O que este peixe faz pra impressionar uma fêmea é inacreditável

Diógenes Henrique

Em 1995, mergulhadores notaram um belo e estranho padrão circular no fundo do mar do Japão, e logo depois, mais círculos foram descobertos nas proximidades. Alguns compararam essas formações com “círculos de culturas subaquáticas”. Essas formações geométricas vieram e desapareceram misteriosamente e, por mais de uma década, ninguém sabia o que ou quem as fazia. Finalmente, o criador destas formações notáveis foi encontrado: uma espécie recentemente descoberta de baiacu, cientificamente identificada por Torquigener albomaculosus. Estudos posteriores mostraram que esses pequenos peixes fazem os círculos ornamentados para atrair companheiras. Os machos trabalham laboriosamente suas aletas enquanto nadam ao em círculos próximo ao fundo do mar, tendo por resultado o sedimento desenhado e os padrões circulares surpreendentes. Embora os peixes têm apenas cerca de 12 centímetros (5 polegadas) de comprimento, as formações que eles fazem medem cerca de 2 metros (7 pés) de diâmetro.

Quando os desenhos circulares estão terminados, as fêmeas vêm inspecioná-los. Se elas gostam do que veem, elas acasalam com os machos, disse Hiroshi Kawase, curador da filial costeira do Museu e Instituto de História Natural em Chiba, no Japão. Mas ninguém sabe exatamente o que as fêmeas estão procurando nesses círculos ou quais traços elas acham desejável, Kawase disse à LiveScience.

Obras de arte

O acasalamento de baiacu japonês envolve fêmeas que colocam ovos nos sedimentos finos no centro dos círculos, e os machos os fertilizam externamente. Então, as fêmeas desaparecem, e os machos permanecem por mais seis dias, talvez para proteger os ovos, observou o estudo.

Os machos de algumas espécies de ciclídeos (um tipo de peixe) são conhecidos por construírem montículos em forma de cratera que as fêmeas os visitam para ter seus ovos fertilizados, disse Kawase. Por exemplo, os featherfin cichlids (nome científico Cyathopharynx furcifer) machos no Lago Tanganica, na África, constroem pequenas tigelas na areia e as exibem para as fêmeas antes do acasalamento, disse Alex Jordan, um pesquisador da Universidade do Texas, em Austin, que não estava envolvido neste estudo.

Um baiacu macho que faz um vale no fundo do mar com suas nadadeiras em 23 abril de 2012. Crédito: K. Ito
O pequeno artista durante a execução de sua obra: o baiacu macho faz uma forma circular com sedimentos no fundo do mar usando suas suas nadadeiras.

Mas os padrões geométricos do peixe-marinho japonês têm três características nunca vistas antes. Primeiro, eles envolvem cumes e vales radialmente alinhados fora do local do ninho. Em segundo lugar, o macho decora estas cristas com fragmentos de conchas. Em terceiro lugar, o macho reúne sedimentos finos para dar à formação resultante uma aparência e um colorido distintos, disse Kawase.

Curiosamente, o macho reúne os sedimentos finos usando o próprio padrão circular, disse Kawase. Em um teste de dinâmica de fluidos usando um modelo de metade do tamanho de um desses círculos descobriu-se que a porção a montante do círculo direciona a água e os sedimentos finos em direção ao centro. E os picos e vales a jusante canalizam a água para fora. A velocidade da água foi reduzida por quase 25 por cento no centro, onde os ovos são colocados, observou o estudo.

Os pássaros-cetim do mar

Leva cerca de sete a nove dias para o baiacu T. albomaculosus construir as suas mandalas no fundo do mar. Os baiacus machos não conseguem manter essas formações por muito tempo, e as correntes subaquáticas as desmancham relativamente rápido. Kawase disse que eles provavelmente desistem de suas antigas formações porque os círculos de esgotam os sedimentos finos na área e, assim, deve ser construído de um novo em áreas com sedimento fresco.

Quando Jordan ouviu pela primeira vez sobre os círculos, ele supôs que um peixe muito maior poderia tê-los feito. O fato de que um animal tão pequeno faz uma formação tão grande é “muito legal, e sugere alguma razão biológica subjacente para o tamanho, como visibilidade pobre em profundidade, ou distância entre indivíduos que significa que os machos têm que fazer grandes ninhos para ser encontrado pelas fêmeas,” ele afirmou ao LiveScience.

A pesquisa descrevendo as formações do baiacu janponês foi publicado no periódico Scientific Reports. “É um estudo limpo e agradável porque fornece uma resposta definitiva à pergunta — algo que é muito raro na biologia,” disse Jordan.

As formações são muito semelhantes aos chamados “bowers” — lugares construídos por vários animais como “bowerbirds” ou pássaros-cetim ou santins-azuis (Ptilonorhynchus violaceus) onde exibem suas habilidades decorativas antes do acasalamento.

Neste caso, as formações podem apenas servir para recolher sedimentos finos, que as fêmeas podem usar para escolher o seu companheiro, disse Jordan. Mas até que essa ideia seja testada, ninguém saberá. “A única observação que faço é que não há evidências de que as fêmeas se preocupem com nada além da areia fina, e até mesmo isso é um exagero”, disse Jordan. “As belas linhas e estrutura poderiam servir apenas para canalizar essas partículas para o centro, e não têm finalidade estética.”

Embora Jordan tenha dito que ele não acha que esse seja o caso, a ideia de que os sedimentos finos sejam importantes para as fêmeas seria “biologicamente interessante, porque sugeriria que a função é mais importante do que a aparência”, ele disse.

Compartilhar