Por que esta notável civilização antiga foi negligenciada pela história?

Erik Behenck
Um foto do Templo de Soleb, do século 14 a.C. Foto: Matt Stirn.

O Egito é um país conhecido pelas pirâmides, mas elas não estão sozinhas lá. No Sudão existem construções tão antigas quanto no lá. Ali, uma notável civilização, praticamente esquecida, floresceu. Mas por que quase ninguém a conhece?
As pirâmides de Meroe, símbolo dessa antiga civilização, chegam a medir 30 metros. Nas escolas costumam ensinar sobre a história do Egito, da Mesopotâmia, Grécia e Roma, mas o território da Núbia, é praticamente esquecido pelos professores e livros didáticos. Essas estruturas que são consideradas Patrimônio Mundial da Unesco desde 2011, chamam atenção pelo estilo íngreme e por ser dedicada não somente a realeza.
Esse foi um reino que dominou a região envolvendo a primeira catarata do Nilo, ao sul do Egito, entre 2500 a.C e 300 d.C. Conhecidos como Kush, uma palavra bíblica que representava o filho de Ham e neto de Noé, dos quais os descendentes habitavam o nordeste da África, segundo a tradição.

Kush, uma civilização notável que dominou o Egito

No começo do século 20, o egiptólogo de Harvard, George Reisner, ao ver as ruínas do assentamento núbio de Kerma, declarou que o local era um posto avançado do Egito. Entretanto, escavações feitas na metade do século passado mostraram que a cidade de Kerma tinha estruturas datadas de 3000 a.C. Inclusive, o reino chegou a rivalizar e ultrapassar o Egito em alguns períodos.
O reino Kush comercializava marfim, ouro, bronze, ébano e escravos, ganhando fama por sua cerâmica esmaltada azul e seu vermelho em forma de tulipa polido. Então, tempos depois, o arqueólogo suíço Charles Bonnet desafiou o pensamento de Reisner, mas ainda levou 20 anos para que os egiptólogos aceitassem o seu argumento.
“Arqueólogos ocidentais, incluindo Reisner, estavam tentando encontrar o Egito no Sudão, não o Sudão no Sudão”, disse Bonnet. Por volta de 1500 a.C. os faraós marcharam para o sul, e quando conquistaram Kerma, estabeleceram fortes e templos, incorporando a sua cultura na região.
O domínio egípcio continuou na região até o século 11 a.C. e conforme a potência recuava, seu império perdia força e os novos reis kushitas ganharam espaço na cidade de Napata. Inclusive, o terceiro rei de Napata, Piye, marchou rumo ao norte, derrotou os egípcios e estabeleceu a 25ª Dinastia do Egito, os chamados Faraós Negros.

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O que levou à queda do reino?

Taharqa, um dos filhos de Piye, foi mencionado na bíblia hebraica como aliado do rei Ezequias de Jerusalém, mudou o cemitério real para Nuri e ordenou a construção de uma pirâmide para si, a maior erguida em homenagem aos reis kushitas. Além disso, o governo dos Faraós Negros durou quase um século, quando Taharqa perdeu o poder no Egito.
A cidade de Napata fazia parte de várias rotas comerciais importantes, com riqueza em ferro e outros metais, sendo uma ponte da África com o Mediterrâneo. A partir do século 6 a.C. passou a ser repetidamente atacada por egípcios, persas e romanos, quando os reis decidiram levar a capital até Meroe.
O poder de Kush seguiu até o século 4 d.C. e os historiadores possuem diferentes explicações para isso. Alguns citam a fome e outros a seca causada pelas mudanças climáticas, assim como a ascensão de uma civilização rival, onde hoje fica a Etiópia.
Essa civilização notável deixou contribuições importantes para o mundo, embora nem tudo seja reconhecido hoje em dia. Mas, a instabilidade política do Sudão atrapalha a realização de pesquisas científicas para mostrar a riqueza deixada por este povo.
Com informações de Smithsonian Magazine.

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