Há pelo menos 120.000 anos, humanos e neandertais da Eurásia realizavam o sepultamento de seus mortos. Contudo, na África as evidências desse comportamento são muito mais escassas. Pesquisadores encontraram apenas alguns poucos indícios de rituais de enterro no continente há mais de 50.000 anos.
Todavia, uma nova descoberta acaba de mudar um pouco essa linha do tempo. Arqueólogos encontraram o local de sepultamento de uma criança de três anos. Acontece, ademais, que o enterro aconteceu há 78.300 anos, o mais antigo registrado no continente Africano.
A caverna onde pesquisadores encontraram a ossada chama-se Panga ya Saidi e está localizada no Quênia, na África Central. A três metros de profundidade, por conseguinte, os pesquisadores encontraram o conjunto de ossos parcialmente encoberto. O material estava tão frágil que os pesquisadores precisaram retirar todo o bloco de terra ao redor dos ossos.
Pesquisadores do National Research Centre on Human Evolution (CENIEH), então, executaram análises e reconstruções dos ossos. A datação dos ossos mostrou, então, que essa era a prova mais antiga de um sepultamento no continente africano, sendo de uma criança entre 2,5 e 3 anos de idade.
A criança estava com as pernas próximas ao tórax e as análises mostraram também que seu corpo fora coberto com algum material degradável, como uma manta. Não obstante, a cabeça da criança estava em uma posição incomum, indicando que alguém colocou um travesseiro ou suporte embaixo do crânio.
Sepultamento como parte da cultura humana
Os sepultamentos de humanos e hominídeos pré-históricos são importantes pois indicam as primeiras manifestações religiosas e culturais da nossa espécie. Muitos outros sepultamentos ancestrais apresentam relíquias e símbolos junto com o falecido. Em alguns casos até mesmo animais – possivelmente de estimação – estão presentes nas covas.
Apesar disso, ainda não está claro para os pesquisadores porque a África apresenta tão poucos sepultamentos tão antigos. Isso porque, vale lembra, o continente africano foi o berço evolutivo e cultural da espécie humana. Outros enterros anteriormente encontrados (os mais antigos da lista) também pertenceram a crianças, é importante lembrar.
Assim, os pesquisadores acreditam que esse tipo de sepultamento no continente africano esteja mais relacionado a uma morte precoce e inesperada. Todavia, as evidências ainda são vagas e cientistas precisam ainda de mais indícios para essa conclusão. O falecido ancestral do Quênia recebeu, por fim, o nome de Mtoto – que quer dizer “criança” em suaíli, língua banta da África Central.
O artigo está disponível no periódico Nature.