Enxames de abelhas produzem tanta carga elétrica quanto uma tempestade

Felipe Miranda

Às vezes os enxames de abelhas podem ser assustadores. Barulhentos e enormes, eles são mortais para qualquer desentendido pego de surpresa. Agora, os cientistas estão encontrando mais uma coisa assustadora sobre esses enxames. Aparentemente, um enxame de abelhas podem produzir tanta carga elétrica quanto uma tempestade.

Enquanto uma equipe de cientistas estava estudando o clima em uma estação na Inglaterra, algo curioso foi observado. Não havia nenhuma tempestade se aproximando, mas os monitores de campos elétricos dos cientistas mostravam um aumento na carga elétrica atmosférica.

Nas proximidades da estação de clima, havia algumas colmeias de abelhas-europeias utilizadas também para pesquisas. Um enxame estava voando tentando encontrar um novo lar. Ao olha bem os dados, notaram que aquela carga elétrica atmosférica provinha desse enxame de abelhas fervilhando pelas redondezas da estação de pesquisa.

“Sempre analisamos como a física influenciava a biologia, mas em algum momento percebemos que a biologia também pode estar influenciando a física. Estamos interessados ​​em como diferentes organismos usam os campos elétricos estáticos que estão em praticamente todos os lugares do ambiente”, diz em um comunicado Ellard Hunting, o autor principal do estudo.

O artigo que descreve o novo estudo foi publicado na revista iScience.

Por que e como as abelhas podem produzir tanta carga elétrica quanto uma tempestade?

É um tanto assustador o fato de que as abelhas podem produzir tanta carga elétrica quanto uma tempestade. Mas não se preocupe, pois nenhuma abelha irá te eletrocutar. São necessárias cerca de 50 bilhões de abelhas para acender uma única luz de LED. O ponto do estudo é o aumento do campo elétrico de fundo entre duas e dez vezes.

abelhas podem produzir tanta carga elétrica quanto uma tempestade
Enxames de abelhas podem produzir tanta carga elétrica quanto uma tempestade. Imagem: Hunting et al.

“Estudamos como diferentes organismos usam os campos elétricos estáticos que estão praticamente em todos os lugares do ambiente”, diz Hunting ao Popular Science.

“Por exemplo, as flores têm um campo elétrico e as abelhas podem sentir estes campos. E estes campos elétricos das flores podem mudar quando uma abelha os visita, e outras abelhas podem usar esta informação para ver se uma flor foi visitada. Ou as árvores criam um campo elétrico maior na atmosfera, e as aranhas podem usar este campo elétrico para decolar e voar, permitindo que elas migrem por grandes distâncias”, completa o pesquisador.

Segundo os cientistas, os enxames de abelhas podem alterar a eletricidade atmosférica entre 100 e 1000 volts por metro. A carga depende de um fator do próprio enxame; quando mais denso o enxame de abelhas, maior a carga elétrica produzida por ele. Um enxame de abelhas muito denso, segundo os cientistas, pode ter uma densidade de carga tão alta que essa carga pode ser oito veze maior do que uma nuvem de tempestade e seis vezes maior do que uma tempestade de poeira eletrificada.

Os pesquisadores citam que se interessaram por outras espécies de animais que voam em enxames, e tentaram extrapolar seu estudo para nuvens de animais como os gafanhotos nas histórias bíblicas.

“Também calculamos a influência dos gafanhotos na eletricidade atmosférica, pois os gafanhotos enxameiam em escalas bíblicas, medindo 460 milhas quadradas com 80 milhões de gafanhotos em menos de uma milha quadrada; sua influência é provavelmente muito maior do que as abelhas”, diz Liam O’Reilly, coautor do estudo e biólogo da Universidade de Bristol.

“Só recentemente descobrimos que a biologia e os campos elétricos estáticos estão intimamente ligados e que existem muitas ligações insuspeitas que podem existir em diferentes escalas espaciais, desde micróbios no solo e interações planta-polinizador até enxames de insetos e talvez o circuito elétrico global”, diz Ellard.

O coautor do estudo Giles Harrison destaca: “A interdisciplinaridade é valiosa aqui – a carga elétrica pode parecer que vive apenas na física, mas é importante saber o quão consciente todo o mundo natural está da eletricidade na atmosfera”.

Compartilhar