Sangue de límulo para vacina contra a Covid-19 causa polêmica

Felipe Miranda
Retirada do sangue do caranguejo ferradura. (Créditos da imagem: Business Insider).

A produção de uma vacina é um processo delicado, já que precisamos evitar que substâncias injetadas no nosso corpo sejam mais prejudiciais que a própria doença que estamos tentando eliminar.

Em vacinas contra o coronavírus e outras doenças, um produto utilizado está causando polêmica. Muitas empresas farmacêuticas estão utilizando sangue de límulo, também conhecido por caranguejo-ferradura.

Não só para a Covid-19, mas há décadas outras drogas injetáveis são testadas com ele, pois ele coagula rapidamente na presença de endotoxinas, uma substância bacteriana. As endotoxinas, mesmo que as bactérias tenham sido mortas, podem causar graves efeitos na saúde e levar até mesmo à morte.

A polêmica, no entanto, é o uso do animal. 50 mil límulos morrem anualmente pela coleta de sangue – que pode ter sido até aumentada em 2020, pela corrida em busca da vacina para o coronavírus. O sangue é retirado e o animal é liberado de volta ao habitar. No entanto, além do sofrimento, nem todos resistem.

E, para acrescentar, eles estão ameaçados de extinção. As causas variam: pela utilização de seu sangue, pela caça, poluição, perda do habitat e pelo aumento do nível do mar, causado pelo aquecimento global.

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O límulo. (Créditos da imagem: Pixabay)

Substituição

Ambientalistas e defensores dos animais estão criticando duramente a utilização desse sangue, defendendo a substituição dele pelo uso de algum substituto sintético.

A farmacopéia americana, mantida pela organização United States Pharmacopoeial Convention, vinha relatando testes promissores com um substituto sintético, chamado rFC (Fator C Recombinante). Recentemente, entretanto, eles anunciaram que o produto requer mais estudos, apesar dos 30 anos de testes disponíveis. Outra farmacopéia, a europeia, aprovou a ampla utilização do rFC.

As empresas farmacêuticas, apesar dos bons resultados, apresentam uma resistência grande. No entanto, uma empresa específica, Eli Lilly, resolveu testar o novo meio.

Recentemente, a empresa passou a utilizar apenas o rFC para os testes de pureza, incluindo um anticorpo para a Covid-19. Segundo eles, a mudança foi feita pela qualidade do produto, dos menores custos e da possibilidade da não exploração de animais.

Ao New York Times, Ryan Phelan, chefe da ONG Revive and Restore, disse que “é uma loucura fazer depender de um extrato de animal selvagem durante uma pandemia global”.

Com a pandemia, a rFC ganhou maior destaque, pois é necessária uma grande quantidade de algum teste de pureza para atender à grande demanda, difícil de ser suprida com derivados animais.

Outras fornecedoras, no entanto, pouco ligadas ao movimento de Cruelty-Free (movimento internacional em defesa dos animais), defendem que o suprimento do límulo é adequado para lidar com a demanda, sem dificuldades.

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