Antigas ruínas podem ter sido usadas pelos povos da Mesoamérica

Letícia Silva Jordão
Imagem: Wikipedia
Destaques
  • Historiadores e arqueólogos estão mudando a perspectiva sobre as ruínas localizadas no México e América Central, reconhecendo que eram partes ativas das comunidades da Mesoamérica pré-colonial, com relevância espiritual, política e histórica.
  • Antigas ruínas eram alvo tanto da elite quanto dos plebeus, sendo utilizadas para marcar poder, criar rupturas com o passado ou, em momentos de declínio, receber oferendas do cotidiano como cerâmicas e ferramentas de pedra.
  • Pesquisadores estão reconsiderando o uso do termo “ruínas” para descrever essas construções antigas, já que a visão eurocêntrica não abrange a importância e o papel ativo que tiveram nas comunidades passadas e presentes.

Hoje em dia estamos acostumados a chamar construções antigas que não estão sendo utilizadas pelo termo de “ruínas”. Durante gerações, muitos arqueólogos as viam como algo que não tinha importância para o povo que vivia próximo a elas.

Mas hoje, inúmeros historiadores estão começando a mudar sua perspectiva após terem reconhecido que essas ruínas, mais precisamente às localizadas no México e América Central, eram, na verdade, partes ativas das comunidades da Mesoamérica pré-colonial.

À revista Science, a arqueóloga Christina Halperin, da Universidade de Montreal, diz que “as pessoas do passado tinham seus próprios passados” ao analisar a forma como os antigos interagiram com as ruínas que estavam ao seu redor.

Antigas ruínas eram o alvo da elite e dos plebeus

Já faz tempo que historiadores e arqueólogos estudam a relação de monumentos antigos com a cultura dos povos da época. Principalmente porque muitas delas sobreviveram a conquistas e guerras, se mantendo intactas há anos.

Sobre isso, a antropóloga da Universidade de Chicago Shannon Dawdy, disse que em locais colonizados pelos europeus, os colonos e os próprios arqueólogos da época “fingiam que as pessoas que estavam colonizando não tinham uma história real e, portanto, não reivindicavam suas terras”.

Mas, essas antigas ruínas possuíam relevância na época, seja ele espiritual, político ou histórico. Isso fez com que as elites fizessem uso delas visando a manipulação. Um exemplo disso pode ser visto no Rio Viejo.

Aqui, os governantes assumiram o poder em 500 a.C. A partir disso, eles criaram uma oferta elaborada no centro de um antigo complexo que hoje é chamado de Acrópole. Essa oferenda era formada por diversos enterros e animais queimados para indicar sacrifício.

Esses corpos foram enterrados e, acima deles, foram colocados dois monumentos de pedra. Mais ao norte, foram adicionados 3 monumentos de pedra dedicados aos governantes, indicando que eles tentaram se apropriar do local ao adicionar suas imagens.

Já na Guatemala, uma antiga cidade maia chamada Ucanal também pode ter sido vítima do mesmo caso. Aqui, os governantes usaram ruínas para marcar uma ruptura com o passado.

Mas, tem casos também onde quem ocupava as antigas ruínas eram os plebeus. Em El Perú-Waka’ isso pôde ser visto quando a cidade estava perdendo poder e sendo abandonada. 

Nesse cenário, muitas pessoas começaram a oferecer objetos do cotidiano, como cerâmicas e ferramentas de pedra que eram colocadas na escadaria do templo principal da cidade.

O termo “ruínas” pode estar com seus dias contados

O povo maia contemporâneo não via as ruínas como construções para se deixar de lado, mas sim como lugares sagrados com características próprias e que haviam sido habitados anteriormente.

Por conta disso, os pesquisadores estão começando a questionar o uso do termo “ruínas” para descrever essas construções antigas. A visão eurocêntrica os vê apenas como edifícios decadentes, no entanto, eles tiveram um papel ativo nas comunidades passadas e presentes.

Em outros lugares do mundo, como em Yucatec Maya, um sítio arqueológico é chamado de “múul” ou colina, pois montanhas e colinas representam vida em uma comunidade.

Portanto, os arqueólogos estão começando a questionar os pontos de vista ocidentais que antes eram vistos como a única opção de observar o mundo.

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