Anêmona-do-mar-estrela aprende sem cérebro, revela estudo

Elisson Amboni
Nematostella vectensis. Imagem: Marine Biological Laboratory
Destaques
  • Anêmonas-do-mar-estrelas exibem aprendizado sofisticado sem possuir cérebro.
  • Estudo comprova aprendizado associativo em anêmonas-do-mar-estrelas.
  • Descoberta pode expandir pesquisas sobre estrutura da memória em organismos sem cérebro típico.

Em uma descoberta surpreendente, anêmonas-do-mar-estrelas (Nematostella vectensis) provaram ser capazes de aprendizado sofisticado, apesar de não possuírem cérebro.

O neurobiólogo da Universidade de Fribourg, Simon Sprecher, autor principal do estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, comenta que a capacidade desses animais exibirem comportamento complexo é possível graças ao seu sistema nervoso.

Acredita-se que a habilidade de aprender e lembrar informações surgiu à medida que os sistemas nervosos evoluíram. No entanto, nem todos os animais possuem cérebro, como é o caso das anêmonas-do-mar-estrelas e águas-vivas, que contam apenas com uma rede nervosa descentralizada.

Antes desse estudo, pensava-se que esses animais só poderiam aprender de maneiras não associativas.

Para investigar a capacidade de aprendizagem associativa das anêmonas-do-mar-estrelas, Sprecher e sua equipe realizaram experimentos de condicionamento clássico com luz e choque elétrico.

Os resultados mostraram que animais que receberam luz e choque elétrico juntos durante o treinamento adaptaram seu comportamento e reagiram apenas à luz após o condicionamento.

O grupo que recebeu o choque ao mesmo tempo que a luz teve uma taxa de reação de 72% no teste com apenas a luz, mais do que o dobro da taxa de reação (30%) dos animais treinados com choque e luz em momentos diferentes.

A equipe também mediu a extensão das retrações usando um software, descobrindo que o comprimento máximo de retração foi significativamente maior no grupo treinado com choque e luz juntos em comparação com o grupo não pareado.

Ainda não se sabe se os cnidários compartilham os mesmos tipos de neurotransmissores ou neuromoduladores que nós, como a serotonina ou a dopamina. É possível que o aprendizado associativo tenha evoluído independentemente nesses animais.

Os pesquisadores sugerem que essa capacidade de aprendizado dos cnidários é um exemplo de “cognição incorporada” e incentiva investigações sobre a estrutura da memória em organismos que não possuem um cérebro típico.

Sprecher destaca que pouco se sabe sobre o funcionamento do processo de aprendizagem em animais com um sistema nervoso aparentemente simples e afirma que sua equipe possui a estrutura necessária para aprofundar a pesquisa.

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