A NASA vai repensar apelidos discriminatórios para objetos espaciais

Felipe Miranda
A nebulosa NGC 2392, chamada de Nebulosa do Esquimó, termo racista e imperial. (Imagem: NASA/ESA)

No início do mês de agosto, a NASA anunciou que vai repensar apelidos discriminatórios atribuídos a diversos fenômenos e objetos espaciais, e renomeá-los de outra forma.

Isso foi motivo de piada por algumas pessoas na internet, que disseram ser um plano“politicamente correto” exagerado. Entretanto, é necessário. Muitos termos e nomes que utilizamos no dia a dia possuem uma origem racistas, e acabaram por ser normalizados. 

NASA e termos racistas

A NASA já havia causado polêmica no final do ano de 2019 quando alguém percebeu que um asteroide possuía um nome de origem nazista. Isso gerou fervorosas reações contrárias.

Ultima Thule, como chamava-se, é um termo que fora adotado por ocultistas Nazistas. Ele referia-se a uma suposta terra habitada pelos ancestrais germânicos, os arianos. 

Na mitologia criada pelos Nazistas, os arianos seriam a raça pura, fadada a carregar o mundo nas costas e comandar e escravizar os outros povos. Era, em resumo, uma história criada para justificar as barbáries que eles cometiam.

A história dos arianos foi totalmente distorcida pelos nazistas. Os arianos de verdade são os povos que deram origem a alguns povos do oriente médio e a alguns povos Indo-europeus. Os indianos, por exemplo, são alguns dos arianos de verdade. 

Outro exemplo é a nebulosa planetária  NGC 2392, que chamava-se Nebulosa do Esquimó. Esquimó é um termo que passou a ser normalizado, por isso não achamos grande coisa.

Entretanto, o termo esquimó foi forjado dentro do contexto colonial dos americanos. Referia-se de forma pejorativa aos indígenas norte-americanos das regiões mais ao norte, do continente. 

“Galáxia dos gêmeos siameses” é a forma como eles se referiam às galáxias NGC 4567 e NGC 4568, um par de galáxias muito próximas uma da outra, e chegam a fundir suas extremidades. 

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O par de galáxias NGC 4567 e NGC 4568. (Imagem: Judy Schmidt)

“Nosso objetivo é que todos os nomes estejam alinhados aos nossos valores de diversidade e inclusão, e trabalharemos proativamente com a comunidade científica para ajudar a garantir isso”, explica em um comunicado Thomas Zurbuchen.

“A ciência é para todos, e cada faceta do nosso trabalho precisa refletir esse valor”, completa Zurbuchen, que é administrador associado do Diretório de Missão Científica da NASA.

Um movimento que está sendo difundido

O debate em torno do passado e presente racista não só nos Estados Unidos, mas pelo mundo, tem ganhado destaque ultimamente, com o empoderamento das minorias e a percepção do erro pelos grupos mais privilegiados.  Os apelidos discriminatórios são apenas a ponta de um iceberg mais profundo. 

Não é uma atitude exclusiva da NASA. Algumas empresas e projetos de tecnologia também aderiram. O Linux, plataforma de sistemas operacionais de códigos abertos também anunciou algo semelhante

Alguns termos utilizados nos códigos baseados em Linux que possuem uma origem racista serão eliminados, como “blacklist”, “master” e “slave” (lista negra, mestre e escravo, respectivamente).

“Esses apelidos e termos podem ter conotações históricas ou culturais que são questionáveis ​​ou indesejáveis, e a NASA está fortemente comprometida em abordá-los”, diz Stephen Shih, administrador associado da Diversidade e Igualdade de Oportunidades da NASA. 

Antes de zombar do “politicamente correto”, reflita se você mesmo não está sendo racista, caro leitor. “A ciência depende de diversas contribuições e beneficia a todos, então isso significa que devemos torná-la inclusiva”, explica Shih.

Com informações de NASA

 

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