Cientistas criam dedo robótico com pele humana

Dominic Albuquerque
Dedo robótico. Imagem: Shoji Takeuchi

Já estamos acostumados a ver robôs, ciborgues e androides nas telas do cinema, como o personagem Ultron, do Universo Marvel, ou no jogo Detroit Become Human, no qual os androides possuem uma aparência idêntica à espécie humana, cumprindo funções do cotidiano que nos auxiliam.

Até então, não produzimos nada tão complexo assim, mas há um avanço ocorrendo. Uma equipe japonesa criou um dedo robótico coberto com pele viva, oriunda de células da pele humana. O processo deixou o dedo com uma aparência humana, com a pele podendo inclusive se mover, possuindo uma flexibilidade familiar.

Ao tocá-la, a pele também parece mais humana do que peles robóticas feitas de silicone; além disso, é possível ainda remendá-la no caso de cortes ou rasgos.

Shoji Takeuchi, engenheiro especializado em sistemas biohíbridos da Universidade de Tóquio, no Japão, disse que, ainda que alguns robôs com pele de silicone pareçam humanos a certa distância, uma inspeção próxima logo revela que são artificiais. Portanto, ele e sua equipe voltaram-se para a robótica biohíbrida como forma de solucionar essa questão.

“Nós acreditamos que a única forma de alcançar uma aparência que pode ser confundida com a de um humano é cobrindo-o com o mesmo material de um humano – células da pele vivas”.

Fabricando um dedo robótico com pele humana

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Imagem: Shoji Takeuchi

Para criar a cobertura, Takeuchi e seus colegas elaboraram um tipo de mistura de tecidos da pele, moldando o material em torno do dedo robótico. A aplicação da pele ocorreu em duas partes.

Primeiro, a equipe misturou colágeno com fibroblastos dérmicos humanos, os dois principais ingredientes nos tecidos conjuntivos da pele. Então, o dedo foi mergulhado nessa solução, e enquanto descansava numa incubadora por três dias, essa “derme” artificial aderiu ao dedo, à medida que os tecidos naturalmente encolhiam para formar uma cobertura próxima e sólida ao seu redor.

Essa cobertura inicial serviu como base para a aplicação e moldagem de uma segunda cobertura, uma “epiderme”, feita das mesmas células humanas que compreendem cerca de 90% da nossa própria pele. Essa segunda solução foi derramada sobre o dedo múltiplas vezes, de vários ângulos, e deixada em descanso por duas semanas para produzir o produto final, cujos detalhes foram publicados na revista Matter.

O resultado foi uma pele com textura humana. Quando cortada ou rasgada, ela pode ainda ser tratada com a aplicação de um curativo de colágeno, que gradualmente se torna parte da própria pele.

O futuro dos robôs e da vida artificial

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Até que ponto queremos que os robôs se pareçam conosco? Imagem: Pixabay

Esse tipo de criação e avanço desperta não apenas a curiosidade, mas o debate acerca de uma questão específica: quão inteligentes e similares aos humanos nós queremos que os robôs sejam?

As reações a isso variam. Um estudo do Instituto de Tecnologia da Georgia descobriu que a maioria dos estudantes universitários adultos preferiam robôs com aparência de robôs, enquanto adultos mais velhos preferiam os com aparência mais humana.

O papel do robô também é um fator interessante. A maioria dos indivíduos no estudo preferiam que robôs de limpeza tivessem uma aparência de máquina, por exemplo, enquanto os que se comunicam conosco e realizam tarefas “inteligentes”, como fornecer informações, deveriam ter uma aparência mais humana.

Estudos de neurociência também investigaram os sentimentos humanos por robôs, e descobriram que nossa empatia por eles, quando são tratados de maneira dura ou áspera, ainda não está no mesmo nível que sentimos por outros humanos. Ou seja, vemos robôs como inferiores, então dar a eles uma aparência mais humana poderia afetar essa visão e relação.

Maria Paola Paladino, que estuda a atitude humana diante robôs na Universidade de Trento, Itália, aponta alguns aspectos interessantes, descrevendo nossa relação com robôs parecidos com nossa espécie como algo paradoxal.

Por um lado, os humanos querem que os robôs de aspecto “social” (que interagem conosco e realizam tarefas complexas) se pareçam o suficiente com humanos, em sua aparência e comportamento, para cumprir nossas necessidades emocionais e de relacionamento. Por outro, robôs que são “humanos demais” podem ameaçar nosso senso de identidade humana, e do que nos torna únicos.

“Se você tem máquinas que são muito similares a nós, você começa a ter essa indefinição da identidade humana, e as pessoas podem se sentir ameaçadas por isso”, diz ela. “Se eles são tão humanos quanto eu, o que significa ser humano?”

Paladino acredita que nossa relação e postura diante os robôs vai continuar a evoluir, para melhor ou pior, à medida que os humanos tiverem mais experiências com máquinas inteligentes. Assim, os robôs que criamos vão moldar a relação que temos com eles. “O que a psicologia social nos ensina é que os humanos

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