História
Aspásia: a mulher que ensinou eloquência a Sócrates e Péricles

Aspásia de Mileto (470-410 anos AEC – Antes da Era Comum) é mais conhecida como a consorte e acompanhante próxima do grande estadista ateniense Péricles. Ela era uma meteca (pessoa que não nasceu em Atenas) e, portanto, não era permitida casar com um cidadão ateniense e, também, havia de pagar uma taxa para viver ali. Ela deu à luz um filho a Péricles, fora do casamento. Sua vida estava intimamente ligada a ele e, ainda, há grande evidência que sugere que ela era uma mulher formidavelmente inteligente e eloquente, e que influenciou muitos dos importantes escritores, pensadores e estadistas de seu tempo.
Aspásia nasceu em algum momento entre 470 e 460 anos AEC em uma família rica de Mileto(tese adotada por causa das referências demonstradas em seu nível de educação, que sugere que Mileto era um lugar onde mulheres de meios poderiam receber educação mais elevada). Seu nome significa “Saudações” ou “Bem-vindo” e foi sugerido que Aspásia não era seu nome real, mas um nome “profissional”, enquanto ela trabalhava como uma hetera, uma acompanhante de alto-nível. Ela administrou um salão (que seus críticos chamaram de bordel) e uma escola para meninas (também citada por seus críticos como um bordel ou uma casa em que ela corrompia jovens meninas para o prazer de Péricles. Inimigos de Péricles alegaram que sua relação com Aspásia, a meteca e hetera, teria ido tão longe que Aspásia teria “ensinado Péricles como discursar” e que foi a atual autora de seu famoso discurso do funeral. Embora esses ataques não fossem algo que preocuparia ninguém na contemporaneidade, na antiga Grécia isso era um insulto gravíssimo. Nenhum estadista ateniense, nem homem algum, desejaria saber que estava em dívida com uma mulher pelo seu sucesso.
Sócrates, porém, que parecia ter um respeito maior que qualquer outro homem da antiga Atenas com as mulheres, “maravilhou-se com a eloquência dela, e a creditou com a composição do discurso de funeral que Péricles entregou depois das primeiras perdas na Guerra do Peloponeso”, e mais, alegou que ele, Sócrates, havia aprendido a “arte da eloquência” com Aspásia (Durant, 253). Essa declaração é também citada no diálogo Menexenus, de Platão. Mesmo assim, os inimigos conservadores de Péricles continuaram a atacar Aspásia e, através dela, sobre Péricles, alegaram que ela demonstrou desrespeito aos deuses, e acabaram indo tão longe que acusaram-na de impiedade. “No julgamento dela, cuja corte havia 150 juris, Péricles discursou em defesa dela, usando toda sua eloquência, até mesmo chorando; e as alegações contra ela foram recusadas pelo juri” (Durant, 254). Apesar dela ter sito exonerada, Durant continua a apontar que, depois da performance de Péricles na corte a favor de Aspásia, ele começou a perder a confiança do povo de Atenas e, quando, três anos depois, a morte veio a ele, ele já era um homem sem dinheiro. Se esse foi um resultado direto daquela defesa da corte, entretanto, certamente nem todos concordam.
Depois da morte, pela praga, de Péricles em 429 AEC, Aspásia tornou-se companheira de seu amigo Lysicles, quem ela havia transformado de um comerciante de cabras analfabeto a um líder político ateniense. Lysicles foi morto em ação na campanha de Caria em 428/427 AEC e nada mais é sabido de Aspásia depois disso com certeza alguma, nem mesmo sua data de morte. Aeschines (um pupilo de Sócrates) escreveu um diálogo sobre ela, que agora só restam alguns fragmentos a salvo, que parece ter sido um retrato acurado dela, mas Aristófanes, o poeta cômico, a expõe em seu trabalho (como muitos de seus contemporâneos) onde ele chama os amigos dela de “putas de Aspásia” e, geralmente, fala mal dela (Baird & Kaufmann, 62). O escritor Plutarco alega que Aspásia manteve influência indevida sobre Péricles, seduziu ele para entrar na guerra e acusava Péricles de todos os erros cometidos. Outros escritores posteriores, por exemplo, como o retórico Quintilian (35-100 EC) respeitou ela, assim como o satírico Luciano (125-180 EC), os dois citaram ela como uma professora eloquente e inteligente. Luciano a chama de “uma mulher de sabedoria e entendimento”, enquanto Quintilian usou muitos de seus trabalhos para ensinar sobre ela em suas aulas.
