De que forma a banana favorita do mundo foi extinta

Daniela Marinho
Imagem: Krares / Getty Images

A banana é uma fruta tropical muito consumida e difundida no Brasil. Aqui, os tipos mais conhecidos são a banana nanica, prata, maçã e banana-terra. Mas a sua popularidade ultrapassa barreiras. Como nos Estados Unidos, onde bananas doces e de procedência confiável são as favoritas, colocando em segundo plano as laranjas e as maçãs.

Nesse contexto, se você comesse bananas antes da década de 1950, provavelmente estaria saboreando o tipo Gros Michel. No entanto, no início da década de 1960, todas elas foram substituídas pelo Cavendish, que ainda é muito consumido hoje em dia.

Se comparado ao Gros Michel, o Cavendish é menos firme e menos saboroso, segundo “especialistas” da época que tinham preocupações sobre a sua aceitação pelos consumidores.

Mas como e por que ocorreu essa grande substituição de bananas? A resposta envolve clones, comércio internacional e a persistência de um fungo.

A banana Gros Michel

Também conhecida como Big Mike, a banana Gros Michel foi exportada nas Américas através da ilha caribenha de Martinica por Nicolas Boudin, um naturalista francês, e posteriormente levada para a Jamaica pelo botânico francês Jean Francois Pouyat, de acordo com o livro “Banana, The Fate of the Fruit that Changed the World” de Dan Koeppel.

A partir da década de 1830, as bananas passaram a ser enviadas do Caribe para cidades portuárias nos Estados Unidos. Com melhorias no transporte, como ferrovias, estradas, teleféricos e navios mais rápidos, a fruta se tornou amplamente disponível, até mesmo em regiões mais internas.

No início do século 20, as plantações de banana passaram a exportar a variedade Gros Michel, que possuía casca grossa e era fácil de transportar. Essa variedade se tornou fundamental para as economias de diversos países e foi responsável por popularizar e normalizar o consumo de bananas em áreas onde não eram cultivadas, desempenhando um papel crucial no comércio internacional.

A doença do Panamá

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Imagem: Canva

No final do século XIX, a doença do Panamá, como ficou conhecida a doença transmitida por um fungo que causa a murcha da bananeira se espalhou pelo norte do Panamá, causando perdas gigantescas de bananeiras no Suriname, em Honduras e Costa Rica.

A praga conhecida como Doença do Panamá, Raça 1, devastou vastas áreas de plantações de banana, impossibilitando o replantio em solos infectados, ocorreu na perda de dezenas de milhares de hectares. Sem alternativas viáveis, o setor da banana teve que adotar um cultivo totalmente novo, a Cavendish, por sua resistência à doença. A transição foi demorada, mas concluída nos anos 1960.

Agora, enfrentamos a ameaça da Raça 4 da doença, que afeta as bananas que atualmente consumimos. A doença não afeta a saúde das pessoas que comem as bananas das árvores cultivadas, mas compromete a produção da planta à medida que ela morre lentamente.

Raça 4

A Raça 4, uma nova variante da doença do Panamá (também chamada de TR4 ou murcha de fusarium), surgiu na década de 1980, afetando plantações nos subtrópicos e espalhando-se para o Vietnã, Laos, Paquistão, Índia, Moçambique e Austrália. Em 2019, a Colômbia também provocou a infestação. Essa doença ameaça seriamente as plantações de bananas Cavendish, que são clones e, portanto, menos resistentes a patógenos.

Ao contrário das plantas que se reproduzem por sementes e possuem maior diversidade genética e resistência, as bananas Cavendish têm um sabor uniforme, previsível e aparência consistente devido à sua clonagem. Essa característica como torna-se independente de doenças, fungos e pragas, colocando-se em risco a oferta global de bananas e afetando a nutrição básica de milhões de pessoas em várias regiões do mundo.

Até o momento, não foram encontrados pesticidas ou tratamentos eficazes para conter a doença do Panamá, representando um desafio significativo para a indústria e a segurança alimentar.

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