Aves com destreza nas garras compartilham ancestralidade comum, aponta estudo

Daniela Marinho
Imagem: Canva

Uma pesquisa, que abrangeu uma extensa diversidade de mais de mil aves, revelou uma intrigante descoberta: as aves com destreza nas garras empreendem uma gama expandida de atividades – para além do mero ato de subir ou permanecer de pé em seu poleiro – estão intrinsecamente ligadas por uma característica comum.

Esse elo distintivo une-as em um agrupamento taxonômico de aves conhecidas ​​pela característica de possuir um cérebro grande, identificado sob a designação de “aves terrestres centrais”, também referenciado como “Telluraves”. É válido ressaltar que um “clado” é uma terminologia que denota um conjunto abrangente de espécies e que remete a um ancestral compartilhado.

Um estudo curioso e decisivo

Desde papagaios até aves de rapina, aquelas aves que mostram ser habilidosas com suas garras têm um antepassado em comum, de acordo com uma nova pesquisa. O estudo da Universidade de Alberta, publicado na revista Communications Biology, olhou para como as aves evoluíram, especialmente em relação às suas patas.

Os cientistas que estavam curiosos para entender as diferenças entre os cérebros das aves habilidosas e aquelas menos habilidosas fizeram algo interessante: eles pediram a fotógrafos amadores de aves que ajudassem. Como? Eles coletaram milhares de fotos compartilhadas por observadores de aves na internet para entender como algumas aves se tornaram tão boas em usar suas garras.

O principal autor do estudo e neurobiólogo, Cristian Gutiérrez-Ibáñez, disse que as aves evoluíram para ter aves, assim, suas garras não seriam tão úteis. No entanto, algumas espécies mostram uma capacidade mais desenvolvida em utilizar essa parte do corpo.

“As aves usam o bico para manipular objetos, mas é difícil abrir um pote com uma mão só, né? O mesmo vale para quebrar uma noz ou comer ratos. E então, eles começaram a usar a única coisa que restava, que eram os pés. Queríamos entender o que impulsiona a evolução disso”, disse Ibáñez.

Um ancestral compartilhado

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Imagem: iStock

Os resultados sugerem que as aves fizeram um uso aprimorado dos seus pés, não apenas seus bicos, à medida que se ajustaram para agarrar os galhos nas partes mais altas das florestas.

O estudo sugere que há cerca de 60 milhões de anos, quando o antecessor que é a origem desse grupo específico de aves (chamado de “clado”) se “mudou” do chão da floresta para viver nas árvores.

Da mesma forma que as aves de hoje que residem em árvores, as primeiras aves do grupo Telluraves tinham dedos longos que agiam quase como polegares, permitindo uma abertura melhor para agarrar. Eles também tinham tendões nos dedos dos pés que os ajudavam a se segurar com mais força nos galhos.

O estudo descobriu que uma “árvore genealógica” se ramificou várias vezes ao longo das gerações, à medida que as aves se ajustavam para se adequarem ao que comiam ou ao ambiente onde viviam. O estudo encontrou pelo menos 20 benefícios em que essas adaptações ocorreram, à medida que as aves se especializaram ainda mais no uso de seus pés para tarefas como quebrar nozes ou capturar presas.

Tudo começou com as corujas

A princípio, Ibáñez e sua equipe estavam planejando conduzir um estudo em um laboratório no Brasil, focado em investigar as vias neurais de corujas. Contudo, devido à pandemia que interrompeu esses planos e congelou inclusive a entrega das amostras administrativas, a equipe teve que desenvolver uma nova abordagem.

Os cientistas então optaram por analisar uma vasta quantidade de fotografias e vídeos de aves, culminando na seleção minuciosa de 3.725 imagens para uma análise mais profunda.

A pesquisa envolve uma diversidade notável de habilidades entre as aves. No grupo treinado, os papagaios se destacaram como os mais hábeis. Eles melhoraram a capacidade de agarrar objetos, torcer suas garras e até mesmo levar seus pés até o bico para manipulação. Logo após, na escalada de habilidades, vieram as aves de rapina, como as corujas e os abutres.

Algumas aves da família dos corvídeos, como as pegas, demonstraram uma destreza mais limitada, sendo capazes apenas de segurar objetos junto a um galho. Já a maioria das espécies de aves canoras revelou ter capacidade de preensão limitada ou nula.

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