Na modernidade, a reputação de Aspásia continuou a ser altamente respeitada e sofreu uma renascença dramática (e, inicialmente, romântica). Walter Savage Landor (1775-1864) publicou seu famoso Péricles e Aspásia em 1836; um trabalho ficcional de cartas entre os dois em que Péricles, erroneamente, morre na Guerra do Peloponeso. Esse trabalho recebeu grande aclamação, e mais tarde inspirou a escritora Gertrude Atherton (1857-1948) a escrever e publicar seu também aclamado romance The Immortal Marriage em 1927, apresentando uma imagem positiva de Aspásia, como uma mulher poderosa e letrada, que fez Péricles ser o grande orador e estadista que foi.

Péricles dá o discurso de funeral em Atenas. Por Von Fulz.
A historiadora Madeline Henry, mais recentemente, escreveu, “Aspásia de Mileto, uma personagem chave na história intelectual da Atenas do quinto século é, sem dúvidas, a mulher mais importante da era”, e argumenta (como Durant e outros também o fizeram mais cedo) que Aspásia foi professora de Sócrates. Ele poderia até ser a personagem modelo de Diotima de Mantineia, a mulher que ensinou a Sócrates o significado do amor. No diálogo de Platão Symposium, em que Sócrates discursa sobre a verdadeira natureza do amor, ele alega que foi instruído no amor por uma mulher que veio a Atenas “dias antes da praga” e que ajudou os atenienses com seus sacrifícios (Baird & Kaufmann, 195). Seja o que for que seus contemporâneos podem ter pensado sobre uma mulher tendo alta influência sobre os homens, a reputação de Aspásia permanece, hoje, como uma pensadora, escritora, e professora de renome com um intelecto tão elevado como os grandes pensadores de seu tempo.
Bibliografia
Atherton, G, The Immortal Marriage (Boni & Liveright, 1927).
Baird, F.E. & Kaufman, W, Ancient Philosophy:Philosophic Classics, Volume I (Prentice Hall, 2008).
Durant, W, The Life of Greece (Simon & Schuster, 1939).
Landor, W.S, Pericles & Aspasia (J. M. Dent And Co., 1890).
Escrito por Joshua J. Mark e traduzido e adaptado por Elisson Amboni da Enciclopédia da História Antiga(Ancient History Encyclopedia)
História
Cemitério da era romana na Inglaterra revela raro enterro em gesso

Arqueólogos em Cambridgeshire, na Inglaterra, descobriram um cemitério da era romana com um método de sepultamento incomum que intrigou especialistas. No centro do local encontra-se um caixão de pedra envolto em gesso líquido, uma prática conhecida dos tempos romanos, mas raramente encontrada na Inglaterra rural.
Técnica única de sepultamento
O gesso foi derramado sobre o falecido, criando um molde rígido que às vezes preserva materiais orgânicos como roupas. Embora os fragmentos de gesso desta sepultura estejam incompletos, eles mantêm impressões da mortalha do indivíduo e um pequeno pedaço de tecido. Este método é predominantemente documentado em centros urbanos romanos, como York, que possui 45 sepultamentos similares em gesso. Descobrir um em uma área rural como Cambridgeshire é incomum.
Jessica Lowther, arqueóloga comunitária da Headland Archaeology, explicou: “Acreditamos que este teria sido um empreendimento caro e, portanto, indica um indivíduo de alto status.” O gesso utilizado foi meticulosamente esculpido e obtido de uma pedreira a aproximadamente 30 milhas de distância, indicando custo significativo tanto na compra quanto no transporte. A localização central da sepultura dentro do cemitério sugere ainda que o indivíduo tinha status de elite ou pertencia a uma família proeminente.
