Contestado, estudo afirma que pontos de 20 mil anos são as escritas mais antigas do mundo

Felipe Miranda
Imagem: Bacon et al.

Um estudo publicado agora em janeiro por uma equipe de pesquisadores no periódico Cambridge Archaeology Journal sugere que alguns pontos escritos junto a pinturas rupestres são o mais antigo tipo de linguagem escrita da história. Os pontos e traços possuem mais de 20 mil anos de idade e foram criados por seres humanos vivendo na Europa durante a pré-história.

No estudo, a equipe sugere que esses pontos, traços e símbolos em formato de y são um sistema de escrita sofisticado. Conforme os pesquisadores, quando ao lado de ilustrações de animais, os sinais mostram a compreensão dos humanos da época no local sobre o acasalamento e nascimento de espécies animais que habitavam o local.

“Em pelo menos 400 cavernas europeias, como Lascaux, Chauvet e Altamira, grupos de Homo sapiens do Paleolítico Superior desenharam, pintaram e gravaram sinais não figurativos […]”, escrevem os pesquisadores no artigo. “Desde a sua descoberta há cerca de 150 anos, o propósito ou significado dos sinais não figurativos do Paleolítico Superior Europeu tem escapado aos pesquisadores”.

“Usando um banco de dados de imagens que abrangem o Paleolítico Superior Europeu, sugerimos como três dos sinais que ocorrem com mais frequência – a linha <| >, o ponto <•> e o — funcionavam como unidades de comunicação.”, explicam.

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Imagem: Bacon et al

Ao analisar as marcas, os pesquisadores notaram que nenhuma das séries possuíam mais de 13 marcas. Isso consiste com os 13 meses lunares que existem durante cada ano. As análises também demonstraram uma relação dos pontos junto às pinturas de cada animal como o mês lunar em que eles geralmente acasalam.

Em relação ao sinal parecido com Y, os pesquisadores acreditam que representa a estação de nascimento do animal.

Questionamentos

Ao Live Science, Abril Nowel, arqueóloga paleolítica da Universidade de Victoria, no Canadá, disse que “qualquer estudo que explore sinais não figurativos com mais detalhes é bem-vindo, mas acho que há uma série de suposições sendo feitas aqui que ainda precisam ser comprovadas.

Nowell, que não esteve envolvida com o estudo, questiona o sinal Y. “A maioria dos animais considerados neste estudo são quadrúpedes, e os seres humanos normalmente se agacham dando à luz. Se este sinal é suposto ser icônico do processo de nascimento, não é óbvio para mim”, disse a pesquisadora.

Ao Live Science, a paleoantropóloga da Universidade Estadual de Portland, Mélanie Chang, disse que concorda com os pesquisadores que “as pessoas do Paleolítico Superior tinham a capacidade cognitiva de escrever e manter registros de tempo”. No entanto, ela diz que as “hipóteses dos pesquisadores não são bem apoiadas por seus resultados, e também não abordam interpretações alternativas das marcas que analisaram”.

Chang acredita que os sinais em Y podem representar a borda do músculo braquiocefálico, uma proeminência bastante visível no pescoço do cavalo. Ela também dá outra hipótese: “Em outros casos, é possível que o que eles registraram como Y represente o que os cavalos modernos se referem como ‘marcas primitivas’, como barras de pernas associadas a cores de cavalos selvagens, ou podem representar padrões de cabelo ou outras características anatômicas”.

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(Imagem: Bacon et al).

Nowell apresenta, ainda, uma crítica sobre a abordagem da equipe: “Há pelo menos 32 sinais recorrentes diferentes. Os autores optaram por estudar três deles em um contexto muito específico”.

Mas há o outro lado também.

“Parecia sensato se concentrar primeiro nas marcas mais comuns associadas a imagens figurativas. Pontos e linhas simples são de longe os mais comuns. Dos sinais mais elaborados, o sinal Y é o mais comum”, disse ao Live Science Paul Pettitt, coautor do estudo.

“Estamos analisando outros sinais. Em vez de procurar o significado dos signos individuais, o que estamos procurando são as bases linguísticas e cognitivas que sustentam o sistema de ‘escrita’.”, disse Bennett Bacon, autor principal do estudo.

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