A Austrália está pegando fogo e, mais uma vez, a culpa é nossa

Wesley Oliveira de Paula

A Austrália está pegando fogo, e assim como a Amazônia, nós temos culpa nisso.

Não se engane. Apesar de serem casos diferentes, todos possuem relação com o nosso descaso ao meio-ambiente.

Até esse momento, mais de 500 milhões de animais já morreram – o cérebro humano não evoluiu para entender essa grandeza, então, fazendo uma comparação, 500 milhões de segundos são equivalentes a 15 anos. Além disso, pelo menos 19 pessoas já morreram.

Desde setembro do ano passado as queimadas já são reportadas. Várias pessoas estão desalojadas e praticamente sem local para se protegerem, em alguns vídeos podemos ver pessoas na areia da praia, único lugar realmente seguro do fogo, porém, não da fumaça.

Por que a Austrália está em chamas?

A Austrália tem um clima peculiar comparado a outros países. Além de ser extremamente grande, o país fica abaixo da linha do equador, banhada pelo oceano Índico (à esquerda) e o oceano Pacífico (á direita).

Com tantos fatores é comum que ocorram extremos. Podem ter anos com maior seca, ondas de calor ou inundações. Até mesmo os incêndios são esperados nessa época.

Dois fatores são importantes para identificar esses extremos ocasionais. O Dipolo do Oceano Índico (DOI) e o Modo Anular Sul (MAS)

O DOI mede a diferença de temperatura entre as metades leste e oeste do oceano. No caso e um valor positivo, pode-se esperar uma menor quantidade de chuva no centro e no Sul. Quando negativo, espera-se mais chuvas.

O MAS tem relação com uma corrente de ventos em volta da Antártida. Quando negativo, a pressão atmosférica no sul da Austrália é maior, isso gera uma seca no ambiente. Caso seja positiva existe o aumento de chuvas.

Nesse momento, o DOI é positivo e o MAS é negativo, nessa configuração, as duas variáveis favorecem a seca. Algo raro porém possível, mas tudo se intensificou com o aumento de temperatura média dos oceanos, que também gerou, por si só, uma onda de calor no país que já vinha enfraquecendo a vegetação local.

O que tenho a ver com isso?

Assim como no texto sobre as queimadas na Amazônia – A amazônia morrerá! E a culpa é nossa -, mais uma vez fica claro que nossa relação abusiva com o meio ambiente terá consequências. É uma resposta a altura, já evidenciada por nós cientistas por tempo suficiente para que governos tomassem atitudes.

A Austrália teve uma dupla quebra de recordes de temperaturas diárias. Foram 40,8ºC e 41,8ºC, agravando mais a situação, foram três invernos seguidos com baixo índice de chuvas junto a aridez prolongada.

Só em 2019, o país teve um aumento de 1,5ºC na média histórica, de acordo com o departamento de meteorologia.

O que tem ocorrido nesses casos são provenientes de um aumento de 1ºC na temperatura média do planeta, levando em conta que o esperado é de 2,5 (sendo extremamente cauteloso) até o final do século, podemos imaginar que os problemas maiores ainda estão por vir.

Política e meio ambiente

Diferente do que ocorre no Brasil, nesse momento é possível ver um descontentamento da maioria com o governo da Austrália, mas não apenas com o governo atual, tanto os opositores quanto o partido atual estão sendo duramente criticados por não darem devida atenção ao meio ambiente.

O primeiro-ministro, Scott Morrison, viajava curtindo suas férias enquanto voluntários se arriscavam em meio ao fogo. Ao notar as críticas, decidiu voltar ao país e como qualquer político, foi dar o famoso passeio em meio aos destroços.

Um vídeo mostra que durante o passeio por uma das cidades, o primeiro-ministro foi praticamente expulso pelos moradores, deixando claro a indignação com a falta de ação e intenção real.

FONTES / New York Times / The Guardian / Insider / Bureau Meteorology

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