Diversas práticas funerárias descobertas
Durante a escavação, os arqueólogos identificaram 14 sepulturas ao redor do sepultamento central em gesso e mais sete além de uma vala limítrofe. O cemitério apresentava uma variedade de tipos de sepultamento, incluindo sepulturas cistas revestidas com pedras longas, cremações, sepultamentos com decapitação e aqueles com pregos de ferro que sugerem caixões de madeira. Uma sepultura vazia também foi descoberta, aumentando a complexidade do local.
Importantes objetos funerários, como joias, foram encontrados em sepulturas dentro e fora da vala limítrofe. Uma sepultura notável pertencia a uma jovem, com idade entre 16 e 20 anos, que foi enterrada com uma substancial coleção de itens aos seus pés. Estes incluíam brincos de prata, múltiplas pulseiras e anéis de liga de cobre, e uma faixa de prata e placa oval que acredita-se serem partes de um anel de sinete. Lowther sugeriu: “Uma teoria sobre por que ela foi enterrada com este conjunto aos pés em vez de usá-lo é que poderia ter sido destinado ao seu dote.”
Outro local de sepultamento continha os restos mortais de uma criança, adornada com dez pulseiras de liga de cobre, quatro pulseiras de osso, um pente de osso e um par de brincos de prata semelhantes aos encontrados com a jovem mulher. Embora as semelhanças nas joias sejam marcantes, Lowther observou que elas podem refletir o estilo distintivo de um artesão local em vez de uma conexão familiar.
Implicações e estudos futuros
A descoberta deste cemitério ocorreu antes dos trabalhos de expansão de uma rodovia em Cambridgeshire. Datando do período romano na Grã-Bretanha (42 a 410 d.C.), o local oferece valiosos insights sobre os costumes funerários e estruturas sociais da época. Embora nenhum objeto funerário tenha sido encontrado dentro do caixão envolto em gesso, um recipiente de vidro próximo sugere a possibilidade de uma cerimônia de libação, ou brinde, para o falecido.
Especialistas planejam estudar mais detalhadamente os restos mortais para abordar questões sobre a duração do cemitério, seu papel na paisagem circundante e as histórias pessoais dos enterrados ali. “Esperamos desvendar as questões sobre a longevidade do cemitério e como ele se encaixa na paisagem circundante, além de lançar alguma luz sobre as histórias individuais daqueles enterrados aqui”, afirmou Lowther.
História
Manuscrito 512: documento misterioso revela uma cidade perdida no Brasil

Antes de ficar famoso pela série de livros “Sherlock Holmes”, Sir Arthur Conan Doyle escreveu um romance bastante atípico para o seu gênero: “O Mundo Perdido”. O livro relata uma sociedade perdida escondida no interior da floresta amazônica. Contudo, esse tipo de narrativa surgiu por um documento histórico e bastante estranho do nosso país, o Manuscrito 512.
Ainda no século XIX, o Manuscrito 512 apareceu na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e conta a história de um grupo de bandeirantes, liderado por Francisco Raposo, descobre uma civilização escondida no interior do Brasil.
De acordo com o livro, Raposo encontrara uma cidade há muito abandonada com características das cidades Greco-Romanas, com grandes palácios e pátios. Além do mais, atrás de uma cachoeira escondida os exploradores supostamente encontraram minas de ouro que pareciam ter sido exploradas séculos atrás.
Pesquisadores e especialistas acreditam que o documento histórico é provavelmente uma peça fictícia, uma vez que é o único relato conhecido de tal cidade. Além do mais, historiadores acreditam que a história tenha sido motivada pela história de Muribeca.
Este último foi o filho do único sobrevivente de um naufrágio na costa da Bahia com uma indígena que descobriu minas de ouro e prata no Brasil. Contudo, após desavenças com a coroa portuguesa, Muribeca acabou preso e levou o segredo da localização das minas para sua cova.
