Cuidar das emoções negativas pode proteger o cérebro da velhice

De que forma o seu cérebro age com as informações negativas?

Felipe Miranda
Imagem: Pixabay

Em um novo estudo publicado no periódico Nature Agin, um grupo de pesquisadores demonstrou que uma boa gestão das emoções negativas podem ajudar a limitar a neurodegeneração – ou seja, uma diminuição e uma prevenção do envelhecimento do cérebro.

A ideia da equipe era entender os motivos pelos quais o estresse e a ansiedade frequente são fatores de rico para ações neurodegenerativas, como a demência.

“Estamos começando a entender o que acontece no momento da percepção de um estímulo emocional”, disse em um comunicado da Universidade de Genebra a Dra. Olga Klimecki, pesquisadora do Centro Suíço de Ciências Afetivas da UNIGE.

“No entanto, o que acontece depois permanece um mistério. Como o cérebro muda de uma emoção para outra? Como ele retorna ao seu estado inicial? A variabilidade emocional muda com a idade? Quais são as consequências para o cérebro da má gestão das emoções?”

Os estudos sobre o assunto geralmente foram em pontos como a memória, as funções cognitivas e funções semelhantes do cérebro e suas relações com o envelhecimento. No entanto, as emoções tiveram menor atenção das pesquisas do que merecem, já que são um ponto bastante importante quando nos referimos ao cérebro.

As emoções, como bem sabemos, influenciam a nossa saúde física e, principalmente, psicológica. Mas não há uma certeza de como o cérebro muda de acordo com a maneira em que é exposto a essas emoções. Dessa forma, não gerenciar essas informações negativas podem ter grandes efeitos em nossa saúde no longo prazo.

“Nosso objetivo era determinar qual traço cerebral permanece após a visualização de cenas emocionais, a fim de avaliar a reação do cérebro e, acima de tudo, seus mecanismos de recuperação”, disse o pesquisador Patrik Vuilleumier, professor do Departamento de Neurociências Básicas da Faculdade de Medicina e do Centro Suíço de Ciências Afetivas da UNIGE. “Nós nos concentramos nos idosos, a fim de identificar possíveis diferenças entre o envelhecimento normal e patológico”.

O envelhecimento do cérebro e as emoções negativas

Os pesquisadores avaliaram como o cérebro dos mais velhos reagem às informações negativas – se essas reações são parecidas com os cérebros de pessoas mais jovens. As comparações são entre cérebros em torno dos 65 anos e dos 25 anos de idade.

Por meio da ressonância magnética funcional (fMRI), os pesquisadores estudaram a capacidade dos participantes em regular e gerir as emoções após ver vídeos de pessoas que passavam por um estado de sofrimento emocional .

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Ativação cerebral entre os mais jovens e os mais velhos durante os períodos de descanso após vídeos de alta emoção. Imagem: Baez-Lugo et al., 2023, Nature Aging

“As pessoas mais velhas geralmente mostram um padrão diferente de atividade cerebral e conectividade das pessoas mais jovens”, diz Sebastian Baez Lugo, que é o primeiro autor do estudo. “Isso é particularmente perceptível no nível de ativação da rede de modo padrão, uma rede cerebral que é altamente ativada em estado de repouso”.

As pessoas mais velhas possuem uma propensão maior à inércia emocional, onde o estado emocional de uma pessoa é resistente à mudança. Isso significa que as mudanças no cérebro ocasionadas pelas emoções negativas no cérebro persistem por mais tempos em pessoas mais velhas.

“Sua atividade é frequentemente interrompida por depressão ou ansiedade, sugerindo que está envolvida na regulação das emoções. Nos idosos, parte dessa rede, o córtex cingulado posterior, que processa a memória autobiográfica, mostra um aumento em suas conexões com a amígdala, que processa estímulos emocionais importantes. Essas conexões são mais fortes em indivíduos com altos escores de ansiedade, com ruminação ou com pensamentos negativos”, diz Lugo.

“É a má regulação emocional e a ansiedade que aumentam o risco de demência ou o contrário? Ainda não sabemos”, explica Lugo. “Nossa hipótese é que pessoas mais ansiosas teriam nenhuma ou menos capacidade de distanciamento emocional. O mecanismo de inércia emocional no contexto do envelhecimento seria então explicado pelo fato de que o cérebro dessas pessoas permanece “congelado” em um estado negativo, relacionando o sofrimento dos outros com suas próprias memórias emocionais”.

Agora, a equipe está em busca de entender os efeitos da meditação mindfulness e meditação compassiva no envelhecimento de nossos cérebro. Os resultados serão publicados em um novo estudo.

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