Guerra de Canudos

Letícia Silva Jordão
Imagem: Quatrocentos jagunços prisioneiros (Flávio de Barros/Acervo Museu da República)

Apenas sete anos após a Proclamação da República no Brasil, surge no sertão da Bahia um dos conflitos mais emblemáticos da história nacional: a Guerra de Canudos. Sendo batizada por ter sido travada no Arraial de Canudos, a guerra consistiu na revolta de uma comunidade autônoma contra a exploração do Estado.

Iniciada em 7 de novembro de 1896 e terminada em 5 de outubro de 1897, a Guerra de Canudos expôs uma realidade que o Brasil da época estava enfrentando, onde os religiosos sertanejos viam a República como a encarnação do “anticristo”.

Mas, para entender o porquê dessa visão que os sertanejos tinham do Estado, é preciso entender melhor uma das principais figuras do conflito, que liderou e influenciou o movimento.

Antônio Conselheiro e o messianismo da época

Antônio Vicente Mendes Maciel, mais tarde apelidado de Antônio Conselheiro, nasceu na vila de Quixeramobim, no interior do Ceará. Originado de uma família mediana, Antônio teve uma educação diversa, mas não conseguiu seguir com os negócios da família, o que fez com que ele começasse a vaguear pelo sertão nordestino.

Nas suas andanças, ele construiu Igrejas, cemitérios e iniciou uma pregação religiosa que defendia um cristianismo mais primitivo, onde ele dizia que os homens deveriam se livrar das opressões e injustiças às quais eram impostas para superar seus problemas de acordo com os princípios cristãos. A sua palavra chamou a atenção dos sertanejos, que cada vez mais começaram a virar seguidores de Antônio. 

Na época, havia no Brasil uma presença forte do fenômeno do messianismo, e com as palavras imbuídas de leituras de personagens místicos do cristiniasmo popular europeu, as pessoas começaram a ligar a figura de Conselheiro a “salvação divina”, como se ele fosse o novo messias a trazer um tempo novo.

E essa imagem de Antônio era fácil de ser atribuída já que os sertanejos da época não estavam vivendo os seus melhores anos no Brasil.

A Vila de Canudos

O local onde mais tarde foi estabelecido como o vilarejo de Canudos, era marcado por latifúndios improdutivos, desemprego e muitas secas que se repetiam e impediam uma boa produção. Nesse cenário, os sertanejos do local viviam em extrema miséria, o que os obrigou a migrar para os arredores da Fazenda de Canudos, que ficava às margens do rio Vaza-Barris.

Nesse momento, a população começou a se organizar ao redor de Antônio Conselheiro, transformando toda a comunidade em uma organização político-religiosa, paralelo à República e à Igreja.

Com a comunidade crescendo cada vez mais e atingindo o número de 25 mil pessoas contando com jagunços bem armados, o Estado e a Igreja começaram a se preocupar com o movimento. De um lado, a Igreja alegava que os seguidores de Antônio eram apegados à heresia e à depravação. Do outro, políticos e senhores de terra diziam que o líder era monarquista e que liderava um movimento que queria derrubar o governo republicano.

A Guerra de Canudos

A Igreja e o Estado já estavam preocupados com a situação de canudos, mas o estopim da guerra só iniciou quando os moradores queimaram documentos oficiais como um ato de rebeldia contra os impostos cobrados na época. A partir daí, os governantes passaram a enxergar a população como fanáticos religiosos e rebeldes monarquistas. Com isso, a Guerra de Canudos iniciou.

No total, o governo realizou quatro expedições militares que mobilizaram 12 mil soldados de 17 estados diferentes. Surpreendentemente, a comunidade conseguiu se defender das três primeiras investidas, resultando até na morte do comandante das tropas federais em combate.

Porém, a última investida em 1897 pôs fim à Guerra de Canudos. A última expedição contava com metralhadoras e canhões que massacrou os homens e rapazes aptos para o combate. O restante da população também foi destruída, incluindo as mulheres, idosos e crianças.

No momento da quarta investida, Antônio Conselheiro já havia morrido alguns meses antes de disenteria, mas os soldados exumaram seu corpo e deceparam sua cabeça, enviada para realizar estudos e analisar as características do crânio de um “louco fanático”.O episódio da Guerra de Canudos foi descrito no romance Os Sertões de Euclides da Cunha, onde o escritor encerrou seu romance dizendo que o episódio figura entre “as loucuras e os crimes das nacionalidades…”.

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