Como um fungo pode ser uma ferramenta promissora no combate a uma praga invasora? De acordo com um estudo publicado na revista científica PNAS, a praga conhecida como mosca-lanterna (lanternfly) conseguiu se alastrar da Ásia para a Pensilvânia, Virgínia, Nova Jersey, Delaware e Maryland em apenas cinco anos, causando danos a plantações e propriedades ao longo do caminho. No entanto, os investigadores acreditam que um par de fungos nativos pode ser uma ferramenta valiosa no controle desses insetos invasores.
Mosca invasora pode ser combatida por fungos
Um grupo de entusiastas pela Universidade de Cornell identificou recentemente dois fungos norte-americanos, Batkoa major e Beauveria bassiana, que podem ser utilizados como inimigos naturais da mosca-lanterna. O Batkoa major, em particular, é capaz de controlar a mente do inseto parasitado, obrigando-o a subir em uma árvore ou videira, onde suas fibras fúngicas o prendem em seu local de descanso final, permitindo que os esporos saiam do corpo do inseto e infectem outros insetos abaixo.
Os pesquisadores acreditam que esses fungos podem ser usados para controlar a população da mosca-lanterna e, assim, reduzir os danos às plantações e propriedades. Além disso, o Beauveria bassiana já é um ingrediente aprovado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos em alguns biopesticidas.
As autoridades agrícolas da Pensilvânia descobriram os fungos pela primeira vez em 2017, quando moscas-lanterna mortas foram encontradas cobertas por uma penugem branca em áreas florestais do condado de Berks. As amostras foram enviadas para o laboratório de Cornell, onde os investigadores conseguiram cultivar os esporos dos fungos, extrair o DNA e identificar as espécies por meio de testículos moleculares.
A descoberta desses fungos é um passo importante no controle da mosca-lanterna, uma praga que causa sérios danos a plantações e propriedades em várias regiões dos Estados Unidos. A identificação desses fungos como inimigos naturais da mosca invasora oferece a possibilidade de controlar a população desses insetos sem o uso de pesticidas químicos prejudiciais ao meio ambiente.
Eric Clifton, pós-doutorando em Cornell e coautor do estudo, disse que “Ficamos chocados ao ver esse nível de mortalidade. Essas infecções que ocorrem naturalmente podem se mover através deles como um maremoto […] Estava muito claro que havia algum tipo de doença, mas por um ou dois meses não tínhamos ideia do que era.”
Costumes desconhecidos
Os encarregados de lidar com a mosca invasora enfrentam o desafio de não saber como a praga vive, morre, come e se reproduz. Contudo, vários experimentos foram realizados para entender melhor o comportamento da mosca-lanterna. Os cientistas estudam sua composição genética e o padrão de voo do inseto, além de tentar interromper seu acasalamento usando feromônios e proteger as plantações com inseticidas. Esses experimentos foram importantes para desenvolver estratégias de controle mais eficazes e seguras para a praga invasora.
A situação é ainda pior em se tratando da alimentação da mosca invasora, pois ela se alimenta de praticamente tudo. A alimentação da mosca invasora produz um líquido doce e pegajoso chamado melada, que se espalha por pátios, decks e plantas, incentivando o crescimento de um mofo prejudicial às plantações.
Ademais, a alimentação constante do inseto enfraquece as plantas, tornando-as mais suscetíveis a doenças, outros insetos e condições climáticas adversas, como o frio intenso no inverno. Esses efeitos negativos da presença da mosca invasora nas plantações podem ter consequências graves para a agricultura e o meio ambiente.
Esperança fúngica
O estudo recente pode oferecer um exemplo oposto: enquanto os insetos norte-americanos tiveram milhares — senão milhões — de anos para se adaptar a viver em conjunto com os fungos, a mosca-da-lanterna parece ser particularmente vulnerável a eles.
Embora não se espere que esses fungos matem todas essas moscas, há uma esperança de que os a praga seja diminuída parcialmente devido à ação dos fungos. Com isso, os pesquisadores esperam ver mais exemplos dessa diminuição da população das moscas invasoras ao longo deste ano.
