Dentro de uma década, o Ártico passará por períodos ‘livre de gelo’

Leandro da Silva Monteiro
Foto do oceano Ártico. Imagem: Wikimedia Commons

As mudanças climáticas são uma das grandes preocupações da modernidade. Dentre as muitas consequências, uma que os cientistas vêm alertando há décadas é o aumento da temperatura média do planeta, o famigerado aquecimento global. E cada vez mais o mundo entra num estado alarmante pois, recentemente, o limite de 1,5°C de aquecimento estabelecido durante o Acordo de Paris foi ultrapassado. Se isso já não fosse preocupação o suficiente, pesquisadores da Universidade do Colorado em Boulder reportaram que, dentro de uma década, o Ártico passará por períodos ‘livre de gelo’ durante o verão.

O estudo foi publicado este mês na Nature Reviews Earth & Environment e sugere que nos próximos dez anos haverá a primeira ocorrência sem gelo no Ártico. Tais projeções não são exatamente novas, pois cientistas já calculavam que a região enfrentaria  períodos de um mês ou mais sem gelo no futuro. Contudo o que o estudo revelou é que isso ocorrerá muito antes do que haviam concluído anteriormente.

Como o Ártico pode ficar ‘livre de gelo’

As novas projeções estimam que já na metade do século XXI o Ártico provavelmente passará todo um mês, setembro, quando a região se encontra no verão, sem gelo flutuando na sua área marinha. E, caso a tendência atual não se altere, até a chegada do novo século o Ártico terá estações, ou seja vários meses, ‘livre de gelo’. Tal fenômeno poderá ocorrer até mesmo durante o inverno.

Vale destacar que quando os cientistas usam o termo ‘livre de gelo’, ou em inglês ice-free, não significa que o Ártico ficará literalmente sem gelo. Na verdade, o termo se refere a um período que o oceano possui menos do que um milhão de quilômetros quadrados de gelo. Esse limite representa 20% da menor cobertura de gelo observada durante a década de 80. O menor valor observado nesses últimos anos foi de um pouco mais de 3 milhões de quilômetros quadrados durante o mês de setembro. 

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Imagem: Susanne Miller/Domínio Público

Uma das pesquisadoras envolvidas no estudo é Alexandra Jahn. Ela é professora associada de ciências atmosféricas e oceânicas, além de fazer parte do Instituto de Pesquisa Ártica e Alpina na Universidade do Colorado em Boulder. Junto da sua equipe, Jahn estudou a literatura existente sobre as projeções do gelo marinho e cruzou com dados sobre a cobertura de gelo dos modelos climáticos atuais. Esses modelos buscam determinar qual será o estado do Ártico nos próximos anos.

Ártico ficará ‘livre de gelo’ antes do que se esperava

O que a equipe descobriu é que, com dados mais recentes, as projeções para quando o Ártico atingirá o limite de um milhão de quilômetros quadrados podem se adiantar em quatro até 18 anos. Isto implica que na próxima década já poderão ser observados períodos ‘livre de gelo’ na região. 

“Quando se trata de comunicar o que os cientistas esperam que aconteça no Ártico, é importante prever quando poderemos observar as primeiras condições sem gelo no Ártico, que aparecerão nos dados diários de satélite”, disse Jahn ao Science Daily. As novas projeções da equipe de Jahn colocam o período ‘livre de gelo’ para ocorrer ao fim de agosto ou início de setembro por volta da segunda metade dos anos 2020 até meados de 2030.

O degelo total da região é uma grande preocupação para cientistas pelo impacto que isso gera nos seus ecossistemas. Os principais afetados são animais como as focas e ursos polares, que já vem morrendo de fome por conta do aquecimento global. O aquecimento do oceano também pode fazer com que espécies marinhas, que até então se mantinham afastadas por conta das baixas temperaturas, invadam o oceano Ártico.

“Isso transformaria o Ártico em um ambiente completamente diferente, de um Ártico de verão branco para um Ártico azul. Então, mesmo que as condições sem gelo sejam inevitáveis, ainda precisamos manter nossas emissões o mais baixas possível para evitar condições sem gelo prolongadas”, acrescenta Jahn.

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