Todos sabemos que se manter hidratado é fundamental para garantir a sobrevivência na Terra. Mas, alguns animais desenvolveram formas criativas de se manter hidratados no dia a dia. Um deles é o besouro, que tem a capacidade de beber água a partir de seu reto.
Esse fato sozinho espanta muita gente, mas para a comunidade científica ele não é novidade. Já faz mais de um século que os cientistas conhecem essa habilidade nata dos besouros.
Mas, a novidade em relação a isso é que um novo estudo mostrou como os besouros conseguem se hidratar pelo reto e ainda acharam um importante componente que este inseto produz para manter a hidratação em dia mesmo em locais secos.
Os besouros extraem água dos alimentos
Segundo o biólogo Kenneth Veland Hallberg, da Universidade de Copenhague, o que permite que os besouros sobrevivam em ambientes secos se dá a uma funcionalidade interessante que o organismo destes pequenos insetos tem.
“Um besouro pode passar por um ciclo de vida inteiro sem beber água líquida. Isso ocorre por causa de seu reto modificado e rins estreitamente aplicados, que juntos formam um sistema de múltiplos órgãos altamente especializado em extrair água dos alimentos que comem e do ar ao seu redor” diz o biólogo.
E isso pôde ser comprovado a partir da análise de amostras de fezes de besouros. O cientista afirma que muitas delas estavam completamente secas, mostrando que o inseto tinha a capacidade de extrair água de suas fezes para manter o restante do corpo hidratado.
Com essas informações, Kenneth e uma equipe de pesquisadores de Edimburgo e Glasgow se uniram para descobrir como os besouros conseguiram criar esse sistema. Para isso, foi escolhido o besouro vermelho da farinha como objeto de estudo, já que ele tem um genoma acessível e vive em um ambiente seco.
A partir disso, os cientistas compilaram um atlas sobre o inseto chamado de BeetleAtlas, onde eles detalham os estágios de desenvolvimento desse espécime a partir de um sequenciamento de RNA. Com esse material, foi possível comparar a expressão gênica do inseto em diferentes momentos de sua vida.
Um novo gene dos besouros foi descoberto
Com o uso do BeetleAtlas, os pesquisadores conseguiram descobrir um novo gene que tinha uma forte influência no processo de extrair água de alimentos e fezes. O gene foi chamado de NHA1 e é totalmente novo para a equipe.
Kenneth e os pesquisadores encontraram uma proteína que controla a quantidade de NHA1 que o corpo do besouro produzia. Consequentemente, essa proteína também ajuda na produção de células leptofragmas, um conjunto que só é encontrado no reto do besouro.
Dessa forma, a partir de um exame mais detalhado foi visto que essas células desempenham um papel importante na capacidade de extração de água do besouro. Segundo Kenneth, essas células bombeiam sais para os rins do inseto para que assim ela consiga extrair água do ar úmido através de seu reto.
Na pesquisa, a equipe também percebeu que quando o gene NHA1 era desativado, os besouros tinham dificuldade em manter sua hidratação, o que dificultava que eles sobrevivessem em ambientes secos. Isso comprova que o gene é um importante ativo para transportar a água do reto até o restante do organismo do besouro.
Descoberta pode ajudar na preservação de alimentos.
Apesar de não parecer, essa descoberta ajuda a resolver um grande problema alimentício que temos atualmente.
Hoje, toneladas de alimentos são perdidos todos os anos por conta de pragas de insetos. Sendo assim, aprender a como conter a proliferação de besouros em alimentos é fundamental.
“[…] esse conhecimento pode ser usado para desenvolver métodos mais direcionados para combater espécies de besouros que destroem nossa produção de alimentos, sem matar outros animais ou prejudicar os seres humanos e a natureza” relata Kenneth.
