Recentemente foi anunciado que Halle Bailey, de Chloe x Halle, fará o papel principal de Ariel no próximo remake do clássico filme de animação da Disney, A Pequena Sereia.
dream come true… 🧜🏽♀️🌊 pic.twitter.com/sndjYUS6wO
— chloe x halle (@chloexhalle) July 3, 2019
Parece uma excelente ideia: quem melhor que uma cantora indicada ao Grammy para um papel que exige tanto canto?
É claro que muitas pessoas concordaram e discordaram sobre se uma criatura mitológica metade mulher, metade peixe deveria ser representada por uma atriz negra ou não. O que é bem comum já que as pessoas utilizam as redes sociais para debaterem as mais variadas ideias. Porém, nos últimos dias vêm crescendo uma enorme onda de discursos de ódio e ataques racistas disfaçados de opiniões.
Logo muitos começaram a tentar usar a “ciência” para tentar justificar por que o personagem deveria ser branco.
“Sereias vivem no oceano. Subaquático = luz solar limitada. Luz solar limitada = menos melanina. Menos melanina = cor de pele mais clara”, um twittou. “Porque elas vivem debaixo d’água, que não tem acesso à luz além de uma certa profundidade, Ariel e todas as outras sereias existentes seriam albinas.”
“Corrija-me se estiver errado”, escreveu outro. “Mas não é fisicamente impossível para Ariel ser negra? Ela mora debaixo d’água, como o sol a levaria a produzir melanina? Ninguém pensou nisso…?”
Aplicar a ciência em sereias é uma ideia bastante boba. Vistos que elas são apenas contos e não criaturas de fato biológicas. E a ciência que vem sendo usada, é uma má ciência. Péssima na verdade, vem sendo usada para apoiar o racismo, para ferir e magoar pessoas.
E os argumentos utilizados são tão cômicos quanto errôneos, já nem todas as criaturas do mar são brancas. Os peixes arco-íris não são brancos. Orcas não são (completamente) brancas. Até mesmo os peixes brancos são principalmente pretos, marrons e verdes.
Os peixes-boi, os animais em que se baseiam os mitos das sereias, também não são brancos, são um tipo de cinza acastanhado.
Algumas pessoas argumentaram que o elenco com atores negros ia contra o folclore tradicional. “No entanto, o folclore de sereia existe há muito tempo em todo o mundo e, como todo o folclore, é um espelho de cada sociedade, daí o retrato dessas criaturas míticas ter uma variedade de cor de pele, caudas, e poderes muito antes da criação da pálida ruiva cantarolante em 1989.” Afirma a Folclorista Sasha Coward ao site IFLScience.
Ela também desmente vários e vários argumentos em sua conta no twitter.
Let’s start with Africa. Mami Wata are water elementals, mainly (but not exclusively) female. They are powerful, proud and in some traditions in the American diaspora still deified. They are depicted today as mermaids or as half serpent. (@HornimanMuseum have some great examples) pic.twitter.com/LcQpLwyLoU
— Sacha Coward (@sacha_coward) August 10, 2018
Para muita gente uma história sobre um mítico Tritão lutando com uma bruxa marinha com pernas de polvo, com a ajuda de um caranguejo cantor faz muito mais sentido que uma Ariel negra.