadas, Estados Unidos e União Soviética se enfrentavam no implacável duelo tecnológico e político que ficou conhecido como Guerra Fria. Uma das principais vertentes da Guerra Fria era a exploração espacial – aquele que “dominasse o espaço” tinha mais vantagens no domínio da Terra.

Hoje, entretanto, o que vemos é uma Rússia com pouca participação na exploração espacial. O país tinha sua pouca participação mais destacada quando, após os problemas do ônibus espaciais, os EUA pararam de enviar astronautas ao espaço, e as viagens espaciais ocorriam exclusivamente pelas naves Soyuz, da Rússia.

Hoje, os EUA já conseguem mandar seus astronautas ao espaço novamente, por meio da SpaceX.

Durante boa parte da corrida espacial, a União Soviética liderou os esforços e os avanços. Só foi ultrapassada pelos EUA quando o país levou o ser humano à Lua. Em quase todas as outras conquistas, os soviéticos estavam na frente.

Luna-25

Luna-25 foi uma missão lançada em agosto de 2023 – marcando como a primeira missão lunar da Rússia em quase 50 anos.

A missão pretendia ser a primeira a pousar no polo sul lunar. Entretanto, a sonda acabou entrando em uma trajetória imprevisível ao entrar na órbita lunar. A sonda colidiu com a superfície da Lua e foi destruída.

Conforme Yuri Borisov, chefe da Roscosmos, a agência espacial russa, o fracasso da missão foi atribuído, até o momento, a uma queima anormal dos motores. A queima, que deveria durar cerca de 84 segundos durou 127 segundos.

“Durante a operação, ocorreu uma situação de emergência a bordo da estação automática, que não permitiu que a manobra fosse realizada com os parâmetros especificados”, disse a Roscosmos em um post no Telegram, conforme a CNN.

O desastre foi atribuído à alta corrupção que existe na Rússia e projetos irreais que deixaram políticos ansiosos. Além disso, conforme a Agência Brasil, diversos cientistas russos criticaram o declínio no ensino da educação científica no país.

A nova corrida espacial

Enquanto isso ocorre, novos jogadores apareceram para competir. A China já lança seus astronautas por conta.

A Índia é outro país que se destaca na exploração espacial nos dias de hoje. No dia 23 de agosto de 2023, menos de uma semana após o fracasso da missão russa ao polo sul lunar, a Índia realizou o feito com sucesso. A Índia já havia realizado empreitadas à Lua em 2009 e 2019 – esta última tentou um pouso -, mas só agora obteve êxito em tocar o solo lunar.

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Transmissão ao vivo do pouso em um auditório na Gujarat Science City, em Ahmedabad, na Índia. Imagem: Reuters/Amit Dave.

A Índia se destacou por sua exploração espacial de baixo custo e porque há poucas décadas estava no mesmo patamar de desenvolvimento tecnológico para o espaço do que o Brasil.

O começo do fim da exploração espacial da Rússia?

A Rússia já não é mais a superpotência que foi a União Soviética, e não consegue colocar tanto dinheiro na exploração espacial. Equipamentos e tecnologias desenvolvidas durante a era soviética certamente ajudam a Rússia até hoje – vide a espaçonave Soyuz, que até poucos anos atrás lançava os astronautas americanos. Entretanto, o mundo é outro, e a situação é outra.

“Os problemas com a Roscosmos existiam certamente antes da invasão da Ucrânia”, disse John Logsdon, fundador do Instituto de Política Espacial da Universidade George Washington, ao portal The Daily Beast. “Eles não tiveram financiamento adequado ou prioridade adequada, mas tiveram muita corrupção”.

Em 2014 a Rússia entrava em um conflito com a Ucrânia, quando invadiu o país. Em 2015, como corte de gastos para equilibrar as despesas com a guerra, Moscou cortou mais de um terço do orçamento da Roscosmos, que tinha projetos ambiciosos, como lançar uma estação espacial própria até 2023. Em 2018, novos cortes, de mais de 2 bilhões de dólares, ocorreram.

Em 2021, novos cortes ocorreram em decorrência aos prejuízos causados pela Guerra da Ucrânia e pela pandemia da covid-19.

Os especialistas ainda falam sobre a alta militarização do programa espacial russo. A Roscosmos não possui autonomia, e a Força Espacial Militar russa controla todos os lançamentos e a atividade da agência civil.

“Eles poderiam dizer – como os EUA fizeram após falhas no ônibus espacial, ou o incêndio da Apollo 1, ou algumas de nossas falhas em Marte – que não é aceitável e temos que voltar para onde queremos estar. Ou poderiam dizer: ‘Não vamos jogar dinheiro bom atrás de ruim’ e desenfatizar o programa civil”, diz Logsdon ao The Daily Best.

Além do efeito da corrupção e das crises financeiras, há o efeito político, já que em 2024 a Rússia não fará mais parte do projeto da ISS, a Estação Espacial Internacional.

Qual será o resultado de tudo isso? Em alguns anos, veremos.

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