Rei Henry VIII planejou a decapitação de sua esposa, Anne Boleyn

Felipe Miranda
A gravura registra a execução de Anne Boleyn. (Reprodução)

Em 19 de maio de 1536, Anne Boleyn (ou Ana Bolena, na mania portuguesa de traduzir nomes), subiu ao cadafalso (uma espécie de palanque) e se ajoelhou, entregando-se à morte. Naquele momento, com um único golpe de uma espada do carrasco, foi assassinada à mando do rei, seu marido. Mas uma reportagem recente do The Observer,  jornal associado ao The Guardian,  traz novos documentos à tona que explicam alguns detalhes por trás do assassinato.

A corte condenou Anne por adultério, condenada 17 dias antes de sua execução, oficialmente retratada como incapaz de controlar os “desejos carnais”. Embora tenha negado as acusações, a execução ocorreu. 

No entanto, é praticamente um fato inquestionável de que tratou-se de uma armação. Boleyn não deu um filho a Henry VIII – não por vontade ou por esterilidade. Na verdade, eles tiveram uma filha, a Elizabeth I. Mas Henry desejava um homem. O rei se casou seis vezes em busca de um herdeiro para o trono. Acredita-se, ainda, que o primeiro ministro do rei, Thomas Cromwell, conspirou e influenciou o rei a tomar a atitude. 

Mas Anne Boleyn sempre causou polêmica, ao lado do rei. Ela foi sua segunda esposa. O Papa não deixava Henry divorciar-se e casar-se novamente, e excomungou o rei. É nesse contexto que a Igreja Anglicana (o catolicismo inglês), separa-se de Roma. E até os dias de hoje, o Anglicanismo não se subordina ao Papa.

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(Wikimedia Commons).

O rei planejou tudo

Nos Arquivos Nacionais da Inglaterra, há diversos documentos relacionados à Casa de Tudor – a Casa Real a qual pertenceu Henry VIII. Uma passagem específica, sempre ignorada, se revelou útil. O rei dizia que, apesar da condenação da rainha à morte, sentia pena da forma como ocorreria a execução – através da queima. Querendo poupá-la de muita dor, portanto, o rei estipulou: “Nós, entretanto, ordenamos que […] a cabeça da mesma Anne seja […] cortada”. Mas claro que o rei não era “bonzinho” – afinal, assassinou sua esposa sem motivo algum.

Além disso, o rei especificou o corte da cabeça – o que implica necessariamente em uma espada. Um machado necessitaria de diversos golpes (imagine a dor). A espada é mais afiada, e o processo é mais rápido. Não sabe-se, no entanto, se a ordem tinha como intuito dar-lhe uma morte mais digna, ou fazer referência à França, local onde a rainha passava algum tempo. 

“Como um documento até então desconhecido sobre um dos eventos mais famosos da história, é realmente pó de ouro, uma das descobertas mais emocionantes dos últimos anos”, disse ao Observer Tracy Borman, uma importante historiadora britânica especialista na Casa de Tudor. “O que mostra é a maneira premeditada e calculista de Henry. Ele sabe exatamente como e onde quer que aconteça”.

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Henry VIII. (Wikimedia Commons).

E Anne Boleyn não foi a única assassinada. Em 1542, a quinta esposa de Henry, Catherine Howard, foi também executada, sob a acusação de adultério.

Nada como o planejado

Mesmo com as claras instruções de Henry, no entanto, a execução não ocorreu à risca, por diversos imprevistos. Embora tenha ocorrido com uma espada, o local foi diferente, além de outros diversos detalhes mais específicos. A execução ocorreria em Calais, na França, por um espadachim. A execução por espada era comum na França, mas não utilizada na Inglaterra. No entanto, ocorreu no Waterloo Block. Existe também, um mito de que ocorreu na Tower Green, em Londres.

“Por conhecermos a história tão bem, esquecemos como foi profundamente chocante executar uma rainha. Eles podem muito bem ter tido um frio na barriga e pensado em não fazê-lo. Então, este é o Henry se certificando disso. Durante anos, seu fiel conselheiro Thomas Cromwell levou a culpa. Mas isso mostra, na verdade, que é Henry puxando os cordões”, explica Tracy Borman. 

Com informações de The Observer (The Guardian) e Smithsonian Magazine.

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