Arqueólogos encontram forte que remonta à época de Rei Davi

Felipe Miranda
Uma escavação de um forte próximo ao local onde encontraram o casal.(Yaniv Berman / Israel Antiquities Authority).

Muito da bíblia – a parte não mitológica – ocorreu mesmo. Apesar das alterações feitas com o tempo pela igreja, a bíblia continua, de certa forma, como uma fonte histórica, mas não muito confiável. Agora, os cientistas encontraram um forte que remonta à época de Rei Davi. Provavelmente o forte fazia parte do reino de Gesur, citado em alguns trechos do livro sagrado cristão, aliados do Reino de Israel. Inclusive, Maacah, filha de Talmi, um rei Gesur, foi uma das diversas esposas de Davi.

Datado entre os séculos 11 e 10 AEC, trata-se do assentamento fortificado mais antigo conhecido no mundo. Conforme o The Jerusalem Post, esse período remete à Idade do Ferro. O forte localiza-se nas Colinas de Golã, área montanhosa no oriente médio que tornou-se palco de conflitos entre os sírios e os israelenses. O conflito existe não só por disputas religiosas entre as mitologias cristã e islâmica, mas pela posição estratégica.

Características do forte

“O complexo que expusemos foi construído em uma localização estratégica no topo da pequena colina, acima do cânion El-Al, com vista para a região, em um local onde estava possível atravessar o rio. O C. Paredes de forte de 1,5 m de largura, construídas com grandes blocos de basalto, circundavam a colina.”, diz ao Jerusalem Post Barak Tzin e Enno Bron, diretores de escavação da Autoridade de Antiguidades de Israel. “Na escavação, ficamos surpresos ao descobrir um achado raro e emocionante: uma grande pedra de basalto com uma gravura esquemática de duas figuras com chifres com braços abertos. Também pode haver outro objeto próximo a eles.”

9.אסטלה מבית ציידה. צילום יבגני אוסטרובסקי רשות העתיקות
(Ivgeni Ostrovski / Israel Antiquities Authority).

Essas figuras com chifres assemelham-se a figuras encontradas em Betsaida, capital do Reino Gesur. Os arqueólogos pensam tratar-se de um Culto ao Deus da Lua. Embora aliados de Israel, na época os arameus não seguiam a religião hebraica, mas eram politeístas. Somente séculos depois, então, passaram a adotar o cristianismo.

Novas questões

“No minuto em que os impérios egípcio e hitita são destruídos, há um grande vácuo. Não há historiador que escreva a história da época e voltamos a uma espécie de ‘pré-história’ na qual temos apenas artefatos físicos para basear nossas suposições. Então, vamos para o reino da especulação. É impossível saber o que realmente aconteceu”, diz o consultor científico Ron Be’eri ao The Times of Israel.

Ele diz que há essa ‘pré-história’ nesse momento porque com a queda dos grandes impérios, pequenos reinos e cidades-estado competem pelo poder. Ou seja, não há uma centralização e, portanto, não há muito registros escritos sobre o que ocorria naquela região do Oriente Médio, a não ser por algumas citações, muitas vezes distorcidas, da Torá e do Antigo Testamento da Bíblia.

“O problema é que o texto bíblico não é um documento histórico, mas sim teológico, e foi escrito por linhas de reis que tinham sua própria agenda”, diz Be’eri. Os povos arameus, o que inclui os gesuritas, deixaram ainda menos evidências do que os hebreus da época. 

Para exemplificar, a bíblia cita muito o Rei Davi. No entanto, chegou-se a pensar que ele não existiu na realidade. Uma das únicas evidências reais de que Davi realmente existiu é a Estela de Tel Dã, uma rocha de basalto que menciona uma vitória da ‘Casa de Davi’. Avraham Biran a localizou em 1993 em um assentamento arameu.

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EStela de Tel Dã. (Oren Rozen).

Conforme o Jerusalem Post, os arqueólogos pesquisarão o reino de Gesur se estendia em uma área maior e com um poder maior do que comumente se pensa. Há poucas cidades e poucas construções conhecidas, e o forte que remonta à época de Rei Davi traz ainda mais perguntas do que respostas.

Com informações de The Jerusalem Post e The Times of Israel.

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