Desde o começo de 2020 há grande preocupação quanto a contaminação de pessoas pelo vírus da Covid-19. A doença ainda é nova, mas os cientistas já apontam que ela é capaz de causar uma série de problemas na saúde humana. Inclusive, a doença de Parkinson é uma que pode aparecer em pessoas que enfrentaram o vírus.
Um efeito parecido foi observado após a pandemia de gripe espanhola, no começo do século passado. Até o momento, sabemos que a Covid-19 tem relação com danos cerebrais, sintomas neurológicos e a perda de memória. Contudo, não está claro como a doença pode incapacitar pacientes e qual seu efeito final.
Ainda não sabemos tudo sobre os efeitos da Covid-19
Os cientistas imaginam que o vírus pode prejudicar as células cerebrais, o problema é que eles não sabem como medir essa condição. Um novo estudo dos mesmos autores propõe que a “terceira onda” talvez não seja o ressurgimento das infecções, mas sim um aumento nos casos de doença de Parkinson.
“Embora os cientistas ainda estejam aprendendo como o vírus SARS-CoV-2, ele é capaz de invadir o cérebro e o sistema nervoso central. O fato de que está entrando é claro”, comentou o neurocientista Kevin Barnham, do Instituto Florey de Neurociência e Saúde Mental, da Austrália.
Não existem evidências concretas dessa hipótese. Em 1918, com a gripe espanhola, uma inflamação no cérebro chamada encefalite letárgica aumentou em duas ou três vezes o risco de Parkinson. Conforme o especialista, a pandemia do século 20 é interessante para fornecer uma visão neurológica da situação atual.
“Dado que a população mundial foi atingida novamente por uma pandemia viral, é realmente muito preocupante considerar o potencial aumento global de doenças neurológicas que poderiam se desenvolver no futuro”, disse Barnham.
Os pesquisadores sugerem que a melhor forma de identificar futuros casos seria pelo rastreamento de longo prazo nos pacientes de SARS-CoV-2. Assim, após a recuperação deveria existir um monitoramento de expressões em relação às doenças neurodegenerativas.
Qual a relação entre Covid-19 e a doença de Parkinson?
Um relatório publicado em Israel mostra os riscos que Barnham e seus colegas estão avaliando. Talvez seja o primeiro caso documentado de um paciente com a doença de Parkinson desenvolvida após a infecção por SARS-CoV-2. É um homem de 45 anos que foi hospitalizado em março, com sintomas da Covid-19.
Em seguida, ele começou a apresentar dificuldades de comunicação, na fala e na escrita. Além disso, passou a demonstrar sinais de tremor e dificuldade de locomoção. Os médicos do homem dizem que a sua neurodegeneração não está clara, mas que pode ter sido causada por uma inflamação no cérebro.
Eles chamam a associação de “intrigante”, já que foi pequeno o tempo entre a infecção por Covid-19 e o desenvolvimento dos sintomas de Parkinson. Além disso, ele não tinha histórico familiar ou sinais genéticos de predisposição. Ainda assim, alguns acreditam que o vírus pode acelerar esse processo.
“Não é que essas exposições tenham causado o mal de Parkinson, mas agiram como precipitantes, exacerbando os sintomas sutis de Parkinson a um limiar de gravidade, tornando-os perceptíveis pela primeira vez a pacientes e médicos”, explicou o neurologista Alberto Espay, da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos.
O médico acredita que futuros casos de Parkinson possam ser detectados precocemente, basta saber como reconhecê-los. Então, é preciso fazer isso antes que a condição esteja totalmente desenvolvida. Quando esse tempo é ultrapassado, as terapias neuroprotetoras perdem efeito.
A pesquisa foi publicada no Journal of Parkinson’s Disease.