Uma febre de expedições causadas por esse documento histórico
Como dá para imaginar, a imagem de civilizações perdidas e minas de ouro atraiu, mais uma vez, a atenção da Europa para o Brasil. Assim, na segunda metade do século XIX, exploradores e aventureiros de todas as partes do mundo passaram a visitar o Brasil em busca de tesouros perdidos.
Dois deles, inclusive, ficaram bastante famosos. Primeiramente, o inglês Sir Richard F. Burton, que inclusive publicou o livro “Highlands of the Brazil” em 1869. Em segundo lugar, o coronel Percy Harrison Fawcett, também inglês. Este último, inclusive, desapareceu durante uma de suas expedições à Amazônia.
Outras expedições posteriores ainda buscaram encontrar o coronel Fawcett, todas sem sucesso. Até hoje não se sabe o que aconteceu.
História
A surpreendente civilização antiga que mumificava seus mortos 2 mil anos antes dos egípcios

Quando falamos sobre mumificação, com certeza lembramos dos egípcios. Entretanto, há uma civilização antiga que mumificava os mortos 2 mil anos antes deles. “As mais antigas evidências arqueológicas conhecidas de mumificação artificial de corpos”, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Essa região foi habitada por uma sociedade de caçadores-coletores que considerava os mortos relevantes, em um passado muito distante há 7 mil anos. No final de Julho de 2021, a Unesco reconheceu o valor, incluindo as múmias e toda a área na Lista do Patrimônio Mundial. Esse povoado tem o nome de ‘chinchorro’.
A sociedade que mumificava os mortos habitava a região de Ilo, no Peru, e Antofagasta, no Chile. Mesmo sendo um terreno muito árido, o território criava um fenômeno chamado ressurgência no oceano, por conta dos efeitos da corrente fria de Humboldt.
Com isso, os chinchorro exploravam os recursos marinhos e desenvolveram muitas ferramentas para facilitar a pesca local, como um anzol feito de espinhos de cactos. De acordo com a Unesco, as “ferramentas eram feitas de materiais de origem mineral e vegetal, bem como instrumentos simples feitos de ossos e conchas”.
Sobre a sociedade que mumificava os mortos antes dos egípcios, o Museu Chileno de Arte Pré-Colombiana também se manifestou. “A partir de tumores encontrados nas orelhas das múmias da época, sabe-se que mergulhavam em grande profundidade”, revelaram pesquisadores envolvidos nas análises.
A habilidade para pesca que os chinchorro adquiriram, fez com que eles construíssem assentamentos semipermanentes na foz dos rios que cercavam toda a área. Ainda há poucas informações sobre como se organizavam, mas alguns desconfiam que ao menos trinta pessoas aparentemente tinham laços de parentesco.
Como a sociedade dos chinchorro mumificava os mortos
De acordo com as notícias da Universidade de Tarapacá, no Chile, o processo de mumificação consistia “na extração dos órgãos e vísceras dos mortos por meio de incisões e na sua substituição por vegetais, penas, pedaços de couro, lã e outros materiais’.
Além disso, os chinchorro também removiam o couro cabeludo, a pele do rosto e o cérebro. Após todo o processo, preenchiam o cérebro com pelos de animais, cinzas, argila e terra, mas a maneira em que a sociedade mumificava os mortos não para por aí.
Por fim, modelava-se o rosto e colocavam sobre ele uma peruca feita com cabelos humanos. O corpo era revestido por uma roupa de tecido vegetal e coberto por uma espessa camada de argila. “A cultura chinchorro, contudo, considerava suas múmias como parte do mundo dos vivos, o que explica por que deixavam os olhos e a boca abertos e usavam macas, feitas de fibra vegetal ou pele de animal, para transportá-las”, destaca a Universidade de Tarapacá.
Cerca de 120 múmias estão no acervo do Museu Arqueológico de San Miguel de Azapa, no Chile.
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