Você usará roupas que vão se auto-regenerar em breve

Damares Alves
Imagem: Angela Hoitink/Karin Vlug/Jeroen Dietz

Pesquisadores das Universidades de Newcastle e Northumbria, no Reino Unido, fizeram uma descoberta surpreendente: fios finos produzidos por fungos podem ser utilizados como material biodegradável e vestível, com a capacidade de se reparar sozinho!

O fungo Ganoderma lucidum foi o foco dos estudos, que resultaram na produção de uma “pele” a partir de filamentos ramificados chamados hifas, entrelaçados em uma estrutura conhecida como micélio. Com mais aprimoramentos, essa pele frágil poderá substituir o couro, agradando aos gostos veganos, ambientais e de moda.

Os cientistas afirmaram que os materiais miceliais podem sobreviver em ambientes secos e oligotróficos e, com intervenção mínima, se regenerar após um período de recuperação de dois dias. Materiais à base de micélio já estão presentes em diversos campos, como construção civil e têxteis. Entretanto, o processo de produção geralmente mata os clamidósporos – esporos de fungos responsáveis pela regeneração do organismo.

Uma nova abordagem envolveu a mistura de micélio, clamidósporos, carboidratos, proteínas e outros nutrientes em um líquido, incentivando o crescimento da pele que poderia ser removida e seca. Ainda que os resultados sejam finos e delicados, os pesquisadores estão confiantes de que futuras inovações permitirão a criação de uma pele mais resistente.

O processo de produção atual não mata os clamidósporos, que podem ser revividos para cultivar hifas frescas sobre brechas na pele. Testes mostraram que o material é capaz de substituir os furos feitos nele, se for colocado em condições semelhantes às de seu cultivo. Embora ainda seja possível ver onde estavam os buracos, o material se mostrou tão resistente quanto antes.

Os pesquisadores afirmam que a capacidade regenerativa desse material micelial abre perspectivas interessantes para aplicações em substituições de artigos de couro, como móveis, assentos automotivos e moda sustentável.

A equipe também testou o fungo Pleurotus ostreatus, que não possui clamidósporos, e constatou que ele não foi capaz de se autocurar da mesma maneira, comprovando a importância dos clamidósporos na regeneração do material.

Há um longo caminho a percorrer antes que roupas feitas de fungos se tornem realidade. Os processos de crescimento e cura ainda levam vários dias, algo que pode ser aprimorado com o tempo. No entanto, esses são tempos interessantes para os chamados materiais vivos projetados (ELMs), que, por possuírem células vivas, são capazes de se adaptar ao ambiente e podem ser ajustados de diversas maneiras.

Os cientistas ressaltam que os ELMs, compostos inteiramente de células fúngicas, oferecem um potencial significativo devido às suas propriedades funcionais, como automontagem, sensoriamento e autocura.

A pesquisa foi publicada na revista Advanced Functional Materials, e certamente traz uma visão entusiasmante sobre as possibilidades de inovação no mundo da moda e da sustentabilidade. Estamos ansiosos para ver o que o futuro nos reserva!

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